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O campeão do mundo antecipado: o dinheiro do Catar

Dono do PSG, um dos fundos de investimentos do país terá na final dois de seus garotos-propaganda, Messi e Mbappé. O terceiro ficou apenas nos outdoors

DOHA – O sonho do governo do Catar, uma monarquia absolutista regada a petrodólares, era uma final de Copa do Mundo com Lionel Messi, Kylian Mbappé e Neymar em campo – diante da impossibilidade, ter dois deles amanhã no Lusail já seria espetacular. E então, pela primeira vez na história, haverá uma decisão em que os dois camisa 10 jogam no mesmo clube, o Paris Saint-Germain. O clube transformado em vitrine dos negócios cataris é a casa de alguns dos grandes nomes do futebol, embora não tenha ganhado nenhuma vez a Champions League, assunto para outra reportagem.

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O que vale agora é mostrar o plano do Catar na compra do PSG, em 2011, e porque a ideia chegou ao ápice agora em 2022. Ter uma equipe forte na Europa era o objetivo inicial. Acrescentar na alquimia a realização da Copa, cuja escolha de sede foi também movida a dinheiro, por óbvio, era a segunda etapa. O terceiro golaço exigiria alguma sorte – mas nem tanta assim – para que Argentina, França e Brasil, ao menos um deles e de preferência dois, disputasse a taça. Deu certo.

Em 2011, o clube francês foi adquirido pela Qatar Sports Investment (QSI), subsidiária da Autoridade de Investimento do Catar, o fundo de riqueza soberano do emirado. O acordo incluía o derrame de 1 bilhão de euros nas cinco primeiras temporadas e o negócio não parou de crescer. O mandachuva do time é Nasser Ghanim Al-Khelaifi, de 46 anos, um filho de pescadores que não nasceu rico mas soube navegar em contas bancárias. Ele iniciou sua aventura no esporte dentro das quadras, como um tenista medíocre. Representou o Catar em disputas da Copa da Davis e, segundo dados da Federação Internacional de Tênis, ganhou apenas 12 partidas e perdeu 39 em sua carreira profissional, encerrada em 2002.

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Em seguida, iniciou sua trajetória de sucesso nas finanças. Próximo ao emir do país, Tamim ben Hamad Al Thani, Al-Khelaifi tornou-se político e depois empresário. Foi presidente do grupo de mídia beIN, canal esportivo que arrebatou os direitos de transmissão de grandes campeonatos, e um dos patrocinadores atuais do PSG. Nomeado presidente do clube francês logo depois da compra do clube pelo fundo catari, rapidamente ganhou a simpatia dos torcedores ao promover a volta das torcidas organizadas ao estádio Parque dos Príncipes e ao contratar grandes estrelas, como David Beckham e Zlatan Ibrahimovic. O definitivo pulo do gato foi a compra de Neymar em 2017 (222 milhões de euros) e Messi em 2021 (que tinha o contrato encerrado no Barcelona e recebe 41 milhões de euros anuais).

“Estou orgulhoso por ter dois jogadores, os dois melhores jogadores do mundo, que disputam a final no meu país. É o melhor cenário”, declarou Al Khelaifi ao canal francês RMC, uma frase que talvez não deixe Neymar, o 10 do PSG, muito contente. O dono da grana ainda desconversou sobre sua torcida. “Somos um clube francês e meu segundo país é a França, mas por Messi, que talvez jogue última Copa do Mundo, fico dividido. […] Estou louco para estar nessa final porque é um grande prazer e um grande orgulho para mim como presidente do PSG. Se dependesse de mim, daria o título aos dois”, disse. Mais político, impossível.

O governo do Catar apostou no PSG e na Copa do Mundo para fazer valer o seu estilo de soft power do ponto de vista de diplomacia internacional – uma tentativa de esconder os problemas de desrespeito aos direitos humanos, misoginia e homofobia. Não é possível dizer que tudo funcionou, porque o Mundial acabou iluminando os problemas, divulgados pela imprensa do mundo inteiro.

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Atacante Neymar posa ao lado de Nasser Al Khelaifi, durante apresentação do jogador no PSG, no estádio Parque dos Príncipes, em Paris, na França - 05/08/2017
Nasser Ghanim Al-Khelaifi com Neymar: o brasileiro foi comprado em 2017 por 222 milhões de euros

Do ponto de vista da economia, contudo, ganharam na loteria. Os valores não foram divulgados, mas ter a turma do PSG na boca do povo, até o derradeiro segundo, é sinônimo de lucro. Pouco importa o resultado de Argentina e França – o Qatar saiu por cima. Com “Q” mesmo, e não “C”, de Catar. O campeão do mundo é o Qatar Sports Investment (QSI) e o governo que o alimenta. E Neymar, que ficou de fora da festa? Não ficou. Ele circula em painéis nas estações de metrô, na entrada dos estádios, nos shoppings etc. como garoto-propaganda da principal operadora de celular do país, além de outros patrocinadores. Divide espaço com Messi e Mbappé. Não foi por boniteza, mas por necessidade de contrato, que o camisa 10 brasileiro disparou uma nota de agradecimento aos organizadores do torneio em suas redes sociais: “Obrigado Qatar, por tudo… a Copa estava linda e ela tinha que ser do BRASIL para coroar tudo, mas por destino de Deus não foi”.

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