Era Tite termina com 80% de aproveitamento, um título e frustrações
Apesar das duas grandes decepções em Copas do Mundo, técnico gaúcho deixa bom legado, enquanto CBF intensifica busca por seu sucessor
Acabou oficialmente a era Tite na seleção brasileira. O treinador de 61 anos assinou a rescisão de seu contrato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na última terça-feira, 17, e assim encerrou um trabalho de pouco mais de seis anos com uma trajetória agridoce: foram muitas vitórias, um único título e o sonho do hexa terminou em duas frustrações nas quartas de final, contra Bélgica e Croácia.
Assine #PLACAR digital no app por apenas R$ 9,90/mês. Não perca!
Em 81 jogos, Tite acumulou 60 vitórias, 15 empates e seis derrotas, com 174 gols marcados, 30 sofridos e 80,2% de aproveitamento. Se antes a equipe costumava patinar nas Eliminatórias Sul-Americana (era o sexto colocado quando ele assumiu o lugar de Dunga, em 2016), sob o comando do gaúcho o Brasil não perdeu uma partida sequer na corrida continental.
Não há, no entanto, como dizer que o trabalho foi ótimo pois nas duas Copas do Mundo que disputou, o time apresentou futebol abaixo do esperado e caiu após cinco jogos, diante de uma equipe europeia de pouca tradição. Ainda assim, Tite deixa um bom legado a seu misterioso sucessor.
Copa América: um título e uma enorme frustração
A maior alegria de Adenor Leonardo Bachi na seleção se deu em 2019, com a conquista da Copa América. Na ocasião, o time não contou com sua principal estrela, Neymar, que estava lesionado, mas conseguiu eliminar a Argentina de Messi na semifinal e bater o Peru na decisão do Maracanã. O Brasil não conquistava a competição desde 2007 e o título em casa era visto como obrigação, em razão da dominância dos pentacampeões no continente naquele período.
Dois anos depois, porém, uma nova Copa América em casa (governo federal e CBF insistiram em receber a competição em plena pandemia de coronavírus, depois da desistência de Argentina e Colômbia) proporcionou outra grande decepção. A derrota por 1 a 0 para a Argentina na final no Rio não só tirou os hermanos de uma fila de 28 anos sem taças, lhes dando a confiança necessária para conquistar o tri no Catar, como abalou o moral do grupo brasileiro. O próprio Tite demorou a assimilar o golpe e chegou a temer demissão.
Duas Copas dolorosas
Avassalador nas Eliminatórias, o Brasil chegou às duas Copas dirigidas por Tite na condição de favorito, mas não demonstrou tal condição em campo. Na primeira, na Rússia, empate com Suíça, vitórias magras contra Costa Rica, Sérvia e México até a eliminação para a Bélgica. Em 2022, o time até teve rendimento melhor nos triunfos contra Sérvia, Suíça e Coreia do Sul, mas amargou a primeira derrota para uma seleção africana (Camarões) e foi eliminado pela envelhecida seleção da Croácia.
Na ocasião, Tite cometeu uma série de erros, como deixar Casemiro sobrecarregado diante do ótimo meio-campo croata e não impedir que o time avançasse de forma desnecessária no lance do gol de empate dos europeus, além da substituições contestáveis e o fato de Neymar não ter batido pênalti na decisão.
Também em seu último jogo pela seleção, Tite deu razão a todos aqueles que criticaram a convocação do veterano Daniel Alves ao não mandá-lo a campo mesmo com a evidente fragilidade física de Danilo e Militão nos minutos finais. O técnico gaúcho, assim, repetiu a história de Telê Santana, o último a dirigir o Brasil em duas Copas seguidas (1982 e 1986), ambas com boa expectativa de título, que acabou frustrada.
Legado para seu sucessor
Tite e toda sua equipe, incluindo o diretor de futebol Juninho Paulista foram desligados. O novo técnico ainda não foi definido pela CBF, que está no mercado e já manifestou o interesse em contar com um treinador estrangeiro de renome. Carlo Ancelotti, do Real Madrid, é um dos candidatos.
Quem quer que assuma o posto, não encontrará cenário de terra arrasada. Em seus últimos momentos na seleção, o técnico promoveu a entrada de diversos jovens na equipe, como Militão, Vinicius Jr., Rodrygo, Antony e Gabriel Martinelli, entre outros, e deu padrão a um time que leva pouquíssimos gols.
Além disso, Tite e comissão tiveram conduta elogiada internamente e instituíram uma boa prática que deve ser mantida: a presença diária na sede da CBF, no Rio, para analisar vídeos de seus atletas e de adversários, e organizar processos como viagens e integração com a base. Antes, as reuniões aconteciam apenas no período de jogos e competições.
Tite se manteve recluso desde a derrota para a Croácia e tem seu futuro indefinido. Ele já havia avisado que tiraria um período sabático qualquer que fosse o resultado no Catar, mas segue sendo requisitado por clubes do Brasil e de fora e de outras seleções. Ao contrário de seu antecessor Dunga, que nunca mais trabalhou desde que deixou o cargo em 2016, Tite não deve ter dificuldades para se recolocar no mercado.
Como você avalia o trabalho de Tite na seleção?
— Placar (@placar) January 18, 2023