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Mohamed Salah: da infância pobre no Egito ao estrelato

Atacante do Liverpool viajava 9h por dia na infância para realizar o sonho de se tornar profissional

Por Alexandre Senechal |
Mohamed Salah

O atacante egípcio Mohamed Salah comemora a classificação de sua seleção para a Copa do Mundo após vitória sobre a seleção do Congo

Finalista da Liga dos Campeões da Europa com o Liverpool, recordista de gols de uma única edição do Campeonato Inglês com 20 times e cotado para ser o melhor jogador do mundo do ano. Os números de Mohamed Salah na temporada são impressionantes e o credenciam para ser um dos grandes destaques da Copa da Rússia. Uma lesão no ombro, resultado de um puxão do zagueiro do Real Madrid Sergio Ramos, entretanto, colocou em cheque a sua participação. Em que condições o craque chegará? Esse é só mais um dos percalços da vida do camisa 10 do Egito. A infância difícil e os problemas do país foram obstáculos bem mais complicados.

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Mo Salah, como é chamado pela torcida de seu clube, nasceu no vilarejo de Nagrig, no Egito, e sempre quis ser jogador de futebol. Se isso é comum no Brasil, não dá para dizer a mesma coisa do país africano: o críquete é o esporte número 1. Mesmo assim, aos 14 anos, o então veloz lateral-esquerdo conseguiu uma vaga nas categorias de base do Al-Mokawloon. O problema era a distância até a cidade do Cairo. O atleta gastava 9 horas de ônibus todos os dias para ir e voltar dos treinos e isso prejudicou os seus estudos. Ele tinha de ficar apenas duas horas na sala de aula para dar tempo de chegar à capital do Egito.

Começou a colher os frutos já aos 16 anos. Após seu técnico na base transformá-lo em atacante e ele marcar 35 gols na temporada, o Al-Mokawloon subiu sua joia para a equipe principal. Estreou no time profissional em 2009, com 17 anos, e não demorou para virar titular. Em 2012, o massacre no Estádio Port Said, que transformou o jogo entre Al-Masry e Al-Ahly em uma verdadeira guerra, paralisou o campeonato egípcio por dois anos.

A sorte de Mo Salah foi que suas boas atuações renderam convocações para as seleções de base do Egito e o Basel se interessou pelo futuro craque. O time suíço marcou um amistoso contra o time Sub-23 do Egito para observar o jogador mais de perto e gostou do que viu. Uma temporada depois, com o título do campeonato suíço no currículo e após ajudar o time a chegar nas semifinais da Liga Europa, o Chelsea era seu novo destino.

No clube inglês, não conseguiu chamar atenção do técnico na época, José Mourinho, e pouco jogou. Passou pela Itália com destaque em Fiorentina e Roma até convencer o Liverpool a pagar 42 milhões de euros para voltar à Inglaterra. O valor, consideravelmente baixo para os padrões atuais, foi alvo de críticas da torcida e imprensa do país britânico quando o negócio foi concretizado. O atacante tratou de mostrar que as reclamações eram infundadas.

Se Mourinho não gostava muito de Salah, os egípcios têm verdadeira devoção pelo jogador. Não só porque foi eleito o melhor jogador africano pela confederação de futebol do continente ano passado. Nem por ter sido o artilheiro das eliminatórias africanas e marcado o gol que colocou o Egito na Copa do Mundo depois de 28 anos. Salah faz de tudo para ajudar seu país, principalmente Nagrig, seu vilarejo natal. O atacante do Liverpool fundou uma instituição de caridade e pagou pela construção de uma escola da comunidade, além de fazer uma doação para melhorias no Hospital Basioun, que atende a região, e efetuar a compra de algumas ambulâncias.

A história mais curiosa aconteceu enquanto Salah ajudava o Egito a vencer o Congo e garantir uma vaga na Copa. Durante a partida, a casa de sua família em Nagrig foi assaltada. O ladrão foi preso, mas o jogador convenceu a família a retirar a queixa, doou dinheiro para o assaltante e ainda o ajudou a conseguir um emprego.

A preocupação com o bem estar de compatriotas é tão grande que Salah sempre visita os antigos amigos no período do Ramadã – época de renovação da fé para os muçulmanos, na qual eles passam o mês jejuando do nascer ao pôr-do-sol. Ele brinca com os colegas de infância e não se recusa a dar nenhum autógrafo, de acordo com moradores de Nagrig.

Se a preocupação do atacante é com a melhora das condições de vida dos egípcios, o país espera que Mohamed Salah se recupere e ajude a seleção a conseguir sua melhor colocação em Mundiais. Para isso, basta o Egito passar de fase. O camisa 10 deve perder a estreia da equipe contra o Uruguai, no dia 15 de junho, mas estar apto para enfrentar Rússia e Arábia Saudita, os outros dois adversários do grupo A.

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