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O diário de Sócrates na Copa da Espanha

Há 40 anos, capitão da seleção brasileira narrou a rotina da equipe especialmente para PLACAR. Textos são destaque da edição comemorativa de junho

Há exatos 40 anos, em 13 de junho de 1982, teve início a Copa do Mundo da Espanha, com derrota da campeã vigente Argentina por 1 a 0 para a Bélgica, no Camp Nou, em Barcelona. Quatro décadas depois, aquele ensolarado Mundial não sai da memória dos brasileiros. A derrota da seleção de Zico, Sócrates, Falcão e companhia para a Itália do carrasco Paolo Rossi, conhecida como a tragédia do Sarriá, foi um duro golpe para os amantes do futebol arte e ajudou a marcou uma nova era do esporte. A edição de junho de PLACAR, já disponível em dispositivos digitais iOS e Android, e nas bancas de todo o país, homenageia aquela seleção brasileira e as emoções vividas naquela Copa. Um dos destaques é a reprodução do diário de Sócrates, o capitão da equipe, escrito especialmente para PLACAR.

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Confira, abaixo, a primeira página do diário, escrita em 14 de junho, dia da vitória brasileira na estreia, 2 a 1 sobre a União Soviética, com golaços do próprio Doutor e de Éder, em Sevilha. No texto, Sócrates revela a rotina na concentração andaluz, detalhes do jogo diante dos russos e a farra no retorno ao hotel. A íntegra do diário está na edição de junho. Boa Leitura!

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O advogado José Carlos Vilela, 50 anos, define com a maestria de um passe de calcanhar de Sócrates o que representou a derrota da seleção brasileira para a Itália na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. “É sinônimo de fracasso, sim, mas também de como devemos enfrentá-lo, de coração aberto e sinceridade”. Quem vivenciou a tragédia do Sarriá certamente se lembra de Vilela. Era ele o garoto de 10 anos que, com um choro da mais sincera tristeza, estampou a capa do Jornal da Tarde que entrou para a história. Quarenta anos depois, o torcedor-símbolo daquele esquadrão é um dos destaques da edição especial de PLACAR que recorda e homenageia a equipe dirigida por Telê Santana, com craques como Zico e Falcão, sinônimo de futebol arte. A revista de junho já está disponível em dispositivos digitais iOS e Android, e em sua versão física nas bancas de todo o país.

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Juca Kfouri, diretor de redação de PLACAR em 1982, foi quem teve a ideia de chamar Sócrates para escrever o diário. O craque anotava a mão e depois de cada partida entregava as folhas de papel pautado cuidadosamente preenchidas. Diz Kfouri, olhando para quatro décadas atrás: “Foi o trabalho mais fácil de minha vida — como datilógrafo”. O texto de Sócrates têm inestimável valor histórico.

Segunda, 14 de junho
Hoje é o dia do primeiro jogo. Nossa tranquilidade e confiança são totais. Conseguiremos fazer uma boa exibição e vamos vencer. Levantei cedo, às 10 horas, para tomar o café da manhã. Acho que fui o primeiro a levantar porque o refeitório estava vazio. Até a hora do almoço, ao meio-dia, fiquei lendo no meu quarto — que dá para uma vista linda do campo, com plantações de girassóis e trigo, e para a simpática cidade de Carmona.

Fiquei lendo um ótimo livro, O Sol Também Se Levanta, de Ernest Hemingway. Logo depois de almoçar, escrevi uma carta para minha Rê e para meus filhos. É que o Rodrigo escreveu uma em que mostrava demasiada preocupação comigo. Eram 16 horas quando nos reunimos para a preleção do Telê. Ficamos sabendo como ele queria que jogássemos e quem ficaria no banco. Isso durou uma hora, e vimos ainda um álbum sobre o futebol soviético. Deve ser um jogo duro. Vamos ver.

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Fizemos a última refeição e ficamos vendo Polônia x Itália na tevê. O jogo foi muito bom, com cada equipe sendo dona de um tempo. Saímos do Parador Carmona às 19 horas e fomos para Sevilha com muita descontração e samba no ônibus. Ao chegar, sentimos a presença gostosa da torcida brasileira na porta do estádio. Todos de amarelo. Voa canarinho, voa! Antes do jogo, bagunçamos um pouco, entrando no campo para sentir o clima. Daí, voltamos aos vestiários perfilados com os soviéticos. Antes, os árbitros fizeram o exame de nossas chuteiras. Ninguém levava canivete na sola…

A partida foi duríssima, mesmo. Criamos muito, mas erramos demais nas conclusões. O importante é que não perdemos a cabeça quando eles saíram na frente. No intervalo, todos nos incentivamos e partimos certos de que íamos virar. Assim que fiz o gol de empate, corri em direção à torcida para comemorar. Vi, no meio da nossa gente, uma bandeira corintiana bem à minha frente. Foi ótimo! Depois do jogo, Telê, Éder e eu fomos requisitados para a entrevista coletiva. A coisa acabou rendendo pouco para os jornalistas porque o tumulto era enorme, tantos eram eles.

A volta para a concentração foi com samba total, muito embora o cansaço fosse grande. Jantamos uma paella muito saborosa, tomamos uma cervejinha, mas estávamos preocupados com as contusões do Zico e do Serginho. Antes de dormir, falei com a Rê, o que me deixou tranquilo. Sua gravidez está em fase final e eu não estou a seu lado. Meu pai também ligou e eu falei com todos lá em casa, sabendo então dos detalhes da tremenda festa que o povo fez pela vitória. Começamos bem.

Edição de junho de 2022 de PLACAR: uma homenagem à seleção de 1982
Edição de junho de 2022 de PLACAR: uma homenagem à seleção de 1982
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