Ex-amigos, Tite e Felipão voltam a se cruzar; entenda rixa que já dura 13 anos
Scolari já foi tratado como mestre, e até deu o apelido que consagrou o técnico do Flamengo, mas amizade foi rompida em 2010, deixando mágoas mútuas
Flamengo e Atlético-MG fazem nesta quarta-feira, 29, a partir das 19h30, no Maracanã, um duelo decisivo na parte de cima da tabela do Brasileirão, que terá dois grandes protagonistas à beira do gramado. Os gaúchos Tite e Luiz Felipe Scolari já foram grandes amigos, mas romperam relação há 13 anos e nunca mais se falaram. A rivalidade entre Corinthians e Palmeiras foi o estopim para a rixa que acirra ainda mais o confronto desta noite entre o vice-líder e o quarto colocado da competição.
Tite e Felipão se conhecem desde a década de 70, quando Felipão era jogador e treinador do Caxias e levou o atual técnico do Flamengo, então um promissor meio-campista, para atuar na equipe. Ironicamente, foi o próprio Felipão quem deu o apelido “Tite” ao jovem Adenor, ao confundi-lo com outro garoto, que faltara ao treino.
Tite sempre se disse grato pelo auxílio que recebeu de Felipão tanto no início de carreira de atleta como de treinador. A relação entre mestre e pupilo, porém, ficou estremecida a partir da reta final do Brasileirão de 2010. Na época, o Corinthians de Tite disputava o título com o Fluminense, que enfrentaria o Palmeiras de Felipão na reta final. O que se seguiu depois foi uma troca de farpas, acusações e mágoas.
A situação foi escancarada com uma declaração de Miro Bachi, irmão de Tite, na biografia Tite escrita pela jornalista Camila Mattoso e lançado em 2016. “O Felipe é malandragem, é ganhar de qualquer jeito. É um cara de família e eu admiro ele por isso. Mas entra em campo e esquece da vida. Ali acabou a relação”, afirmou Miro, que acusou Felipão de ter “entregado” o jogo para o Fluminense para prejudicar o Corinthians.
Tite jamais confirmou a versão do irmão – tampouco negou e disse apenas que Miro era responsável pelo que disse. “Gratidão eu tenho pelo início, por conselhos e orientações. Depois desse jogo de 2010, passou a ser uma relação profissional. Não perdi a gratidão, mas eu comecei a ver com outros olhos”, afirmou Tite, também em sua biografia.
Relembre o caso
Na penúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2010, o Corinthians receberia o Vasco, enquanto o Fluminense enfrentaria o Palmeiras em Barueri. A vantagem dos cariocas sobre os paulistas era de apenas um ponto. Ou seja, caso o Fluminense não vencesse aquela partida, o Corinthians assumiria a liderança se triunfasse. Os paulistas fizeram 2 a 0 no Vasco, mas os cariocas venceram, de virada, o Palmeiras por 2 a 1, em jogo no qual o grande destaque foi o goleiro palmeirense Deola – vaiado pela própria torcida.
Com a vantagem, o Fluminense precisaria apenas vencer o Guarani, no Maracanã, para ser campeão na última rodada. Isso aconteceu e o Corinthians, que apenas empatou com o Goiás, foi ultrapassado pelo Cruzeiro e caiu para a terceira colocação do torneio, classificando-se apenas para a fase pré-Libertadores.
Na disputa da pré-Libertadores, o Corinthians foi eliminado de forma vexatória pelo Deportes Tolima, da Colômbia, dias antes de enfrentar justamente o Palmeiras pelo Campeonato Paulista. Tite estava ameaçado no cargo e foi defendido por Felipão, que disse achar injustas as críticas ao colega. Chegou a dizer que, se a permanência de Tite no cargo dependesse do clássico, “gostaria de perder o jogo”.
A vitória por 1 a 0, com gol de Alessandro, salvou o emprego de Tite, mas o treinador do Corinthians teria ficado enfurecido com a frase de Scolari. Após a partida, Felipão tentou se explicar e citou o caso do Brasileirão de 2010, dando a entender que o assunto havia sido discutido entre eles.
“Cada um tem que cuidar da sua casa. E cuida bem da mulher que ele tem em casa, porque se cuidar da mulher do vizinho, os caras vão ‘chapar’ a mulher dele. Ele não tem que achar justificativa no Palmeiras para não ter conseguido o primeiro ou segundo lugar no Campeonato Brasileiro. Eu tentei apenas dizer que a derrota de um time proporcionar a saída de um bom técnico era um absurdo e que, se fosse isso, eu gostaria de perder. “, falou Felipão após a derrota. “Falei isso pela amizade que tenho com ele. Agora se existe essa amizade ou não, deixa para lá”, completou.
Na semifinal do mesmo torneio, Felipão e Tite voltaram a se enfrentar no Pacaembu com mando do Palmeiras. Após empate no tempo normal, a vaga foi decidida nos pênaltis, com vitória corintiana por 6 a 5. No meio do jogo, Tite se irritou com Scolari e protagonizou uma cena que ficou marcada para os torcedores. “Fala, muito! Fala, muito”, dizia Tite, fazendo gestos de palavras com as mãos.
Na última partida entre as equipes no ano, um empate entre Corinthians e Palmeiras por 0 a 0, novamente no Pacaembu, deu o título brasileiro ao Alvinegro. Os treinadores chegaram a se cumprimentar antes da partida, mas sem a mesma sintonia de antigamente. O último duelo entre os ex-amigos ocorreu no Brasileirão de 2012, com nova vitória do Corinthians sobre o Palmeiras, por 2 a 1.
A troca de farpas deixou mágoas mútuas. “Você acha isso correto de quem tu conhece há 30 anos, de quem te abriu todas as portas? Quem te deu a oportunidade de ser jogador do Caxias, de começar na carreira e arranjar lugares fora do Brasil para trabalhar? Essa é a gratidão?”, questionou Felipão à ESPN Brasil, em 2017.
O atual treinador do Flamengo contou, em entrevista à Folha de S. Paulo, que procurou o antigo mestre, campeão do mundo em 2002 com a seleção, para uma conversa. “Não foi possível. Tentei contato por e-mail duas vezes e não obtive resposta, aí vi que não ia ter diálogo e desisti”. “Por que eu tenho que atender se quando eu solicitei (uma conversa) eu não fui atendido? Nem ouviu o porquê daquilo. Então tá bom!”, rebateu Felipão.
Nesta noite, os dois estarão frente à frente em mais um jogo de alta tensão. O Flamengo é o vice-líder do campeonato, com os mesmos 63 pontos do líder Palmeiras, enquanto o Galo tem 60 e ainda sonha com o título, a três rodadas do fim.
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