Há 20 anos, lendário Maracanã amargava sua real e maior tragédia
O futebol brasileiro costuma definir a derrota na Copa do Mundo de 1950 como a grande tragédia da Seleção no Maracanã.
O futebol brasileiro costuma definir a derrota na Copa do Mundo de 1950 como a grande tragédia da Seleção no Maracanã. Mas nada se compara ao acidente do dia 19 de julho de 1992, na final do Campeonato Brasileiro entre Botafogo e Flamengo, que causou desespero e mortes para arranhar a história de um dos cenários mais conhecidos do esporte mundial.
A catástrofe no lendário palco – que já recebeu desde inesquecíveis shows musicais de Frank Sinatra (1980) e Tina Turner (1988) até a passagem marcante do Papa João Paulo II, também em 1980 – ocorreu cerca de 30 minutos antes de a bola rolar. A grade de proteção da arquibancada superior cedeu e diversas pessoas caíram, atingindo aqueles que estavam no anel logo abaixo.
‘Foi um alerta, os estádios do Brasil sempre tiveram um ar de inacabado. Se você viajar pelo país, é tudo de cimento cru. Isso traz uma falta de segurança. Infelizmente, pagou-se muito caro, com quatro vidas’, lastima o ex-zagueiro Wilson Gottardo, que atuava pelo Flamengo na época e continua atualmente no meio do futebol na função de empresário.
A reportagem da GE.Netentrou em contato com a assessoria de imprensa da Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro), órgão responsável pela administração do Maracanã, para tratar sobre detalhes importantes do assunto, como os números oficiais da tragédia (atingiu cerca de 100 pessoas entre mortos e feridos), o trabalho de auxílio, o pagamento de indenizações às vítimas e até as acusações sobre superlotação, já que o público oficial de 122 mil torcedores foi questionado posteriormente. Até o fechamento da matéria, não houve resposta da entidade.
De qualquer forma, o Maracanã vinha dando sinais de desgaste e má conservação desde a década de 80. A primeira grande reforma foi realizada em 1985, com a elevação do piso da geral em 45 centímetros e a recuperação das marquises.
Em 1990, um fato mais grave. Durante o jogo entre Flamengo e Corinthians, surgiu um sentimento de extremo receio em relação ao tremor do estádio. Houve a interdição e uma série de análises de engenheiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro até sobre o risco de desabamento. Posteriormente, 72 pilaretes de 20 centímetros foram instaladas para escorar as arquibancadas e diminuir o desconforto. Um ano antes, dirigentes da Fifa já haviam reprovado o local em uma avaliação sobre uma candidatura brasileira para a Copa do Mundo de 1994.
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Ainda assim, o Maracanã foi liberado para o Rock in Rio de 1991. Depois do evento, um novo momento de reformas. Além da instalação de um novo gramado trazido direto de Pindamonhangaba (interior de São Paulo), especialistas partiram para novas análises das instalações envelhecidas do estádio.
Mesmo com tantas reformulações, Wilson Gottardo relata alguns problemas na época do acidente no estádio construído em apenas 22 meses para a Copa do Mundo de 1950. ‘Os vestiários eram antigos, necessitavam de reforma. Nos encanamentos do banheiro, a água saía com ferrugem, você também percebia umidade no túnel (de entrada para o gramado), não chegava a alagar, longe disso, mas era algo que precisava de manutenção’, comenta.
O acidente de 1992 deixou o Maracanã fechado por cerca de sete meses e causou uma ferrenha troca de farpas entre políticos e dirigentes na época, em função do objetivo do estádio em receber a partida entre Brasil e Uruguai, pelas Eliminatórias da Copa de 1994. Pressionado, o governador Leonel Brizola chegou a declarar que o Rio de Janeiro tinha outras prioridades em relação ao amado palco futebolístico. Mesmo assim, milhões de dólares foram gastos na recuperação de um local que amargou, em jogos internacionais, metade de sua capacidade original – caiu de 200 mil para 100 mil lugares.
‘A partir dali, acho que mudou o conceito de segurança dos estádios, o Maracanã entrou em reforma e teve até aquele problema do Morumbi alguns anos depois’, ressalta Wilson Gottardo, que fez questão de visitar as vítimas no dia seguinte à final depois de comemorar o título nacional pelo Flamengo.
Aos jogadores de Flamengo e Botafogo, a ordem foi esconder a tragédia antes de a bola rolar na final do Brasileiro. ‘A gente estava no vestiário, eu vi um movimento diferente, você sentia o pessoal tenso, pesado. Fomos informados que ocorreu o acidente, mas não foram passados detalhes, o pessoal deu uma blindada porque o jogo era importante. Eu, por exemplo, tinha minha mãe, esposa, filhas, primos, amigos no local. Muita gente estava lá. Eu tinha amigos do outro lado também porque eu havia jogado no Botafogo’, recorda Gottardo.
Neste momento, o Maracanã está novamente em uma fase de recesso. Agora, irá ganhar uma cara revolucionária para receber a final da Copa do Mundo de 2014, em um investimento que foi estimado em R$ 859 milhões. É a segunda reforma em um curto espaço de tempo, já que também houve um alto investimento no local para os Jogos Pan-americanos de 2007.
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