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Quem é a brasileira da Conmebol alvo de críticas de Bielsa

Técnico argentino subiu o tom após possibilidade de uruguaios serem punidos e apontou para chefe dos campos de jogos da confederação; entenda

Por Klaus Richmond e Leandro Quesada, de Miami (EUA) |
Bielsa durante a entrevista que antecede o jogo decisivo com a Colômbia - Candice Ward/Getty Images via AFP

Bielsa durante a entrevista que antecede o jogo decisivo com a Colômbia - Candice Ward/Getty Images via AFP

O técnico argentino Marcelo Bielsa fez valer na última sexta-feira, 12, o apelido de El Loco. Em entrevista coletiva concedida na véspera do Uruguai enfrentar o Canadá pela disputa de terceiro lugar, o comandante uruguaio viralizou nas redes sociais por conta de severas críticas aos Estados Unidos e à organização da Copa América. Na longa fala, com direito a pausas para discussões com jornalistas presentes, Bielsa também faz uma dura menção a chefe dos campos de jogos da Conmebol, uma brasileira: Maristela Kuhn.

“Para que vocês recordem, os Estados Unidos, quando sentiu que seus interesses estavam sendo atacados, criou o ‘Fifa Gate’ com o FBI. Fizeram o que fizeram, mas era só por interesse próprio. Aqui não aconteceu nada. Foi uma festa extraordinária: estádios cheios, equipes competitivas, arbitragem que permitia jogar… Não há nada do que se queixar, mas não pode seguir enganando que os campos estão perfeitos. Eles fizeram uma coletiva de imprensa para mentir explicitamente. A chefe dos campos de jogos (Maristela Kuhn), que sei quem é, a conheço… conheço perfeitamente o que faz, e o mal que faz, dá uma entrevista para dizer que [o problema no gramado] é uma questão visual”, afirmou.

Formada pela PUC-RS, com mestrado em Fitotécnica (técnico de estudo das plantas) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maristela é engenheira agrônoma especializada em gramados esportivos. Ela chefia a condição dos campos de jogo de todas as competições chanceladas pela Conmebol desde 2019, quando começaram as finais únicas da Copa Libertadores.

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A profissional também possui um escritório próprio que presta serviços de assistência técnica em campos de futebol, rugby, golfe e quadras de tênis. Entre os principais clientes estão clubes como São Paulo, Grêmio, Internacional e Coritiba, além de entidades como Conmebol, CBF e Federação Gaúcha de Futebol

No site oficial de sua empresa, diz ser “engenheira agrônoma da Confederação Brasileira de Futebol” e conta ter sido “coordenadora dos gramados esportivos para o Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014”, realizada no Brasil, sendo responsável pela “fiscalização de todos os gramados dos estádios e centros de treinamentos”.

Núñez e jogadores do Uruguai trocam agressões com torcedores – Buda Mendes/Getty Images via AFP

Também foi coordenadora do projeto de gramados esportivos para os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Ela costuma também dar seminários em federações.

Maristela, contudo, é considerada uma das principais referências no assunto no país. Não são poucas as vezes em que é consultada para melhoria dos gramados quando chegam em situações críticas.

Em reportagem divulgada pelo site Uol no último ano, um laudo técnico assinado por ela apontou diversos problemas que acarretariam no desgaste severo do gramado do Maracanã, posteriormente confirmados. Ele foi trocado no início desta temporada.

Entenda o caso

Quando acusou Maristela de mentir, Bielsa se referiu especialmente à entrevista concedida em 1º de julho à agência Associeted Press. Na ocasião, ela prometeu boas condições para o gramado da final, no Hard Rock Stadium, em Miami, assim como foi registrado o da estreia, o Mercedes-Benz Stadium, em Atlanta.

A fala irritou Bielsa porque o gramado em Atlanta foi alvo de diversas críticas por parte de jogadores argentinos e canadenses. O goleiro Dibu Martínez classificou o campo como “um desastre”, enquanto o zagueiro Kamal Miller disse que o mesmo parecia oco. Scaloni, contudo, foi o mais contundente.

“É um terreno irregular, quebra cada passo que tentamos dar”, iniciou dizendo na ocasião. “Na Alemanha todos jogam em campos grandes, com um campo esplêndido e o jogo é impactado positivamente”, completou.

Bielsa viu a seleção uruguaia ser eliminada na semifinal – Erik S. Lesser/AFP

Também houve registros de reclamações por conta de desníveis entre os rolos de grama instalados. Segundo Frederico Nantes, diretor de competições e operações da entidade, “a estética pode dar uma percepção errada”. Maristela também ponderou: “no segundo jogo, em Atlanta, as juntas do gramado já não estavam mais visíveis”.

O técnico do Chile, Ricardo Gareca, não poupou críticas para outros dois palcos: o MetLife Stadium, em Nova Jersey, e o AT&T Stadium, em Arlington, “Não são os melhores cenários além da intenção. Vejo que os meninos têm problemas e que esses problemas estão na maioria dos jogos. O campo está seco, é pequeno e logicamente há alguns desníveis ali em função da acomodação do campo para a Copa”.

Bielsa ficou revoltado, principalmente, com a possibilidade de punição aos seus jogadores pela briga generalizada ao término do último jogo, que terminou com eliminação para a Colômbia.

Ele defendeu os atletas e lembrou até mesmo do caso Fifa Gate, de 2015, que teve os Estados Unidos como responsáveis por revelar casos de corrupção de autoridades da entidade: “[Falaram] que Vinicius [Júnior] não vê, que [Lionel] Scaloni não tem que falar, que os campos de treinamento estão perfeitos. Eu tenho uma coleção de fotos que mostram que a grama não está unida. Deveriam ter ido aos campos de treinamento e nos dizer: ‘Desculpem, rapazes, isso não está apresentável, não se pode treinar aqui e entendemos’. Como isso afeta os organizadores, não se pode dizer uma palavra, senão nos ameaçam. A Scaloni disseram: ‘já falou uma vez, não fale mais’, porque senão vamos pagar as consequências. Os jogadores não podem falar. Estão todos ameaçados. Ameaça esportiva, dizem que vão nos suspender. Peçam desculpa, poxa! Que vão suspender o que… O único que deveriam dizer é: cometemos é cometemos tais erros, somos os responsáveis. E fim de papo. Onde já se viu isso? Os jogadores foram obrigados a fazer isso. As sanções não tem que ser para os jogadores, mas para aqueles que os obrigaram a fazer aquilo. Nos deixaram sem opção. E agora temos que ter medo às possíveis sanções. É só o que faltava. Isso é uma caça às bruxas, ‘não, olha só, vamos punir e vão cumprir no terceiro e quarto. Ah, não, não vamos porque o jogo de terceiro lugar há muito repercussão, então vamos ter que pensar melhor’. Isso é uma vergonha. Uma vergonha! Tudo em um país que, como organizador, tem a responsabilidade também. Tenho certeza que não mentiram sobre os campos, disseram que seria o quesão. Um país que foi capaz do Fifa Gate e hoje põe a culpa nos jogadores, onde já se viu. Nunca disse nada, mas já passei por situações que são muitíssimo mais graves que essa. Trabalhei seis anos na Argentina. Isso que aconteceu não é nenhum problema. O que não é certo é condenar os jogadores… E eu sei de uma coisa: quando me virem exaltado assim, vão me tirar a razão. É um energúmeno, um louco”, concluiu.

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