Não há formalidades entre Paulo Roberto e João Baptista. Os dois têm encontro marcado com a eternidade dali dois dias, 17h15, na — atenção para o catalão fluente — Passatge de Forasté, onde fica o estádio de Sarriá, um dos dezoito que a Espanha escolheu para receber partidas da Copa do Mundo de 1982. O que custa planejar, de véspera, uma ou outra coisinha para a história ficar mais legal? João Baptista, o Scalco, sugere a Paulo Roberto, o Falcão, que, em caso de gol no jogo contra a Itália, comemore voltado para as tribunas de rádio e TV, onde estará o fotógrafo amigo. O camisa 15 da seleção, tal qual Eder Aleixo dias antes, aceita o pedido, conhecidos que são dos tempos de fazer miséria no Beira-Rio, Falcão de chuteiras, Scalco com uma Nikon F-3 no pescoço, geralmente brincando com o limite entre a melhor foto e o desperdício, brincadeira na qual sempre saía tão vitorioso quanto o invicto Internacional de 1979, primeiro ano daquele ciclo mundialista que se fecharia na Copa do Mundo, nas mãos de Telê, no sonho de quem via o Brasil começando a se abrir e se livrar de um regime militar em colapso.
JB Scalco sabia, na hora do clique, se a foto seria boa. Antecipava a revelação. Era de se imaginar, portanto, que se anteciparia também aos fatos, posto que foi o primeiro a cantar premonitoriamente a bola do gol de Falcão — mas o horário não foi combinado, e não podia ser mais adequado: aos 27 do segundo tempo, quase sete da noite em Barcelona, começo de fim de tarde naquela cidade, sol baixando posicionado em ângulo que, em Porto Alegre, fez de Scalco um consagrador dos segundos tempos, um homem cuja foto do jogo era também do pôr-do-sol, mas sem o sol, um domesticador de luzes, sujeito que, juram, nos domingos mais áridos fazia o astro-rei esperar um pouquinho suspenso no canto do céu até que sua foto saísse ao seu gosto. “Tem a foto? Posso ir?”, diria o sol, pedindo permissão como um abajur servil. Ao gol: Falcão marca, é o empate e a classificação de um Brasil que, no fim, perdeu e não se classificou porque não soube ser pragmático o suficiente (ou porque o futebol não presta), e, neste sentido, quem mais poderia ser o dono da foto mais icônica daquele time que não JB Scalco, também um incapaz de sucumbir ao pragmatismo em seu ofício?








