Herói atípico, Marcos Leonardo precisou refazer teste para ficar no Santos
Artilheiro do Peixe na temporada, atacante também ganhou holofotes por defender Cássio de agressão, mas quase não permaneceu na Vila em 2015
Artilheiro do Santos na atual temporada com 14 gols e principal personagem da equipe na vitória por 1 a 0 no clássico diante do Corinthians, na última quarta-feira, 13, o atacante Marcos Leonardo também ganhou holofotes nas últimas horas por conseguir atrapalhar a agressão de um torcedor ao goleiro Cássio, ainda no gramado, arrancando elogios de corintianos nas redes sociais, inclusive da esposa do próprio Cássio, Janara Sackl. Cria do clube, o herói santista, curiosamente, quase não ficou na Vila Belmiro.
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Destaque de um projeto social de futebol criado pelo pai, Marcos Santos Almeida, em Itapetinga, na Bahia, o atacante se preparava para uma avaliação no rival São Paulo, em novembro de 2014.
Meses antes, em maio, se mudou para morar na casa de familiares em São José, no interior paulista, e passou a treinar em uma das franquias Meninos da Vila em Taubaté, município vizinho. Observado por um olheiro do Santos, foi convidado para uma avaliação e acabou aprovado após uma semana de testes, desistindo da peneira no rival.
Ao chegar em definitivo na Vila Belmiro, em janeiro de 2015, logo na apresentação o clube pediu para reavaliá-lo – e do zero novamente – devido a mudança de presidência, com um novo técnico, Gustavo Roma, e o ex-atacante João Paulo como coordenador. Diversos meninos aprovados acabaram dispensados.
“Estávamos morando de favor na casa de parentes, arcando com muitos custos que não tínhamos. Viemos para Santos e ficamos improvisados em uma pousada, já não tinha mais condições de permanecer. Precisamos ainda ficar uma semana refazendo todos os testes. Pensamos que fossem desistir dele, também. São experiências que forjaram ele, que nos fazem lembrar da nossa base e da nossa realidade”, conta o pai a PLACAR.
Até ganhar notoriedade no sub-13, pai e filho ainda conviviam com o temor de uma dispensa. Marcos Leonardo ficou e é hoje uma das raras exceções poupadas por torcedores na Vila Belmiro, ao lado do goleiro João Paulo, em uma equipe que brigou contra três rebaixamentos nas últimas duas temporadas.
Pouco utilizado no último ano pelo imbróglio para a renovação contratual, surpreendeu ao voltar a ser relacionado e marcar quatro gols nas últimas quatro rodadas do Campeonato Brasileiro passado, sendo decisivo para uma arrancada na competição. O time venceu duas vezes e empatou outras duas, assegurando permanência.
Apesar de quase ter sido rejeitado logo na chegada, o atacante tomou rumo diferente de outros dois revelados pelo Santos recentemente: Yuri Alberto e Kaio Jorge.
Hoje recém-chegado ao Corinthians, Yuri deixou o Santos em 2020, em negociação surpreendente com o Internacional. Parceiro de Rodrygo nas categorias de base, foi negociado por 10 milhões de reais para jogar pelo clube gaúcho. Pouco mais de um ano depois, acabou vendido pelo Inter com o Zenit, da Rússia, por 25 milhões de euros (150 milhões de reais).
Kaio Jorge também optou por não renovar. Destaque do clube, deixou a Vila em agosto do último ano para acertar com a Juventus, da Itália. O clube aceitou três milhões de euros (19 milhões de reais à época) para não ficar sem compensação financeira.
“Recebemos sondagens pelo Marcos desde os 15 anos. Ele treina no profissional desde os 15, é o maior artilheiro da base, mas temos um plano de sair do clube de forma diferente. Ele quer, sim, chegar na Europa, mas com algo mais construído no futebol brasileiro. Mesmo sabendo do risco, preferimos apostar que permanecer era o melhor caminho”, conta o empresário Fernando Brito.
“Tudo girava muito em torno do que o Santos queria com ele e para ele. Não é oferecer muito dinheiro ou pedir garantias de ser titular, isso ninguém pode fazer, mas o quanto ele seria importante para o projeto do clube. Quando isso ficou claro, renovamos”, completa.
No novo contrato, até 2026, foi inserida uma multa de 60 milhões de euros, além da previsão de aumentos anuais de salários, conforme metas atingidas como número de convocações ou gols marcados. Em 36 jogos, ele fez 14 e deu três assistências.
Segundo dados atualizados da Assophis (Associação de Pesquisadores e Historiadores do Santos FC), ele ainda pode igualar ou superar o início de carreira de Gabigol. O atacante do Flamengo tinha 28 gols quando completou 100 jogos pelo Peixe, enquanto ele tem 26 em 98.
Perfeccionismo por mais gols
Marcos Leonardo tinha só 11 anos quando iniciou a trajetória no Santos. O pai foi a principal inspiração e conselheiro dentro de campo.
Mesmo com poucos recursos, a família pagava a um profissional para filmar todas as ações do filho em jogos e treinamentos para depois mostrar a ele os erros e acertos. Ele tinha por hábito pedir para assistir vídeos de Ricardo Oliveira, Ronaldo Fenômeno e Romário para explicar sobre posicionamento.
“Na verdade, até hoje termina um jogo e procuramos mostrar acertos e erros nos jogos. Hoje há uma pessoa que faz isso para nós, que já trabalha separando o material que precisamos, mas desde quando chegou na base já tentamos fazer isso. A autocrítica facilita muito para depois por em prática”, explica Marcos, pai do jogador.
Ex-atacante, o pai chegou a atuar na segunda divisão da Bahia e foi destaque de um tradicional campeonato amador que já revelou nomes como Júnior, Liédson, Júnior Baiano e Aldair.
No sub-15, antes de conseguir contratar um preparador físico particular e um fisiologista para ajudar no desenvolvimento, levava diariamente o filho para a praia para aperfeiçoar fundamentos, além de pedir para treinar finalizações com a perna esquerda ao fim de cada atividade. Alimentação e bom sono também sempre foram vigiadas pela família.
Os resultados vieram cedo: foi o artilheiro do Campeonato Paulista sub-13, com 25 gols, e do Paulista sub-15, com 36. Marcou mais de 100 gols na base santista mesmo tendo subido com apenas 15 anos, sob olhares de Jorge Sampaoli.
Hoje, o prodígio faz aulas de inglês e de educação financeira. Segundo o seu empresário, ainda não há propostas – e nem pressa – para sair. O Santos, agora, é quem espera não perdê-lo mais tão cedo.
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