O mercado de apostas esportivas já é uma realidade consolidada no Brasil. A regulamentação foi aprovada e representa um avanço relevante, mas o desafio agora é garantir que ela funcione de maneira efetiva. Trata-se de um setor que movimenta bilhões, gera empregos e tem impacto direto na cadeia do esporte, especialmente no futebol. Ainda assim, continua sendo tema cercado de ruído, interpretações equivocadas e, em muitos casos, desconfiança.
Para que o ecossistema evolua, é preciso abandonar discursos simplistas, tanto os que demonizam quanto os que romantizam, e adotar uma visão madura: fortalecer a regulação, fiscalizar com rigor e profissionalizar o mercado. Esse tripé é o que pode transformar o setor em uma indústria funcional, capaz de gerar receita, inovação e oportunidades sem abrir mão da responsabilidade.
Ao mesmo tempo, é impossível ignorar a preocupação legítima com o vício em jogo. O tema é sério e deve ser tratado de forma transparente, com base em evidências, e não em narrativa. No ambiente regulado, existem ferramentas como autoexclusão, limites de depósito, monitoramento de padrões compulsivos e suspensão preventiva. Há ainda operadoras que mantêm parcerias com instituições especializadas para atendimento psicológico e orientação ao usuário.
Esses mecanismos simplesmente não existem no mercado ilegal, que opera sem qualquer controle ou compromisso com o bem-estar do apostador. Estudos recentes indicam que esse segmento clandestino já representa cerca de 50% de toda a operação no país, o que reforça a necessidade de atuação firme do Estado.
Sem fiscalização efetiva, as plataformas ilegais continuam crescendo à margem da lei, aumentando riscos ao consumidor, reduzindo arrecadação e enfraquecendo a credibilidade do sistema regulado.
Quando há um ambiente que valoriza a legalidade, o resultado é mais claro: empresas cumprem normas, pagam impostos e ajudam a sustentar parte da estrutura esportiva, como clubes, ligas e transmissões.
Experiências de outros países trazem aprendizados importantes. Reino Unido e Espanha, por exemplo, registraram avanço do mercado ilegal quando as regras para as operadoras licenciadas se tornaram excessivamente restritivas. Quando o setor regular é sufocado por burocracia ou por taxações desproporcionais, o apostador migra para alternativas clandestinas, onde não há proteção nem contribuição ao Estado.
No Brasil, o momento exige execução competente da regulamentação, com equilíbrio entre controle, segurança e competitividade. É fundamental punir quem atua fora da lei, mas também garantir um ambiente viável para quem decide operar dentro das regras. O futuro do setor dependerá da qualidade da gestão pública, da seriedade das empresas e da capacidade do ecossistema esportivo de lidar com esse tema com profissionalismo, e não com interpretações passionais.
A regulamentação chegou. O país agora precisa implementá-la bem, corrigir distorções e encontrar o ponto de equilíbrio.






