De Kaká a Neymar, lacuna entre gerações atrapalha Brasil
Na hora de escolher seus craques, Felipão teve de escolher entre veteranos e muito jovens – não há opções na idade em que o atleta costuma chegar ao auge
A geração de jogadores que poderia ser protagonista em 2014 (ou pelo menos dar suporte aos garotos) perdeu espaço. Exemplo claro é um dos ídolos de Neymar, Robinho
Camisa 10 do Brasil na Copa do Mundo de 2010, Kaká terá 32 anos quando o Brasil for estrear na Copa do Mundo de 2014, daqui a pouco mais de um ano. Sem conseguir brilhar nos últimos anos, em meio a contusões e problemas de relacionamento com o técnico José Mourinho no Real Madrid, ele ficou de fora da Copa das Confederações por opção do técnico Luiz Felipe Scolari – que também abriu mão de Ronaldinho Gaúcho, que completa 34 anos em janeiro do ano que vem. Se o cenário não se alterar nesse período, caberá a Neymar, nascido em fevereiro de 1992, e Oscar, de setembro de 1991, a árdua missão de liderar o Brasil na Copa. Entre eles, há uma geração de jogadores que se perdeu pelo caminho, sem conseguir se destacar no futebol internacional. Não há nenhum jogador brasileiro de destaque, por exemplo, nascido em 1987, o mesmo ano em que Lionel Messi veio ao mundo. Durante o Mundial, Messi fará 27 anos – para muitos, a idade em que o jogador começa a chegar no auge, um período de dois ou três anos em que o atleta já tem boa experiência e ainda conta com sua melhor forma física.
O melhor jogador do mundo nos últimos quatro anos vai para sua terceira Copa em 2014, depois de ser um reserva com pouca participação em 2006, e de falhar na tentativa de comandar o desconjuntado time de Diego Maradona em 2010 – terminou o Mundial sem marcar gols e com pouco a fazer diante do massacre por 4 a 0 sofrido diante da Alemanha, nas quartas de final na África do Sul. Agora, terá a chance de chegar amadurecido à competição – uma vantagem que Neymar não teve, desprezado que foi por Dunga em 2010. Oscar, então, nem sequer era titular de seu time à época, o Internacional. Nesse período, uma geração de jogadores que poderia ser protagonista em 2014 (ou pelo menos dar suporte aos garotos) perdeu espaço. Exemplo claro é um dos ídolos de Neymar: Robinho, nascido em 1984, ajudou o então garoto a se firmar como ídolo do Santos em 2010, mas, depois de ser titular absoluto nos primeiros tempos de Mano Menezes na seleção, foi sumindo das convocações, ao mesmo tempo em que começava a amargar a reserva no Milan. Outro “sumido” é Diego, nascido em 1985, e que nunca mostrou o brilho prometido no Santos campeão brasileiro de 2002.
Entre eles, há um vácuo de jogadores, principalmente entre os que têm a idade de Messi. O melhor do mundo mal havia completado 18 anos quando liderou a Argentina na conquista do Mundial Sub-20 de 2005, na Holanda sendo o artilheiro e o melhor jogador, e marcando um dos gols na vitória sobre o Brasil por 2 a 1, nas semifinais – e o Brasil tinha no time jogadores mais velhos, nascidos em 1985, como Rafael Sóbis e Diego Tardelli. No Mundial Sub-20 seguinte, o Brasil lançou alguns jogadores da mesma idade de Messi e um pouco mais jovens – alguns deles convocados por Scolari para a Copa das Confederações, como o zagueiro David Luiz e o lateral-esquerdo Marcelo. O time, porém, foi mal e caiu nas oitavas de final, diante de Gana. Depois vieram jogadores mais jovens, como Anderson, Carlos Eduardo e Renato Augusto – mas nenhum deles até hoje fez por merecer uma chance maior na seleção brasileira.
O Brasil só voltou a conquistar o Mundial Sub-20 em 2011, liderado justamente pelo camisa 10 na Copa das Confederações: Oscar, autor dos três gols na vitória por 3 a 2 sobre Portugal, na decisão. Neymar não jogou a competição, porque já estava com o time principal na Copa América da Argentina. Alguém pode até dizer: “Pelé, aos 22 anos, era bicampeão do mundo!” Mas, como se sabe, Pelé só teve um. Neymar e Oscar terão de se desdobrar até o ano que vem para carregar o Brasil rumo à conquista do hexa.