Londres inicia adeus ao velho modelo de estádio olímpico
Ele sempre foi o palco principal e o grande símbolo de cada edição dos Jogos. Em 2012, começa a mudar – e no Rio, em mais quatro anos, poderá desaparecer
O projeto de 2016 vai além do que Londres fez: a primeira edição dos Jogos na América Latina simplesmente não terá um estádio olímpico. Ou melhor, terá dois – Engenhão e Maracanã terão de dividir as funções
Um dos elementos mais marcantes dos Jogos Olímpicos da era moderna, quem diria, é fruto da imaginação de Adolf Hitler. Obcecado pela ideia de propagandear a grandeza da Alemanha, o monstro nazista mandou erguer num subúrbio de Berlim um dos mais impressionantes complexos esportivos já construídos no mundo. E a peça central desse monumental projeto era o Estádio Olímpico, um colosso de pedra que até hoje provoca forte impacto em seus visitantes. O conceito de montar uma praça esportiva grandiosa para servir de palco principal na festa olímpica sobreviveu desde então, com raras exceções – uma delas, na primeira Olimpíada do pós-guerra, em Londres-1948, quando a capital britânica nem precisou construir um novo estádio, pois já tinha pronto o enorme Wembley. Mas virou quase uma regra: na hora de realizar uma Olimpíada, a cidade-sede concentrava seus esforços (e uma generosa parcela de seus investimentos) na montagem de um estádio à altura do evento, que só fez crescer nas edições seguintes. Esse modelo, no entanto, acabou revelando sinais de esgotamento. Nas últimas quatro décadas, só duas sedes dos Jogos mantiveram seus estádios olímpicos em uso frequente (confira no quadro abaixo). Por causa disso, Londres 2012 deverá marcar o fim dessa tradição. O estádio que concentrará os principais eventos dos Jogos – abertura, encerramento e as provas de atletismo – ainda não tem um futuro definido. O projeto, porém, já foge da noção de que não há Olimpíada sem uma obra faraônica desenhada para concentrar todas as atenções durante o evento.
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Por ser uma cidade dotada de infraestrutura esportiva inigualável, com mais de uma dezena de estádios em funcionamento, Londres precisava de um palco capaz de receber o atletismo (no resto da cidade, as arenas foram projetadas apenas para futebol ou rúgbi) e as cerimônias de abertura e encerramento – e nada mais. Decidiu-se pela construção de uma arena de desenho inédito, que será redimensionada depois dos Jogos de forma a fugir da longa lista dos elefantes brancos olímpicos. Ainda há dúvidas sobre o desfecho do processo, já que o destino do estádio segue incerto – pode seguir como palco de atletismo, com capacidade reduzida de 80.000 para 25.000 pessoas, ou, mais provável, virar a nova casa de um clube de futebol da cidade. De qualquer forma, o projeto já indica um rompimento com a velha concepção de estádio olímpico como centro de tudo nos Jogos. Essa transformação começa aqui e termina dentro de mais quatro anos, na Olimpíada do Rio. E o projeto de 2016 vai além do que Londres fez: a primeira edição dos Jogos na América Latina simplesmente não terá um estádio olímpico. Ou melhor, terá dois: o Engenhão, para receber o atletismo, e o Maracanã, para as festas de abertura e encerramento. Ao dividir as funções da tradicional arena central dos Jogos, o Rio pode quebrar de vez o padrão estabelecido exatos 80 anos antes em Berlim. Como a tendência é de que só cidades de grande porte sejam escolhidas para as próximas edições – e que, portanto, essas candidatas provavelmente já tenham grandes arenas prontas -, soluções inteligentes como as de Londres e do Rio deverão ser mais comuns. Melhor para os cofres públicos dos países que recebem os Jogos, que não terão de custear novos monumentos ao desperdício.