A Eurocopa de 2024 está prestes a começar na Alemanha e a competição da Uefa traz, inevitavelmente, uma divertida lembrança na redação de PLACAR. Há 24 anos ocorreu a primeira Euro com sede dividida, na Holanda e na Bélgica. A mais tradicional revista esportiva da América Latina estava lá, aliás, era o único veículo da imprensa brasileira cobrindo a competição in loco. O fotógrafo Alexandre Battibugli mergulhou na experiência e não só produziu belas imagens e textos, como chegou a se disfarçar de hooligan britânico para uma reportagem publicada na PLACAR de julho de 2000.

Na época, os resquícios dos tempos de hooliganismo, como ficou conhecido o comportamento de torcedores violentos, que causavam desordem e vandalismo nos estádios, especialmente na Inglaterra, eram mais fortes. Nosso fotógrafo não se envolveu em nenhuma briga, evidentemente, mas em uma das paradas da viagem, comprou camisa do “English Team” e até uma cerveja (apesar de não beber) e se uniu a um grupo de fãs britânicos, empolgados com a ascensão da nova estrela da equipe, Michael Owen. O time acabaria eliminado na primeira fase, junto com a Alemanha, num grupo em que Portugal e Romênia avançaram.

Battibugli enfrentou olhares atravessados no trajeto de Bruxelas a Charleroi vestido de hooligan, mas enfrentou outros desafios. “A transmissão de fotos era um perrengue enorme, pois eram os primórdios da internet e ainda tínhamos de conectar a linha telefônica ao computador. Você mandava a foto e demorava um tempão para transmitir”, conta o fotógrafo, que segue trabalhando em PLACAR. “Muitas vezes, acontecia de o hotel estranhar que a linha estava ocupada por muito tempo e cortá-la do nada, o que interrompia todo o processo. Foram dias de muita briga, mas para mandar as fotos.”

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Na carta ao leitor daquela edição, o então diretor de redação, Sérgio Xavier Filho, destacou as aventuras de seu “hooligan caipira”. “Alexandre Battibugli é um gladiador moderno. Disfarçado de subeditor de fotografia, Bati faz coisas incríveis para sobreviver. A começar pelo simples trajeto casa-trabalho. Para chegar à redação de PLACAR, ele precisa vencer de ônibus os 100 quilômetros que separam Campinas de São Paulo, dedicar perto de quatro horas diárias no quesito transporte. Quer algo mais selvagem? Pois bem, Bati inventou de ter três filhos. O Nicolas até que é bonzinho, mas a Isabela, 6 anos, é uma peste. Mas a cruz não estava demasiadamente pesada. Bati ainda torce pela Ponte Preta, um clube de 100 anos e sem títulos. E sofre pela Ponte, para deleite da sádica redação de PLACAR”, resumiu.

“Apesar de ter fotografado duas Copas do Mundo, ter o passaporte lotado de carimbos do mundo inteiro, ele tem alma caipira. Não fica à vontade fora de seus domínios. Na hora de comer, espera o repórter fazer o seu pedido e pede o mesmo. Sempre. Virou o “me too”. E Bati é um pára-raio de confusão. No Mundial da França, estava no meio da pauleira dos hooligans ingleses. Quando a turba se aproximou, tentou se salvar dizendo “Press, press”. Tomou uns cascudos. E se tem algo que os hooligans não suportam é imprensa”, prosseguiu Sérgio Xavier.