Bélgica x Croácia: qual ‘ótima geração’ dará adeus à Copa?
Sensações da Copa da Rússia têm briga direta por vaga nas oitavas, em meio a polêmicas sobre o envelhecimento de seus craques
DOHA – Alguns dos atletas mais talentosos do planeta devem se despedir da Copa do Mundo do Catar e possivelmente da história dos Mundiais nesta quinta-feira, 1º de dezembro. Além da tetracampeã Alemanha, correm risco duas seleções bem menos tradicionais, mas que encantaram na última edição, na Rússia, com suas gerações mais brilhantes. Bélgica e Croácia jogam no Ahmad bin Ali Stadium, a partir das 12h (de Brasília) numa briga direta pela classificação às oitavas de final. Os croatas jogam pelo empate, enquanto o rival precisa vencer.
Assine #PLACAR digital no app por apenas R$ 9,90/mês. Não perca!
Muito se falou nos últimos anos, primeiro com seriedade e depois com ares de chacota, sobre a “ótima geração belga”. Pela qualidade de nomes como o do goleiro Thibaut Courtois, dos meias Kevin de Bruyne e Eden Hzard e do atacante Romelu Lukaku, entre tantos outros, acreditava-se que os Diabos Vermelhos conseguiriam beliscar o primeiro título de sua história. O caneco não veio, mas os resultados estão longe de ser desprezíveis. Em 2018, após eliminar o Brasil nas quartas, o time caiu diante da França e terminou em terceiro. Em Eurocopas, onde pareciam ter mais chances, os belgas de fato decepcionaram: derrota para Gales em 2016, e para a Itália em 2021, ambas nas quartas.
Melhor fez a Croácia, ainda que de forma mais silenciosa. Poucos pensavam que a equipe de uniforme quadriculado liderada pelo craque Luka Modric poderia sequer repetir o feito da geração de 1998, que em sua primeira Copa como nação independente terminou em terceiro, com Davor Suker como artilheiro. No entanto, há quatro anos, o time só parou na final, diante a França, por 4 a 2 e eternizou nomes como Ivan Rakitic, Ivan Perisic e Mario Mandzukic.
Naquele ano, Modric recebeu a Bola de Ouro como melhor jogador do mundo e levou as lágrimas um velho ídolo que estava na plateia. “Também quero agradecer a meu ídolo, o capitão da Croácia em 1998 e minha grande referência, Zvonimir Boban, que nos deu a inspiração para fazermos grandes coisas na Rússia”, discursou o craque do Real Madrid, que certamente desempenhará o mesmo papel para as futuras gerações do Leste Europeu. Aos 37 anos, ele disputa sua quarta e última Copa.
As duas seleções europeias, portanto, têm grandes façanhas para se orgulhar, ainda mais a julgar pelo tamanho de suas populações (3,8 milhões, no caso de Croácia e 11,5 milhões da Bélgica). Ambos os times, porém, estão envelhecidos e mais fracos, conforme atesta uma bombástica declaração do craque De Bruyne, o estopim de uma forte crise na equipe belga.
“Sem chances [de ganhar a Copa]. Estamos muito velhos”, disse o astro de 31 anos do Manchester City, em entrevista ao Guardian. “Acho que nossa chance foi em 2018. Temos um bom time, mas estamos envelhecendo. Perdemos jogadores-chave. Temos bons novatos chegando, mas não estão no mesmo nível de 2018. Nos vejo mais correndo por fora”, disse o carrasco do Brasil na Copa da Rússia.
A frase, claro, causou enorme repercussão depois da chocante derrota por 2 a 0 para Marrocos, que por sinal tem média de idade mais alta que a da Bélgica (29 a 27). O zagueiro Jan Vertonghen, de 35 anos, deu na canela. “Acho que atacamos mal, porque nosso ataque também está envelhecendo”, disse, na zona mista, segundo diversos diário europeus. Ele tentou se acalmar, mas era tarde. “Tem muitas coisas passando na minha cabeça, é melhor nem falar, pelo menos não fora do vestiário. É frustrante”.
Dali, surgiram novos rumores, inclusive sobre briga entre companheiros no vestiário, negada veementemente pela federação. Na coletiva da véspera, ambos os treinadores minimizaram a crise belga. Roberto Martinez fez questão de defender seus jogadores. “Esta é a geração de ouro do futebol belga, não há dúvida. Estes atletas conquistaram a medalha de bronze na Copade 2018 e mantiveram a seleção nacional no topo do ranking mundial por quatro anos. Deixar um legado vai muito além de vencer um torneio.”
Zlatko Dalic, por sua vez, exaltou a colocação da Bélgica no ranking da Fifa (2ª, atrás do Brasil) e tentou jogar o favoritismo pro lado adversário. “Estamos jogando contra o segundo melhor time de futebol do mundo e eles foram o número 1 por muito tempo”, disse. “É um grande time e se pudéssemos, não teríamos escolhido este jogo para ser o decisivo. Não vamos nos enganar com o baixo desempenho deles nos últimos dois jogos.”
O zagueiro Timothy Castagne, da Bélgica, também tentou apagar o fogo e mostrar que a questão com De Bruyne estava superada. “Acho que não devemos mirar em um ou dois jogadores, estamos todos juntos nisso. Não acho que a idade seja um fator chave e não acho que jogamos mal porque Kevin disse isso”, afirmou o defensor do Leicester. “Nossa confiança não está tão baixa quanto as pessoas pensam. Sabemos que temos o nosso destino nas nossas próprias mãos.”
O jogo será especial para o goleiro Courtois, que nesta temporada brilhou como nunca na conquista da Liga dos Campeões do Real Madrid. Ele fará seu 100º jogo pela seleção e espera que não seja uma despedida em Copas. “As melhores lembranças foram minha estreia e a vitória sobre o Brasil em 2018. As piores são as eliminações em grandes jogos como este, espero que em meu 100º jogo eu saia feliz.”
Com o Canadá eliminado e o Marrocos com chances reais de classificação, a situação no Grupo F é a seguinte: a Croácia só precisa empatar nesta tarde. Se perder, precisa que o Marrocos perca do Canadá, no mínimo, pela mesma diferença de gols. A Bélgica também avança em caso de triunfo. Se empatar, precisa que o Canadá vença o Marrocos por três ou mais gols de diferença. Se perder, está fora.
“Vai ser duro. Precisamos de um ponto, mas temos de jogar pela vitória, porque é a única forma que sabemos jogar”, disse Ivan Perisic, outro grande nome desta geração, que exaltou a partida e seus protagonistas. “Para mim, Modric e De Bruyne são os melhores meio-campistas do mundo hoje.” Um deles, porém, tem grandes chances de dar adeus ao Catar.