Sob sol e em festa, Londres enfim entrou no clima olímpico
O frio e a chuva foram embora, um atleta britânico fez a torcida vibrar e governo respirou aliviado após uma semana dura. E o clima festivo finalmente apareceu
“Enquanto a contagem regressiva diminui e a temperatura sobe, é hora de deixar de lado todo o nosso tradicional ceticismo para começar a apoiar de vez a Olimpíada”, pediu um ministro
Não é qualquer coisa que deixa um londrino animado. A famosa fleuma britânica, porém, não resistiu a uma rara conjunção de fatores que desencadeou uma avalanche de entusiasmo da cidade olímpica no fim de semana que antecedeu a abertura dos Jogos. Assim, Londres entra na reta final dos preparativos para a Olimpíada em clima de euforia – talvez não entre todos os moradores da capital, mas certamente entre os organizadores do evento. O prefeito Boris Johnson, por exemplo, assegurou que nenhuma outra sede olímpica esteve tão pronta para receber os Jogos. Há muita confiança também na parte esportiva: o presidente do Comitê Olímpico Britânico, Colin Moynihan, afirmou que o país jamais teve uma delegação tão forte e bem preparada. Os atletas concordam: uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira pela rede BBC revela que seis em cada dez atletas britânicos acham que o país ficará pelo menos em terceiro lugar no quadro de medalhas, posição que não conquista desde Antuérpia-1920. Na sondagem, a modalidade em que os britânicos mais apostam é o ciclismo. Não por coincidência, uma das causas da onda de otimismo na cidade foi justamente a conquista da Volta da França por Bradley Wiggins, no domingo. É a primeira vitória britânica na prova, que já existe há mais de um século. Para muitos, foi a maior conquista esportiva individual do país. Por fim, não se deve esquecer da virada radical das condições climáticas nos últimos dois dias. Depois de semanas de céu fechado, garoa insistente e frio incomum para a estação, Londres vive dias de sol forte e temperaturas em alta – nesta segunda-feira, a previsão é de que os termômetros batam nos 30 graus.
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O domingo quente levou multidões aos parques e praças da cidade – que, pela primeira vez, teve lojas abertas em horários estendidos para atender aos turistas. Na Grã-Bretanha, é proibido manter uma loja aberta aos domingos por mais de seis horas, entre as 10h e as 18h. Essa restrição foi suspensa por causa dos Jogos, e o comércio foi autorizado a abrir as portas das 11h às 21h. Resultado: caixas registradoras ainda mais recheadas numa das capitais de consumo da Europa. O novo e gigantesco shopping center Westfield, vizinho ao Parque Olímpico, foi um dos grandes beneficiados. Os Jogos, aliás, têm sido encarados como uma chance preciosa de fazer Londres remar contra a maré da crise europeia. Para Boris Johnson, é a hora de colher os frutos de sete anos de pesados investimentos. “Vamos vender essa cidade para o mundo”, disse o prefeito. “Antes mesmo da abertura, os Jogos já são responsáveis por um fluxo de capital fantástico na cidade. Eu desafio quem criticou a realização da Olimpíada aqui a dizer hoje que o evento não trouxe benefícios econômicos à cidade.” Nesse mesmo tom, a primeira página do jornal The Independent anunciava em sua edição dominical: “Sejam bem vindos à capital do mundo”. O diário lembra que a Olimpíada não trará apenas atletas à cidade – trata-se de uma chance de ouro em todas as áreas, dos negócios à diplomacia, da economia às artes e espetáculos. A partir desta semana, chegam à cidade celebridades (como Brad Pitt, Angelina Jolie e Nicole Kidman), líderes corporativos (Eric Schmidt, do Google, e Jonathan Ive, da Apple) e autoridades (mais de 100 chefes de estado e de governo, incluindo a presidente Dilma Rousseff). Atenas-2004 recebeu só 48 líderes. Pequim-2008, pouco mais de 80.
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O primeiro-ministro David Cameron (que, na manhã desta segunda, recebeu Boris Johnson para fazer um balanço dos últimos preparativos), vem tratando a Olimpíada como “um momento único e decisivo” para o futuro do país. No decorrer desta semana, o governo britânico divulgará dados oficiais do crescimento de seu PIB. Acredita-se que a taxa de expansão a ser anunciada é modestíssima. Assim, Cameron aposta todas as suas fichas na Olimpíada para alavancar a economia e estender ao máximo os efeitos benéficos do evento. É impossível saber quanto a Grã-Bretanha lucrará com os Jogos. Alguns especialistas, porém, calculam que a economia poderá receber uma injeção de 16 bilhões de libras nos próximos anos. Para realizar o evento, foram gastos 9,3 bilhões. Apenas durante os Jogos, a gastança provocada pelos visitantes deve somar nada menos que 750 milhões de libras, o equivalente a 2,3 bilhões de reais. Os britânicos acreditam que serão capazes de atrair mais investimentos do que outras sedes olímpicas por causa do próprio perfil da cidade, campo mais fértil e aberto aos negócios que as antecessoras Pequim, Atenas, Sydney e Atlanta. Mais de 3.000 pessoas – entre autoridades, empresários e representantes do governo local – discutirão oportunidades de investimento numa “embaixada comercial” montada em Lancaster House. Mas Martin Sorrell, chefão da gigante de publicidade WPP (e sócio de Ronaldo na agência de marketing esportivo 9ine) avalia que os negócios fechados durante os Jogos são só o começo. “O mais importante é a imagem que será cultivada aqui e levada a todas as partes do mundo”, explica.
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