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Passados dez anos, Palmeiras não aprendeu com a queda

Foi uma década perdida: ao invés de evoluir, clube repetiu erros do passado

Virou uma questão de sobrevivência. Se não usar essa segunda queda para promover uma profunda transformação, o Palmeiras corre o risco de sofrer um baque ainda pior – não retornar rapidamente à elite

Depois de uma longa agonia, os piores temores da quarta maior torcida do Brasil se confirmaram neste domingo: depois de ceder um empate no final do jogo contra o Flamengo, neste domingo, restava ao Palmeiras torcer pela derrota da Portuguesa contra o Grêmio para se livrar da série B – o que não aconteceu (o jogo terminou empatado em 2 x 2). E o que mais aflige os cerca de 12 milhões de palmeirenses espalhados pelo país é a repetição de um pesadelo. No sábado, o episódio mais triste da notável história do clube completou dez anos: o rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro de 2002, com uma derrota para o Vitória. Na ocasião, a promessa dos palmeirenses era aprender com a queda para jamais passar pelo mesmo sofrimento. Passada exatamente uma década, no entanto, a torcida da equipe paulista amarga a repetição do trauma – o que mostra que o tropeço de dez anos atrás não foi suficiente para levar o clube a se modernizar.

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Com boa infraestrutura – tem centro de treinamento próprio e está prestes a ganhar um novo estádio -, o Palmeiras tem todas as condições para estar sempre entre os melhores do país. Ainda assim, passou quase o campeonato todo afundado na zona de descenso. Agora, não há mais contas a fazer. De fato, não há mais nada a fazer a não ser encarar a realidade (e a gozação das torcidas adversárias, principalmente a do arquirrival Corinthians, que vive o melhor momento de sua história, para desgosto dos alviverdes). Desta vez, a torcida espera mais que o rápido retorno à primeira divisão, já no ano que vem. Os fanáticos pelo clube sabem que não é mais possível adiar o indispensável processo de reformulação interna, principalmente na parte política.

VANDALISMO - Torcedores do Palmeiras invadem área das cadeiras numeradas no Pacaembu
VANDALISMO – Torcedores do Palmeiras invadem área das cadeiras numeradas no Pacaembu VEJA

Nas últimas semanas, quando ficou claro que o Palmeiras dificilmente escaparia, muitos discutiam quem seria o maior culpado pela situação. O presidente Arnaldo Tirone, sempre confuso e instável? O ex-técnico Luiz Felipe Scolari, que comandou o time durante a maior parte do campeonato? O camisa 10 Valdívia, que apesar de ser o grande craque do time quase nunca decide em favor do Palmeiras? Cada um tem sua parcela de responsabilidade, é claro. Mas os problemas na direção e na gestão são, inegavelmente, os grandes fantasmas do clube, o primeiro dos grandes times brasileiros a viver o fantasma do descenso pela segunda vez neste século. As falhas parecem se estender desde a presidência aos subordinados – desencontros e trapalhadas são cenas comuns nos bastidores da instituição.

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Nos últimos anos, gastos estratosféricos com uma folha de pagamento multimilionária, que já teve nomes como Scolari, Kléber (agora no Grêmio), o técnico Muricy (hoje no Santos) e Valdívia (recontratado a peso de ouro), pareciam incompatíveis com o resto do elenco, que sofre com deficiências graves em várias posições. Em resumo, o Palmeiras gasta muito com poucos, e acaba faltando dinheiro para formar um elenco completo e consistente. No caso de Felipão, o investimento teve certo retorno, já que o técnico, que voltou ao Palmeiras no segundo semestre de 2010, cumpriu a missão de quebrar o jejum de grandes títulos do clube. Com um elenco limitado, conquistou a Copa do Brasil deste ano e garantiu a equipe na Libertadores 2013.

Valdívia
Valdívia VEJA

Sem mágica – A taça, porém, acabou sendo enganosa. Com a ausência das melhores equipes do país do torneio – até este ano, as equipes que disputavam a Libertadores não podiam entrar na Copa do Brasil -, o título iludiu os palmeirenses, que achavam que tinham mão de obra em qualidade suficiente para terminar bem o Brasileirão. Até deixar o clube, em julho último, Scolari somou 154 jogos, com 65 vitórias, 47 empates e 42 derrotas. Nesse período, pouco mais de 30 atletas entraram e saíram do clube – e a maioria deles era de qualidade técnica muito questionável. Os números também pesam contra o “Mago” Valdívia. Desde que ele retornou, em meados de 2010, o time soma 170 partidas disputadas, mas o chileno disputou apenas 82, menos da metade.

As frequentes ausências, provocadas por suspensões, contusões e convocações para a seleção do Chile, fizeram com que o jogador resolvesse pouquíssimas partidas para sua equipe – nesse período todo, marcou apenas nove gols. Uma péssima relação custo-benefício quando se leva em conta que o salário dele se aproxima de meio milhão de reais. Até o mês passado, Barcos – esse sim, um investimento certeiro, um exemplo de jogador que assume a responsabilidade e decide – ganhava menos da metade do colega. Desde sua estreia, em fevereiro, o camisa 9 anotou 28 gols em 53 partidas. Não adiantou. Para desespero de sua torcida, o Palmeiras rebaixado em 2012, com 31% de aproveitamento antes deste domingo, foi ainda pior que o de 2002, que somou 36% dos pontos. Agora, virou uma questão de sobrevivência. Se não usar essa segunda queda para promover uma profunda transformação, o Palmeiras corre o risco de sofrer um baque ainda pior – não retornar à elite do futebol brasileiro, que sempre foi seu lugar de direito, ao fim da próxima temporada.

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Luiz Felipe Scolari
Luiz Felipe Scolari VEJA
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