Matéria publicada na edição 1528 de PLACAR, de outubro de 2025, já disponível em versão digital e física em nossa loja

O relógio apontava para os 29 minutos do segundo tempo e o placar na Neo Química Arena indicava 2 a 0 para o Corinthians. A classificação para as semifinais da Copa do Brasil já estava bem encaminhada quando o lateral David Benavídez, do Athletico-PR, se posicionou para a cobrança de um pênalti. “Hugo, Hugo, Hugo…”, gritava a torcida corintiana, em coro quase uníssono, que só parecia aumentar.

O camisa 1 correspondeu: voou para defender o chute. Não havia semblante algum de surpresa, só euforia. Foi a oitava defesa em pouco mais de um ano de clube, a quarta só em 2025, esta acompanhada da quebra do recorde de Dida, conhecido pegador de pênaltis. “Sabe que não tinha tanta certeza que alcançaria aquela bola?”, brinca o goleiro à PLACAR.

O episódio é uma boa ilustração da relação de amor entre Hugo Souza e Corinthians: “É o casamento perfeito”, ele mesmo diz. Aos 26 anos, o carioca vive o melhor momento da sua carreira. “Achei que fosse dar certo, mas não imaginava que seria tão rápido, e da forma como está acontecendo”, conta.

De volta após estrear pela seleção, camisa 1 virou referência em pouco mais de um ano no clube - Alexandre Battibugli/Placar

De volta após estrear pela seleção, camisa 1 virou referência em pouco mais de um ano no clube – Alexandre Battibugli/Placar

Pouco mais de 12 meses foram suficientes para os dois se entregarem por completo um para o outro. O goleiro chegou em julho do ano passado para costurar o coração ferido do torcedor, que viu Cássio se despedir e ainda se sentiu traído por Carlos Miguel.

Nos braços da Fiel, ele foi protagonista do título estadual diante do arquirrival Palmeiras, quebrando um incômodo jejum, e ainda faz juras de eterna fidelidade: “É algo espiritual. Como se o Corinthians fosse minha esposa, e eu sou leal a ela. A Bíblia ensina que o esposo precisa amar a mulher como Jesus amou a igreja. E como foi isso? Dando sua própria vida por ela. Estou usando essa analogia para falar que é a lealdade que carrego para minha vida: compromisso absoluto, selado e inquebrável.”

“Aboli o verde da minha vida. Verde, nunca mais”, afirma. A única exceção é o uniforme da seleção brasileira – compreensível para quem está frequentemente na lista do técnico Ancelotti e mira a Copa do Mundo de 2026. A primeira convocação foi precoce, com apenas 18 anos, ainda com Tite como técnico. No profissional do Flamengo, estreou em meio à pandemia e integrou o time rubro-negro campeão de tudo de 2019 até 2023. Já foi e voltou da Europa. Os tropeços e críticas se tornaram dores de crescimento.

“Houve um período em que me distraí para viver o que o futebol me proporcionava. Eu não tinha nada. Minha vida sempre foi de luta, de muito suor. Meu pai, minha mãe e eu passamos por muitas dificuldades. Então, para um menino que não tinha nada, de repente ter todas aquelas facilidades era tentador”, justifica.

Mais maduro e calejado, Hugo agora está casado – e bem casado. Ele só quer aproveitar para mimar a quem mais ama com presentes: defesas monumentais, títulos… E tem como duvidar das intenções de um homem apaixonado?

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Defesa na final do Estadual colocou para sempre o nome de Hugo na história do Timão - Rebeca Reis/Ag. Paulistão

Defesa na final do Estadual colocou para sempre o nome de Hugo na história do Timão – Rebeca Reis/Ag. Paulistão

Hugo, você parece muito à vontade aqui. Estamos na sua casa? Sim, aqui é a minha casa, mesmo. Passo mais tempo no CT (Joaquim Grava) do que onde eu moro. E estou superbem com isso, sem reclamações (risos).

Foi tudo muito rápido na na relação com o Corinthians. Por que deu tão certo o casamento? Existia essa expectativa? Foi um casamento perfeito, porque acredito que precisávamos um do outro – eu ainda mais do Corinthians, obviamente. Por tudo o que passei na minha carreira e por tudo o que precisava me provar, não apenas para as pessoas, mas principalmente para mim mesmo. Desde o início, fui abraçado de uma forma muito, muito afetuosa. Pelo carinho da torcida, do clube, tudo o que vivo aqui diariamente… Acho que não tinha como dar errado.

O pênalti de Raphael Veiga na final do Paulista contra o Palmeiras foi o momento mais marcante da sua carreira? Individualmente, sim. Sem dúvida foi um momento emblemático: contra o nosso maior rival, garantindo um título para nós dentro de casa, que não era conquistado havia algum tempo. A nossa torcida merecia voltar a viver essa alegria. Tive a oportunidade de participar de elencos que venceram muito. Estive no Flamengo de 2019 até o meio de 2023, basta olhar tudo que o foi conquistado nesse período. Mas esse pênalti foi o momento mais marcante.

Uma frase sua leva a Fiel à loucura: ‘Aboli o verde da minha vida’. Aboliu mesmo? Aboli, aboli. Só não tem como não usar a roupa de treino da seleção. Isso aí eu vou querer usar sempre. Mas prefiro o preto e branco, para evitar qualquer ligação com o Palmeiras.

Você jogaria pelo rival? Entre Corinthians e Palmeiras, já aconteceu de outros jogadores fazerem juras de amor e depois trocarem de clube. As pessoas dizem que nunca sabem o dia de amanhã, mas quando você cria amor por uma camisa, cria também um respeito muito grande. Eu estava no pior momento da minha carreira quando o Corinthians me encontrou, e foi aí que pude viver o melhor período de todos. Vejo isso como forma de gratidão. Eu não sei se vou ficar aqui mais dez anos, se vou sair mais para a frente, nem para onde minha carreira vai me levar, maspara mim é sobre lealdade. Vou um pouco além: é espiritual. Como se o Corinthians fosse minha esposa, e eu sou leal a ela. A Bíblia ensina que o esposo precisa amar a esposa como Jesus amou a igreja. E como foi isso? Dando a sua própria vida por ela. Estou usando essa analogia para falar que é essa lealdade que carrego para minha vida: compromisso absoluto, selado e inquebrável.

O Carlos Miguel fez essa troca de forma indireta. Vocês já conversaram sobre esse assunto? Tenho bastante contato com ele. Jogamos juntos na base do Flamengo e é um amigo pelo qual tenho muito carinho, torço para que tudo corra bem na carreira dele. Independentemente de ele estar no rival ou não, eu torço pela pessoa. Não tem a ver com suas escolhas. Cada um tem sua história, forma de ver a vida e de enxergar a carreira. Ele tomou as decisões dele e espero que seja feliz, assim como eu busco ser feliz com as minhas escolhas.

 

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Antes de Hugo Souza, havia o Cássio. Sabe que ele ainda acompanha muito o clube? Quando você olha para tudo que o Cássio fez aqui dentro, durante tanto tempo, serve como inspiração para qualquer carreira. Eu acho que um goleiro da minha idade, ou até um pouco mais jovem, que não olha para ele como referência, está cometendo um erro. O Cássio dispensa comentários. Para mim, é o maior ídolo da história do clube. É claro que existem outros nomes gigantes e emblemáticos, mas o Cássio ocupa uma prateleira só dele. A importância, a imponência e o peso que ele tem na história do Corinthians merecem aplausos de pé. Muitas pessoas me perguntam: “Você vai para o lugar do Cássio, como vai ser?”. É sobre entender quem eu sou e construir a minha história. Isso me ajuda a seguir meus próprios passos para escrever a trajetória do Hugo, não do Cássio, do Dida, do Ronaldo ou de qualquer outro que passou aqui.

Vocês se falam bastante? Agora ele será seu adversário na Copa do Brasil. Não muito, só tivemos contato durante os jogos. Mas, quando eu jogava pelo Flamengo contra o Corinthians, ele já era esse cara que dava um toque. Por exemplo, antes da partida, avisava: “O campo está rápido, toma cuidado”. Ele sempre foi alguém disposto a ajudar. É simples: chego ao lado dele, cumprimento e fico ouvindo o que ele tem a dizer, porque sei que posso absorver coisas boas. Além disso, sempre aproveito para parabenizá-lo por tudo que conquistou e pela história que construiu. Ele é um cara especial, não só para mim, mas para todo torcedor corintiano.

 

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Havia uma proximidade entre a família Díaz (Ramón e Emiliano) e o elenco. Como reagiram à saída deles? Sim, existia mesmo essa sinergia. Eram pessoas totalmente abertas, com quem tínhamos contato além do futebol. Mantenho amizade com eles até hoje e levarei para a vida toda. O futebol é legal porque nos apresenta pessoas que valem a pena carregar conosco, e eles são assim, como toda a comissão. Tenho certeza de que qualquer pessoa que perguntar aqui no clube vai dizer o mesmo sobre eles. Nenhuma despedida é fácil, mas entendemos que essas decisões fogem do nosso controle. Foram pessoas que me ajudaram muito e me deram liberdade para exercer não só meu trabalho, mas também minha liderança e personalidade fora de campo.

Você já havia trabalhado com o Dorival no Flamengo e perdeu espaço no clube. Temeu ver esse cenário se repetir? O Dorival é um profissional justo e de palavra. Mesmo tendo perdido espaço em um primeiro momento (no Flamengo), ele cumpriu suas promessas e sempre mostrou ser um cara vencedor. Agora, espero que nos ajude a alcançar nosso sonho de conquistar a Copa do Brasil. É um prazer trabalhar com ele, trata-se do último treinador da seleção brasileira. Em nenhum momento senti medo de perder o meu espaço. Hoje sou um profissional mais preparado, o cenário é totalmente diferente do passado. Aqui, isso nunca foi um problema. Pelo contrário, só ajudou, pois já conhecia o trabalho dele e pude preparar o terreno para sua chegada da melhor forma possível. Ele é excepcional, e a comissão dele também é. São pessoas que nos ajudam diariamente com trabalho e conversas, extrovertidos e ao mesmo tempo sérios na hora de atuar.

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Deslizes no passado levaram o jogador ao calvário dentro e fora das quatro linhas - Rebeca Reis/Ag. Paulistão

Deslizes no passado levaram o jogador ao calvário dentro e fora das quatro linhas – Rebeca Reis/Ag. Paulistão

Tudo para você aconteceu muito rapidamente: seleção, primeiro título brasileiro, declínio, volta por cima… Aos 26 anos, as marcas da vida te trazem uma sensação de experiência mais precoce? O futebol tem disso. A gente aprende a ser homem mais cedo, porque carrega essa responsabilidade muito jovem. Acho que 90% dos atletas já têm obrigação de sustentar a casa com 16, 17 anos, e comigo não foi diferente. Quando jogamos em um time grande, precisamos aprender a lidar tanto com críticas quanto com elogios, absorver tudo da melhor forma possível. O grande desafio é saber que no dia ruim eu não vou deixar de ser o Hugo, e no dia bom também não. O bom resultado vem de trabalho, dedicação, de renunciar a muitas coisas para ser um profissional melhor – mas nem todo dia é bom. E, quando o dia ruim chegar, precisamos estar com a cabeça pronta para entender que ele não define quem a gente é.

Você sentiu a necessidade de um trabalho psicológico, correto? Como foi a iniciativa de começar? Ainda continua? O momento mais difícil da minha vida foi quando eu estava em Portugal. Dentro de campo, meu desempenho era bom, mas fora dele minha cabeça não estava funcionando. Nunca cogitei largar o futebol, mas percebia que minha carreira estava tomando um rumo totalmente contrário a tudo aquilo que eu imaginava e ao talento que eu sabia que tinha. Chegou um ponto em que o treinador me tirou do time. Conversei com ele e disse que não concordava, até porque eu era o único que vinha se destacando no time. Mesmo assim, ele me deixou de fora. O treinador de goleiros disse: “Eu fiz isso com você porque eu precisava fazer. Não é questão de estar bem ou mal, é para você aprender”. E, de fato, eu aprendi. Esse episódio abriu meus olhos e me fez entender que, se eu não me tornasse um profissional melhor, minha carreira não teria o rumo que eu sonhava. Foi a partir dali que eu decidi procurar ajuda. Um grande amigo meu, o Vitor, já vinha insistindo há muito tempo para trabalhar comigo. Ele estudou nos Estados Unidos, fez várias formações – psicologia, gestão financeira, gestão empresarial – e conseguiu juntar tudo isso para me ajudar. Ele organizou a minha vida fora de campo, tirou de mim o peso de ter que resolver tudo sozinho.

Depois de tempos difíceis, Hugo emocionado durante uma entrevista no fim do último ano - Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Depois de tempos difíceis, Hugo emocionado durante uma entrevista concedida em novembro – Rodrigo Coca/Agência Corinthians

E qual era o principal problema? Noitada, bebida, mulheres…? Sendo muito sincero, quando mais novo fiquei muito marcado por causa de noitadas, bebidas e esse tipo de coisa. Só que, na verdade, isso nunca fez parte do meu cotidiano. Naquela época, eu não bebia. Aliás, até hoje eu só bebo esporadicamente. O problema foi que fiz uma festa no momento errado, e que gerou uma repercussão muito grande. As pessoas rotulam muito rápido: é como uma falha dentro de campo que fica marcada para sempre, mesmo que não represente o jogador por completo. É claro que eu tive minhas falhas, não omito isso. Houve um período em que me distraí do futebol para viver o que o futebol me proporcionava. Se não tiver alguém para te puxar de volta, você acaba se perdendo nesse processo. Eu não tinha nada. Minha vida sempre foi de luta. Meus pais e eu passamos por muitas dificuldades, mas superamos todas da melhor forma possível. Então, para um menino que não tinha nada, de repente ter todas aquelas oportunidades e facilidades era tentador. O foco deveria ser o futebol, e não os benefícios que vinham com ele. Eu precisei entender isso. Essa foi a principal mudança da minha vida e da minha carreira: perceber que não é proibido festejar, mas existe um tempo certo para cada coisa – no momento de lazer, nas férias. Saber separar os momentos.

A superação desses problemas forjou sua liderança? Com certeza. Porque, quando a gente passa, fala com mais propriedade.

Você já discordou publicamente do Memphis, por exemplo. Conseguiu impor essa liderança para ajudar na confusão envolvendo ele e o Garro? Na verdade, nunca houve confusão. Era uma coisa que estava estabelecida pelo clube (a troca de números). Nós sentamos e conversamos como profissionais, como adultos. Foi tudo resolvido da melhor maneira possível. Faz parte da nossa função como líder resolver problemas do dia a dia. Isso não chegou a ser um problema, mas falamos para que nada pudesse afetar a gente dentro de campo, nem a nossa relação pessoal. Talvez tenha reverberado muito mais do que realmente foi. Do muro para dentro, reina a paz. Então toda a guerra política que teve, todas as coisas que aconteceram no clube… Portão para dentro? Esquece. A nossa função é trabalhar e dar o melhor dentro de campo. Em uma entrevista, o Garro foi perguntado quem era o melhor amigo dele no clube. Ele preferiu não responder para não ficar mal com os demais, seria difícil escolher um só. O Memphis é o maior artilheiro da história da seleção holandesa, tem um peso muito grande, mas trata a todos da mesma forma. E é isso que carregamos no dia a dia, eu desfruto muito estar aqui.

 

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É aberto a críticas? Há uma mais recorrente que diz que, se você melhorar sua saída de bola, virará um goleiro completo. Eu sou um cara que trabalha muito e também sou muito exigente comigo mesmo. Além disso, tenho um treinador de goleiros que é ainda mais rigoroso. Estamos sempre buscando a perfeição em tudo. Fui muito criticado ao longo da minha carreira por não saber jogar com os pés e desafio as pessoas a conferirem meus números no fundamento na última temporada. Neste ano, também fui muito criticado por ter saído errado do gol em uma jogada, mas se alguém analisar os números, verá que o erro foi pontual. Não estou dizendo que não preciso melhorar, me concentro na minha evolução. Sei aonde quero chegar e me cobro muito, até por entender o tamanho do meu talento e por ter passado por críticas pesadas. A internet, por exemplo, é terra de ninguém. As pessoas não medem palavras para criticar.

Acompanha muito? Não muito. Já acompanhei, mas percebi que isso me atrapalhava. Posto apenas sobre futebol, às vezes alguma publicidade ou parceria, mas não estou sempre mostrando minha vida. Minha esposa é influenciadora, então quem quer acompanhar nosso dia a dia acaba seguindo mais ela. Minha maior referência de vida é Jesus Cristo e nem ele agradou todo mundo. Só espero continuar agradando o Ancelotti, o Taffarel, o Dorival e, claro, a Fiel Torcida.

Troféu e volta por cima selam a relação de amor com o clube - Rebeca Reis/Ag. Paulistão

Troféu e volta por cima selam a relação de amor com o clube – Rebeca Reis/Ag. Paulistão

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'Esse é um assunto sobre o qual não tenho medo de falar', diz Hugo - Rodrigo Coca/Agência Corinthians

‘Esse é um assunto sobre o qual não tenho medo de falar’, diz Hugo sobre racismo – Rodrigo Coca/Agência Corinthians

No ano passado você disse: ‘Se eu falhar, meu vídeo vai rolar por três dias. De um goleiro branco, não, vai ficar esquecido’. Ainda pensa assim? A tolerância para um goleiro negro é menor que para um goleiro branco? Eu lembro que quando falei sobre isso fui bastante criticado, inclusive por ex-atletas que também erraram e foram criticados, mas que não tinham o mesmo tom de pele que eu tenho. Esse é um assunto sobre o qual não tenho medo de falar. Nem deveria ser pauta, mas, enquanto for, vou continuar batendo nessa tecla. Só entende quem vive na própria pele. Hoje tenho um lugar em que sou respeitado pelo meu trabalho, e, sendo um homem negro, vou usar minha posição para ajudar quem não tem as mesmas oportunidades. Continuo acreditando que todo mundo pode chegar aonde quiser – o preto, o favelado, pode sim conquistar seus objetivos. Mas também sei que, para nós, é muito mais difícil. A realidade não ajuda, ela atrapalha. Mesmo assim, eu consegui, trabalhei e sigo todos os dias enfrentando essas barreiras. Quero ser exemplo. Não só eu: o Vinicius Júnior é o melhor jogador do mundo e mostra isso, todos veem o que ele enfrenta. Fora do Brasil, ele passa por episódios lamentáveis, e o que me causa mais agonia é ver pessoas dizendo que o Vinicius provoca essas situações. Não consigo entender em que ponto eu, como jogador ou ser humano, poderia causar em alguém a necessidade de me atacar pelo tom da minha pele. Isso não existe. E respeito muito o Vinicius, não só por já ter jogado comigo, mas por ser um cara que abraçou essa causa. Que bom que temos pessoas com coragem para levantar essa bandeira.

 

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E como você cria essa conscientização? Acho que isso é um trabalho diário e mental. Faço esse trabalho tanto dentro quanto fora do clube, e tenho pessoas que me ajudam nisso, o que considero o mais importante. Precisamos entender que somos o que somos, independentemente do que aconteça. Não é só falar da boca para fora, eu realmente penso assim. Quero ser referência. Quando você se torna referência, é sinal de que seu trabalho está sendo reconhecido de uma forma especial. Tive referências e quero continuar esse legado. Seja qual for a pauta, dentro de campo ou fora dele, racial, familiar ou qualquer outra.

A filha afetiva do Barbosa, Teresa Borba, não aceita conceder entrevistas para só falar sobre a falha de 1950. Ela luta pela memória dele e hoje você é um representante negro na seleção. Já pensou sobre isso? Acho que a questão pode ser respondida com uma pergunta. Na Copa de 2002, o Ronaldo marcou o gol decisivo após uma falha do Oliver Kahn – considerado um dos maiores goleiros da história. Ele foi criticado da mesma forma que o Barbosa é até hoje? Não. A resposta está aí, a história comprova e os fatos estão acessíveis. Por isso quero ser esse cara que está lá, podendo viver o meu sonho e o de muitos que não podem pelo preconceito.

 

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Hugo no aquecimento sob olhares atentos do tetracampeão Taffarel, preparador de goleiros da seleção - Alexandre Battibugli/Placar

Hugo no aquecimento sob olhares atentos do tetracampeão Taffarel, preparador de goleiros da seleção – Alexandre Battibugli/Placar

Como é vestir a camisa da seleção? Você sente hoje a Copa do Mundo mais próxima? Eu quero ser esse cara que tem a oportunidade de vestir a camisa da seleção, de viver o meu sonho, que é também o sonho de 98% da população brasileira. Jogar na seleção é o ápice da carreira de qualquer jogador. Vou trabalhar muito para estar na Copa. Mais do que meu sonho, é também o sonho do meu pai. Então, estou realizando o sonho de muita gente, pessoas que estiveram na minha trajetória e me ajudaram, mas também de quem me olha como referência. Eu tive inspirações, e hoje vejo pessoas, principalmente crianças, se inspirando em mim. O futebol é mágico. Um idoso pode te abraçar da mesma forma que uma criança, e o olhar é sempre o mesmo, de carinho e admiração. Isso é muito gratificante, porque nós somos seres humanos como eles, mas carregamos o sonho que muitos não conseguiram viver. Só quem está dentro do futebol sabe explicar isso, e poucos são os privilegiados que vivem essa experiência.

Com o pai, Jorge, que morreu em março de 2020, de quem diz cumprir um sonho - Reprodução

Com o pai, Jorge, que morreu em março de 2020, de quem diz cumprir um sonho – Reprodução

UM PEGADOR NATO

Hugo ainda não lidera o ranking de defesas em pênaltis no Corinthians, mas a média assombra. Parece só uma questão de tempo…

Cássio
32 defesas em 712 jogos
média de 0,04

Ronaldo Giovanelli
27 defesas em 602 jogos
média de 0,04

Gylmar
11 defesas em 397 jogos
média de 0,02

Hugo Souza
8 defesas em 82 jogos
média de 0,09

Hugo voa para evitar o pênalti de Veiga, a defesa mais importante da carreira - Rebeca Reis/Ag. Paulistão

Hugo voa para evitar o pênalti de Veiga, a defesa mais importante da carreira – Rebeca Reis/Ag. Paulistão

Dida
7 defesas em 95 jogos
média de 0,07

A CARREIRA DE HUGO

Flamengo
2020-2023
Jogos: 71
Gols sofridos: 73
Títulos:
Libertadores (2022), Brasileirão (2020), Copa do Brasil (2022) e Carioca (2021)

GD Chaves (Portugal)
2023-2024
Jogos: 27
Gols sofridos: 54

Corinthians
desde 2024
Jogos: 82
Gols sofridos: 77
Título: Paulista (2025)