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Luxa e Ceni se reencontram. Há 18 anos, goleiro enfureceu técnico

Nos arquivos de PLACAR: Rogério era o titular da seleção de Luxemburgo até falhar feio e dar declarações infelizes em festa contra o Barcelona, em 1999

Por Luiz Felipe Castro |
Rogério Ceni

Rogério Ceni em amistoso da seleção brasileira contra o Barcelona em 1999, em comemoração ao centenário da equipe espanhola no Camp Nou

Rogério Ceni e Vanderlei Luxemburgo, dois dos personagens mais vitoriosos e controversos do futebol nacional, se enfrentarão pela primeira vez como técnicos nesta quarta-feira, no jogo entre São Paulo e Sport, na Ilha do Retiro. Os dois são velhos conhecidos: Luxa, de 65 anos, nunca treinou o São Paulo, único clube que Rogério, 44, defendeu, mas trabalhou com o goleiro na seleção brasileira. Ceni, inclusive, tinha tudo para ser o titular do Brasil na Copa de 2002, caso Luxemburgo não fosse demitido antes. E caso não tivesse decepcionado o treinador em um compromisso importante, há pouco mais de 18 anos, diante do Barcelona, no Camp Nou.

Em 28 de abril de 1999, a seleção brasileira enfrentou o Barcelona, de Pep Guardiola, Luis Figo e outros craques, para a grande festa do centenário do clube catalão. Era o sexto jogo de Luxemburgo como técnico da seleção brasileira e um ótimo teste meses antes da Copa América. Rogério era homem de confiança do treinador – havia sido titular contra Rússia, Equador, Coreia do Sul e Japão. Apenas na estreia de Luxemburgo, empate em 1 a 1 diante da Iugoslávia, Rogério foi preterido por André, do Internacional. O jogo contra o Barcelona era uma oportunidade de ouro, um jogo visto no mundo todo. Luxemburgo escalou o Brasil com quatro goleadores (Amoroso, Rivaldo, Ronaldo e Romário, os três últimos ídolos em Barcelona) e só não deixou o Camp Nou feliz graças a uma noite extremamente infeliz de Rogério.

O Brasil marcou dois belos gols com Ronaldo e Rivaldo (na época, o camisa 10 jogava pelo Barcelona, mas atuou pelo Brasil), porém o Barcelona empatou com gols de Luis Enrique e Phillip Cocu. Chovia muito na Catalunha e, em ambas as jogadas, Rogério falhou ao deixar a bola escapar de suas mãos. Para piorar, após a partida, Rogério minimizou os deslizes e disse que fez uma boa partida. Publicamente, Luxemburgo defendeu Ceni. “As falhas individuais existiram, e eles fizeram os gols praticamente por causa delas. Mas a falha pertence ao futebol, e por isso não queremos responsabilizar o Rogério pelo resultado”, disse, na entrevista coletiva após o amistoso.

Internamente, porém, as falhas e a soberba lhe custaram caro: a partir do jogo seguinte, contra a Holanda, Dida assumiu a titularidade. Rogério, inclusive, foi excluído da lista de convocados para a Copa América daquele ano, da qual Dida foi um dos heróis e Marcos o seu reserva na conquista do título. Dida foi o titular de Luxemburgo por 27 jogos e Marcos em um. Mais de um ano depois, em entrevista ao jornalista Arnaldo Ribeiro para a edição de agosto de 2000 da revista PLACAR, Rogério manteve sua opinião.

Acho que fiz uma boa partida, mas por dois lances isolados ninguém percebeu isso. As bolas poderiam ter escapado das minhas mãos e algum dos zagueiros ter tirado de cabeça. Mas infelizmente saíram dois gols. Foi uma boa atuação e, se não tivesse saído esses dois gols, teria sido uma das melhores atuações de um goleiro nos últimos tempos pela seleção.” Ele admitiu que isso pode ter lhe fechado as portas na seleção. “Eu só falei uma coisa espontânea e o mundo caiu sobre minha cabeça. (…) Não sei o que se passa na cabeça do Vanderlei, mas ele tem todo o direito de convocar um outro goleiro. Não tem de dar satisfação a ninguém. (…) Não tenho nada contra ele, não tenho mágoa. O dia em que ele me convocar novamente, vou com o maior prazer.”

Trecho da entrevista de Rogério Ceni à edição de agosto de 2000 de Placar PLACAR/Reprodução

Coincidentemente ou não, Rogério, voltaria à meta, ainda sob o comando de Luxemburgo, um mês depois da entrevista, em setembro de 2000, na goleada por 5 a 0 sobre a Bolívia, justamente no último jogo de Luxemburgo à frente da seleção. O treinador estava enrolado em uma CPI e foi substituído por Emerson Leão que, novamente, deu novas chances a Rogério. Foi titular na estreia, contra a Colômbia, justamente em sua casa, o Morumbi. Quase marcou um de falta e foi aclamado pela torcida são-paulina no estádio. Seria titular em cinco jogos com Leão, antes de novamente perder a titularidade para Dida. O treinador foi demitido em junho de 2001. Seu substituto, Luiz Felipe Scolari, escolheu Marcos, seu ex-companheiro de Palmeiras, como dono da camisa 1. Dida foi o reserva e Rogério Ceni o terceiro goleiro da “Família Scolari” no pentacampeonato de 2002.

Rogério e Luxemburgo nunca mais trabalharam juntos e trocaram algumas farpas. Em 2001, após Luxemburgo, então no Corinthians, reclamar de uma suposta falha de Rogério em um programa de TV, o arqueiro rebateu. “Que eu saiba o Luxemburgo nunca jogou no gol.” O tempo passou e  os dois se enfrentaram diversas vezes, sem grandes polêmicas. Mais de uma década depois, em 2015, Luxemburgo, então no Cruzeiro, surpreendeu ao dizer que, se fosse o treinador, teria convocado o já veteraníssimo Ceni para a Copa de 2014. Nesta quarta-feira, eles se reencontrarão na Ilha do Retiro. Rogério, um novato na função. E Luxa, um campeoníssimo em busca do renascimento. O jogo começa às 19h30, em Recife.

 

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