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Tite em estado puro: técnico ‘leva tiro’ por Neymar e tenta aliviar tensão

Na véspera da decisão contra a Sérvia, treinador revela que também já chorou e diz que não teme um “novo Tolima” em sua vida

Por Alexandre Salvador |

O técnico Tite durante coletiva de imprensa antes da partida contra a Sérvia

MOSCOU – Tite não gosta de ser rotulado de “psicólogo”, mas nesta segunda-feira usou e abusou de suas habilidades para tentar aliviar o ambiente de tensão na seleção brasileira. Na véspera da partida decisiva contra a Sérvia, em Moscou, que pode tirar o Brasil da Copa do Mundo na primeira fase pela primeira vez em 52 anos, o técnico chamou para si a responsabilidade: blindou seus atletas mais contestados – especialmente Neymar – bancou seu time titular e se esforçou para demonstrar uma tranquilidade que ele próprio admitiu não sentir.

O controle emocional de Neymar, que chorou na última partida contra a Costa Rica, foi tema de diversas perguntas. Enquanto o capitão Miranda fugiu completamente do tema, alegando que “não devemos pensar no individual”, Tite falou abertamente – e ainda preferiu “levar chumbo” no lugar de seu camisa 10 ao revelar que também já se derramou em lágrimas, após estrear na seleção com uma vitória categórica sobre o Equador.

“Chorei de alegria, de satisfação, porque nossa característica é emocional. Chorei de prazer, orgulho de fazer um grande jogo diante de pressão. Por isso, tenho muito cuidado ao fazer essas observações. Sou técnico e tenho emoção e acho que é preciso ter equilíbrio. Há momento da calma, do gelo, de manter padrão. Mas não devemos perder nossa essência e achar que um momento de emoção possa ser sinônimo de desequilíbrio.”

Em seguida, mais “Titebilidade”: ao falar sobre uma declaração do ex-treinador italiano Fabio Capello, de que treinadores brasileiros incentivam seus atletas a simular faltas, citando o lance de Neymar contra a Costa Rica, Tite falou grosso. “Capello, vou falar de técnico para técnico: foi pênalti! Foi pênalti”. Em seguida, ao tratar de aspectos disciplinares, deixou claro que cobra todos os atletas – mas na intimidade.

“Não vamos expor os erros que cometemos publicamente, por questões éticas, mas pode ter certeza de que não nos omitimos. Entre ter um mau prestígio e uma má consciência, eu prefiro ter um mau prestigio, não vou externar nada em relação aos erros cometidos.” E foi claro ao explicar por que não vai poupar Neymar, Philippe Coutinho e Casemiro, que estão “pendurados” com cartão amarelo e podem ficar de fora das oitavas de final. “Nossa continuidade depende deste jogo.”

Tite fez piadas, falou sobre o “carisma” do “Canarinho Pistola”, mascote da seleção, contou sobre uma gafe que cometeu na concentração – confundiu o coletivo de lobos (alcateia) com o de cães (matilha). Em seguida, voltou a explicitar seus métodos ao justificar sua descontração. “Eu, estrategicamente, estou buscando palavras para que haja uma descontração”. E não se importou ao ser questionado se a Sérvia pode ser um “novo Tolima” em sua vida – a equipe colombiana que eliminou o Corinthians, de forma vexatória, na pré-Libertadores de 2011.

“Pode, sim. Todas as situações são possíveis e trago todo um aprendizado. Mas há uma diferença, eu já estou há dois anos e pouco com essa equipe. Hoje, quando chega no fim do jogo, não bate desespero, a equipe mantém padrão. Isso eu não tinha contra o Tolima, hoje eu tenho. Mas pode acontecer, é da vida.”

Histórico mantém Paulinho e Willian no time

Tite nunca foi um técnico marcado por mexer demais em seus times. Nos momentos de maior contestação, costuma defender publicamente seus atletas e passar-lhes confiança. Foi o que o técnico gaúcho fez nesta segunda-feira para justificar a manutenção de Paulinho e Willian no time titular, apesar de duas partidas abaixo da média. “Eles têm condições de crescer, a equipe vai se harmonizando. Olhe a trajetória do Willian e do Paulinho, como foram consistentes e decisivos. Não dá para esquecer dos jogos do “foguetinho”, do jogo do Paulinho contra o Uruguai. Eles construíram isso.”

Por fim, Tite evitou demonstrar qualquer tipo de fragilidade e disse que a trajetória nestes dois anos de trabalho o tranquiliza para a partida decisiva. “Quando olho para trás e vejo tudo que nossa seleção fez, desde o primeiro jogo, a força de cada um, os jogos que fizemos para chegar até aqui… Isso me gera expectativa, mas também confiança, essa equipe já está calejada para jogos importantes. Construímos isso, e eu também tenho uns trinta anos de bagagem”, disse, novamente chamando para si a responsabilidade.

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