O sucesso do futmesa, o pingue-pongue com bola de futebol
Os criadores do Teqball — como a brincadeira criada na Hungria também é conhecida — sonham com a inclusão da modalidade no programa olímpico
Quem acompanha as redes sociais dos principais jogadores de futebol do mundo já deve ter deparado com uma cena parecida com a da foto acima: uma porção de craques em torno daquilo que, à primeira vista, parece ser uma mesa de pingue-pongue, mas de superfície curva, em acaloradas disputas para ver quem deixa a bola cair no chão, e ponto para o outro lado. É uma brincadeira conhecida no exterior como Teqball, mas que no Brasil ganhou um nome diferente, um pouco mais palatável: futmesa. De tão popular, o jogo já extrapolou a bolha dos boleiros. Há vídeos circulando na internet de outros entusiastas famosos, entre os quais os cantores Justin Bieber (que é bom de bola, diga-se) e Adam Levine, além do colombiano Maluma. É febre irresistível.
Não há como deixar de estabelecer a comparação entre o futmesa e o futevôlei, modalidade esportiva concebida nas areias do Rio de Janeiro na década de 60 e o segundo esporte de ex-craques como Romário e Renato Gaúcho. Em outras palavras: o futmesa é uma versão sem areia do futevôlei, e as semelhanças das regras comprovam o parentesco (veja o quadro).
Adotada com vigor pelos brasileiros, a modalidade não nasceu por aqui. Ela saiu da cabeça de dois ex-futebolistas da Hungria, terra de Ferenc Puskás, um dos maiores craques dos gramados e que dá nome ao prêmio entregue pela Fifa ao autor do gol mais bonito do ano. “Quando brincávamos com uma bola maior sobre a mesa de pingue-pongue, o que mais nos irritava era vê-la quicar e ‘morrer’ sobre a mesa, o que dificultava o contra-ataque”, disse a VEJA Viktor Huszár, um dos desenvolvedores da mesa do novo esporte. O nome, Teqball, foi escolhido pela dupla húngara em homenagem aos jogadores mais habilidosos, os “técnicos” (ou “teqs”, na corruptela encurtada, em húngaro).
Formado em ciência da computação, Huszár modelou virtualmente um protótipo que ajudasse a fazer com que a bola subisse ao bater na superfície. Além de “entortar” a plataforma de jogo e trocar a estrutura de madeira por outra de aço revestido, substituiu o material da rede (saiu a malha entremeada de fios de nylon e entrou uma placa transparente de acrílico, mais resistente às boladas). Embora tenham contratado Ronaldinho Gaúcho como embaixador da marca, os fabricantes garantem que o sucesso de seu produto é resultado do boca a boca, movimento impulsionado, é claro, pelas curtidas das redes sociais. Talvez porque à primeira vista soe insólito, e depois se perceba que é realmente divertido. “Entendemos que estávamos atingindo um patamar inédito quando soubemos que o (lateral brasileiro do Real Madrid) Marcelo tinha uma mesa em casa”, diz Huszár. “E acredite: não fomos nós que vendemos o equipamento a ele.”
Lançada em 2014, a versão final da mesa de Teqball já atingiu a marca de 10 000 unidades produzidas, ao custo para o consumidor de 1 990 euros cada uma. Embora não seja comercializada oficialmente no Brasil — os fabricantes prometem um canal de vendas exclusivo para o país para o ano que vem —, em uma rápida busca pela internet é possível encontrar diversas releituras (com diferentes formatos e materiais) da “quadra” de futmesa. “Temos o design patenteado e preocupação com a segurança dos praticantes, mas não temos como impedir a venda de releituras do nosso produto”, afirma Huszár. O curioso é que a pirataria, caminho para um número maior de praticantes, pode ajudar os criadores do Teqball em seu objetivo: transformar a brincadeira numa modalidade respeitada. Recentemente, foi anunciada a intenção de incluir o Teqball no programa de modalidades olímpicas até 2028, nos Jogos de Los Angeles. Antes que alguém os acuse de sonhar alto e torto demais, vale a lembrança: o Comitê Olímpico Internacional aceitou a sugestão dos organizadores da edição de 2024, em Paris, de inserir a versão competitiva do break dance como um esporte. Sim, em 2024 haverá o break dance olímpico! Antes disso, nos Jogos de Tóquio, em 2020, ocorrerão disputas de surfe, skate e escalada. A Federação Internacional de Teqball (real, sediada em Lausanne, na Suíça) trabalha arduamente para expandir o número de países adeptos da modalidade. Na próxima Copa do Mundo, em Budapeste, em dezembro, prevê-se a participação de sessenta países, com 150 000 euros em prêmios. Mais até do que o futevôlei, o futmesa está em vias de alçar grandes voos.
Publicado em VEJA de 20 de novembro de 2019, edição nº 2661