O Corinthians atravessa uma intensa crise, com quatro jogos sem vencer nem marcar gols, e a notícia da semana foi o desabafo do goleiro Cássio, segundo jogador que mais vezes vestiu a camisa alvinegra, e que cogitou deixar o clube em meio às críticas que vem recebendo. Se confirmado, o adeus do ídolo não seria um caso inédito: diversas lendas do Timão se despediram de forma negativa, como Neto, Marcelinho Carioca, Rincón, Edílson, Carlitos Tevez e Paolo Guerrero. Mas nenhuma saída foi tão dolorosa quanto a de Roberto Rivellino, há 50 anos, após a derrota para o Palmeiras no Paulistão de 1974.

No início dos anos 1970, não havia jogador mais identificado com o Corinthians do que Roberto Rivellino – então grafado como “Rivelino”, com apenas um L. Depois de atuar como amador no Clube Atlético Indiano e no futebol de salão do Esporte Clube Banespa, o jovem de 19 anos tinha sido recusado pelo Palmeiras (seu clube do coração na infância), quando conseguiu uma chance no Parque São Jorge, em 1965. Disputou a Copa do Mundo de 1970, no México, improvisado na ponta esquerda. Se é que há alguém que duvide do seu talento, basta dizer que, depois que Pelé se aposentou da seleção, Rivellino herdou a camisa 10 do time canarinho, pelo qual atuou até 1978.

Quatro anos antes, porém, o Reizinho do Parque, ídolo da torcida, dono da Patada Atômica, foi apontado como grande vilão na decisão do Campeonato Paulista de 1974, justamente contra o arquirrival Palmeiras, em 22 de dezembro. A primeira partida, realizada quatro dias antes, havia terminado empatada em 1 a 1. Naquele domingo, era tudo ou nada, e o jogo terminou 1 a 0 para o Verdão. Boa parte da imprensa criticou Rivellino por sua atuação apagada e pouca vibração em campo.;

Abalado com a derrota, Rivellino voltou do Morumbi a pé para casa, refletindo sobre a sua sina de frustrações no Corinthians. Na época, ele dizia que trocaria o tri no México com a seleção por um título pelo Timão.  Um mês depois da derrota, em entrevista a PLACAR 251 de janeiro de 1975, (ler na íntegra abaixo) quando já negociava sua venda para o Fluminense, Rivellino narrou sua tristeza.

“Não chorei em público porque não sou de fazer cenas, de achar que todo mundo precisa registrar meus sentimentos para eles serem válidos. Chorei sozinho, em casa, num canto. Até depois do jogo eu pensei que entendia a torcida e que devia perdoar sempre aqueles que
muitas vezes gritavam contra mim. Não tenho lido nada nem ouvido nada, mas sei e sinto que fui xingado, avacalhado, que passei a ser o único culpado pela derrota e que pouca gente saiu para me defender. Tem coisas que a gente, por mais que tente, não consegue esquecer. Entende?”, disse o craque.