Publicidade
Publicidade

Óscar Tabárez e uma aula para Joseph Blatter no Recife

Com coragem e lucidez, treinador da seleção uruguaia pede que a Fifa se lembre que as verdadeiras estrelas do espetáculo são os jogadores

“Civilizações têm nascimento, apogeu e decadência. Por que motivo não seria assim com um time de futebol? Temos de viver os momentos ruins e saber sair deles”, filosofou o técnico

Com quase cinco décadas vividas no mundo do futebol, como jogador e treinador de equipes como Peñarol, Milan, Puebla e Boca Juniors, o técnico Óscar Tabárez, à frente da seleção uruguaia desde 2007, é de uma época em que os apelidos tinham relação somente com os méritos conquistados na esfera esportiva – e não concebidos artificialmente por equipes de marketing em escritórios equipados com ar-condicionado. El Maestro – “O Professor” -, de fato, sempre se pautou por fornecer apaixonadas e apaixonantes lições aos amantes da bola. Em seu currículo recente, comandou, nas aulas práticas, o renascimento da Celeste Olímpica, quarta colocada no Mundial de 2010 e campeã da Copa América de 2011. Nas teóricas, o mestre, em solo brasileiro para a Copa das Confederações, vem demonstrando uma desenvoltura ímpar ao analisar, com coragem e lucidez, o panorama atual do futebol.

Publicidade

Leia também:

De volta ao Brasil, Uruguai desafia escrita contra Espanha

Espanha, uma campeã também no politicamente correto

Na véspera da estreia, a favorita Espanha foge do oba-oba

Recife: risco de greve expôs fragilidade do acesso à arena

Às vésperas da estreia do Uruguai contra a Espanha, partida marcada para as 19 horas (de Brasília) deste domingo, Tabárez tinha todos os motivos para estar de mau humor na entrevista realizada em Recife. Desde a chegada do time ao país, problemas rondaram a seleção meridional – entre eles, o trânsito, o campo de treinamento alagado e o horário ingrato imposto pela Fifa para o reconhecimento do gramado da Arena Pernambuco. Mas, ao contrário de treinadores que adoram vestir o figurino de prima-donas, o uruguaio foi elegante e atencioso. Nem por isso deixou de enviar um incisivo recado para a organização do torneio. “Tivemos de cancelar a atividade porque chegaríamos de volta ao hotel às 23 horas, e jogaríamos já no dia seguinte. Isso não é possível. Não foi um ato de rebeldia, mas de pura desincompatibilidade”, afirmou, para em seguida lembrar Joseph Blatter do óbvio que parece estar guardado em algum cofre da Suíça. “Entendo que organizar um campeonato deste porte seja difícil. Mas há um aspecto que precisa ser prioritário: o esportivo. A possibilidade de treinar, o descanso dos jogadores, tudo isso deve ser colocado em primeiro plano. É para o benefício do brilho do torneio, simples assim.”

Quando questionado sobre a postura da Celeste no duelo com os poderosos campeões mundiais, Tabárez recorreu a uma comparação didática com outra disciplina. “Veja a NBA, que tem os maiores talentos do mundo. Seus jogadores são capazes de tudo. Mas o que mais se trabalha naquela liga? A defesa. Mais do que qualquer coisa, os times jogam para limitar os oponentes. É isso que devemos fazer, de forma a diminuir as diferenças.” No tocante a prognósticos para a Copa das Confederações, o treinador não quis criar expectativas aos torcedores – mesmo depois de seu time ter dados sinais de que está entrando nos eixos novamente, com a vitória fora de casa sobre a Venezuela pelas Eliminatórias da Copa de 2014. “Já estamos curados dos adivinhos que sabem de tudo. Um jogo não serve como mostra da nossa recuperação”, explicou, antes de finalizar o raciocínio com um exemplo vindo dos livros de história. “Civilizações têm nascimento, apogeu e decadência. Por que motivo não seria assim com um time de futebol? Temos de viver os momentos ruins e saber sair deles.”

Publicidade
Copa das Confederações
Copa das Confederações VEJA
Continua após a publicidade

Publicidade