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Bosnich, o goleiro que evitou Mundial do Palmeiras: ‘Meu melhor jogo’

Destino uniu goleiro australiano do Manchester United ao futebol brasileiro: contra o Palmeiras de Alex, brilhou no Japão; contra Romário, só más lembranças

Por Luiz Felipe Castro |
Mark Bosnich fazia defesa ao gol do Palmeiras na final do Mundial de 1999

Mark Bosnich, do Manchester United faz defesa durante tentativa de ataque do Palmeiras na final do torneio Intercontinental em Tóquio, no Japão – 30/11/1999

Mark Bosnich, 46 anos, foi um goleiro australiano de relativo (e curto) sucesso no futebol inglês nas décadas de 90 e 2000. Seu momento de maior consagração aconteceu em 30 de novembro de 1999, na fria noite de Tóquio, e coincidiu com uma das derrotas mais dolorosas de um clube brasileiro. Contratado sob desconfiança geral para substituir o ídolo Peter Schmeichel no Manchester United, Bosnich teve uma atuação excepcional na decisão do Mundial de Clubes vencida pelo clube inglês sobre o Palmeiras, por 1 a 0, com gol de Roy Keane. O clube alviverde dominou a partida – Oséas, Asprilla e o craque Alex tiveram chances claras, mas pararam nas mãos do arqueiro, que aponta aquela como a melhor atuação de sua vida. Mas nem todas as lembranças contra brasileiros são agradáveis: Bosnich sofreu como poucos diante de Romário, em jogos contra Vasco da Gama e seleção brasileira.

“Se a minha melhor noite foi contra o Palmeiras, a pior certamente foi contra o Brasil”, relembra o bem-humorado Bosnich, em entrevista por telefone, direto de Sidney, relembrando a final da Copa das Confederações de 1997 – Brasil 6 x 0 Austrália, com três de Romário e três de Ronaldo. Sobre o duelo no Mundial de Clubes de 2000, vitória do Vasco da Gama sobre o United por 3 a 1 no Maracanã, “Bozza”, como é apelidado, recordou o intenso calor carioca e fez uma confidência: antes da partida, o lendário técnico Alex Ferguson menosprezou a forma dos já veteranos Romário e Edmundo.

A carreira de Bosnich não decolou após o Mundial no Brasil. Atuações irregulares, lesões e desentendimentos com Ferguson abreviaram sua passagem pelo United, encerrada em 2001. Foi para o Chelsea, onde ficou na reserva até ser flagrado em exame antidoping por uso de cocaína e demitido, em 2003. Suspenso por nove meses, se desiludiu e ficou cinco anos sem jogar, até voltar a vestir as luvas para encerrar a carreira em seu país natal, em 2009.

Bosnich, na Rússia, durante a Copa de 2018 Mark Bosnich/Twitter

Hoje Bosnich é um famoso comentarista de futebol da emissora Fox Sports da Austrália, posto que o permitiu retornar ao Brasil. “Estive aí para comentar a Copa de 2014 e dessa vez fui a Cuiabá, Curitiba, Rio e São Paulo. É um país fantástico.” Em entrevista exclusiva, o ex-jogador relembrou os encontros contra craques brasileiros, disse conhecer as brincadeiras sobre o Palmeiras não ter Mundial e contou histórias de sua trajetória no United e na seleção australiana; confira:

Como foi aquela vitória sobre o Palmeiras no Japão? Foi um grande dia, creio que o melhor jogo da minha carreira. Como australiano, sabia que dificilmente teria a chance de ganhar uma Copa do Mundo, então o Mundial de Clubes era o máximo ao meu alcance. Também foi fantástico para o United se tornar o primeiro clube inglês a conquistar o título, realmente uma grande experiência.

Qual a sua melhor lembrança daquela partida? É todo o segundo tempo, quando o Palmeiras veio com tudo para cima de nós. Foram várias chances e parecia que todas as bolas vinham em minha direção. Me lembro de sofrer uma falta no fim e respirar aliviado, pouco antes do apito final. Foi um sentimento incrível, porque me senti peça importante do melhor time do mundo.

Estranhamente, o carro entregue ao melhor em campo foi para Ryan Giggs e não para o senhor. Ficou decepcionado? Não, nem um pouco. Sou amigo do Giggs desde a juventude. Ele até se sentiu mal por isso e me ofereceu o carro, mas eu disse que não precisava e que ele deveria presentear o irmão dele.

Naquela época o Mundial era mais disputado, não? Sim, era muito mais equilibrado, acho até que nessa época os clubes sul-americanos eram até mais fortes que os europeus. Agora todos os melhores jogadores vão muito jovens à Europa e isso dificultou para os sul-americanos.

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Bosnich ao lado de David Beckham, com a taça do Mundial de 99 Shaun Botterill/Allsport/Getty Images

O senhor sabia que por aqui os palmeirenses sofrem com piadas sobre a derrota no Mundial? Sim, sim, eu sei. Na academia que frequento em Sidney há muitos brasileiros e torcedores do Palmeiras. Eles sempre brincam com isso e me culpam pelo fato de o Palmeiras não ter Mundial (risos).

Este ano o time está na semifinal da Libertadores, novamente com Luiz Felipe Scolari como técnico. Acredita que possa vencer desta vez? Sim, espero que o Palmeiras conquiste a Libertadores e o Mundial, porque tenho uma história com esse clube e ficaria muito feliz. E é possível, sim, o Real Madrid já não é mais tão forte sem Cristiano Ronaldo, talvez o campeão da Libertadores tenha uma oportunidade boa assim como 19 anos atrás.

Curiosamente, um mês depois daquela final o senhor veio ao Brasil para outro Mundial de Clubes e não teve a mesma sorte contra o Vasco… Sim, jogamos o Mundial do Japão e depois esse que a Fifa organizou. Foi legal, estava um clima ótimo, ganhamos do time mexicano (Necaxa), mas no outro jogo o Vasco nos matou. Romário e Edmundo estavam voando e Gary Neville também não me ajudou muito (o lateral do United falhou feio em dois gols). Estava muito quente, no intervalo já estava 3 a 0 e me lembro de Alex Ferguson dizendo que jogaríamos melhor no segundo tempo porque haveria mais sombra. Mas não podemos culpar o calor nem os erros do Neville… Antes do jogo, Ferguson chegou a dizer que Edmundo e Romário já não eram tão bons como no passado, mas depois do jogo acho que ele mudou de ideia (risos).

Mark Bosnich e Gary Neville lamentam derrota no Maracanã Matthew Ashton/EMPICS/Getty Images

É verdade que os clubes ingleses subestimam o Mundial de Clubes? Eu não acredito nisso. Fomos os primeiros a vencer por um clube britânico e temos orgulho disso. Acho que os clubes que perderam usam esse argumento como desculpa para não ficar mal com seus torcedores. Me lembro ainda criança de ver o Flamengo arrasar o Liverpool e não que acho eles tenham subestimado aquela competição.

Bosnich contra Ronaldo em 1997 Matthew Ashton/EMPICS/Getty Images

O senhor já tinha cruzado com Romário pela seleção australiana, na Copa das Confederações de 1997. Sim, e também foi péssimo. Na verdade, na primeira fase nós empatamos com o Brasil por 0 a 0, o que foi ótimo para nós, mas na final nosso atacante, Mark Viduka, foi expulso no começo do jogo. Aí Ronaldo, Romário e aquele ponta esquerda, como se chamava? Denilson! Eles nos arrasaram, 6 a 0. Se a minha melhor noite foi contra o Palmeiras, a pior certamente foi contra o Brasil (risos). Me lembro dos nossos jogadores pedindo aos brasileiros: ‘please, take it easy’ (peguem leve, em inglês). Mas eles respondiam que não e logo entravam em nossa área de novo.

Cada um deles marcou três gols naquele jogo. Quem era melhor: Ronaldo ou Romário? Por ser mais da minha geração, prefiro o Ronaldo, mas Romário também era fantástico.

Como foi trabalhar com Alex Ferguson no United? Fui o único jogador que ele contratou duas vezes, a primeira quando eu tinha 16 anos e depois com 27. Tivemos muitas brigas e ele acabou me dispensando, mas ele era um grande treinador. Duro, mas grande treinador.

E como foi a sensação de marcar um gol (em goleada por 13 a 0 sobre Ilhas Salomão, em 1997)? Foi ótimo, meu primeiro e único gol da carreira. Naquela época, o paraguaio José Luís Chilavert marcava muitos gols e eu também quis fazer um. Já estava uns 10 a 0, então pedi para bater. O técnico deixou, mas disse que se eu errasse eu nunca mais jogaria com ele, por isso bati forte (risos).

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