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O futebol a toda

17 de novembro de 1974: no Maracanã, o Flamengo vencerá o Botafogo, mas Comentarista do Futuro vai à final do badalado Autobol e ali… Deu Fogão!

Por Claudio Henrique @comentaristadofuturo |
Lance de partida de Autobol na década de 70

Lance de partida de Autobol na década de 70

“Indivíduo competente…” Ah, como eu amo este bordão do Waldir Amaral, da Rádio Globo. Pena que ontem ele preferiu narrar a vitória do Flamengo (2 x 1) sobre o Botafogo, no Maraca, neste insosso Campeonato Carioca de 1974. Bem poderia ter ido até o campo do Horto Florestal Clube, onde um público talvez maior se espremeu para assistir à final do estadual de Autobol, o futebol de carros, vocês certamente conhecem, a sensação da temporada. Talvez ele dissesse: “Automóvel competente…” Ou quem sabe, mais descontraído, improvisasse: “Caranguinha competente essa Gordini…” Rê-rê… Se você não foi, caro leitor ou leitora de 1974, não sabe o que perdeu. Um estrondoso 3 x 1 do Botafogo sobre o Fluminense, que garantiu a conquista do terceiro turno e o consequente título de campeão carioca neste esporte, praticado essencialmente por endinheirados investidores da Bolsa de Valores do Rio. Foi mesmo um domingo antológico e derradeiro. Em 2021, de “quando” venho, não existirão mais Autobol, Gordinis, Kharman-Ghias e sequer Bola de Valores na cidade. É meus amigos, o tempo passa, as coisas mudam… Preciso usar outros bordões do Waldir: “O relógio marca…” ou “Tem peixe na rede….” Na rede da saudade.

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No futuro, adianto a vocês, teremos umas chatices que certamente proibiriam a realização de partidas como a de ontem, em que o futebol ganha ares de uma arena com gladiadores. Pra cada gol marcado, são muitas e muitas pauladas de lataria. Haja “martelinho de ouro”! — antes do fim do século, aguardem, este termo vai popularizar e se espalhar pelas oficinas do país. A habilidade que os jogadores vêm desenvolvendo no controle e na condução daquela gigante bola de 12 quilos impressiona. Mas não há dúvida de que, na final de ontem, o que fez diferença foi o tipo de carro usado pelo esquadrão alvinegro: o Volkswagen 1600, o popular “Zé do Caixão”, que já está se consolidando como ‘o “queridinho” dos taxistas, posição que no próximo século será ocupada por veículos como o Del Rey, o Corsa e o Meriva, todos ainda desconhecidos, claro, pois sequer foram lançados. Fala, Waldir: “Tem bala na agulha a Chevrolet…” Aguardem.

A família Cesar Coelho esteve a toda ontem. Enquanto o menos famoso Ronaldo fazia um dos gols do Fogão no Horto, o irmão Arnaldo apitava o clássico do Maraca. Domingo é dia de esporte, a regra é clara! — anota essa, Arnaldão! No futuro ele se tornará “comentarista de arbitragem” na TV. Sim, vai existir isso, com muito prestígio e espaço nas coberturas televisivas de futebol. Talvez com até mais espaço (leia-se tempo) do que o necessário e razoável. Em geral, creiam-me, cerca de 20% a 25% dos programas de debate esportivo serão ocupados por discussões sobre arbitragem, é mole? Mas isso até a chegada, já quase chegando aos anos 20, de um negócio chamado VAR — aí este percentual vai bater os 40%!!! Parodiando outro craque do rádio, com ironia, dou a palavra a Mario Vianna: “Pô… Legal!”

Não sei se todos vocês, queridos leitores de 1974, sabem, mas o Autobol também foi inventado pelos ingleses. Comentarista do Futuro também é cultura: mal terminou a Segunda guerra, eles tiveram a ideia, aproveitando o tantão que tinha de carro “detonadão” – literalmente. Mas logo desistiram do negócio. Não era pra inglês ver, os carros se acabavam mesmo. No Brasil, a fagulha que deu a combustão da ideia foi a fabricação, há poucos anos, de uma pelota com essa dimensões de bola de neve pela fábrica da Drible, marca de materiais esportivos. Era apenas para uma demonstração festiva com disputa entre cavalos, mas a redonducha rechonchuda ficou guardada em São Paulo até um sujeito, o produtor José Maria Adami, a trazer pro Rio, já com essa ideia louca de organizar jogos. E deu no que deu. Primeiro eventos de demonstração e, desde o ano passado, esse badalado campeonato carioca, com jogos no Horto, no campo do colégio Santo Inácio, no estádio do América e até na Laranjeiras, o sacro-berço da seleção brasileira. Brasil-il-il! Autobol-bol-bol!

Auscutando a História, saberemos que o Doutor Mário Marques Tourinho, diretor do serviço médico do América e médico da Associação Carioca Volantes de Competição, é o “pai da criança”. No ano passado, deu Flu Campeão! Este de ano, o Botafogo. Alerta de ‘spoiler”: em breve, uma crise internacional que elevará o preço do barril do petróleo vai logicamente inflacionar o combustível e tornar inviável a prática do esporte. Antes que chorem, saibam que deixei 2021 em plena série de cinco aumentos seguidos da gasolina, que já terá chegado a mais de 7 reais (uma de nossas futuras moedas) por litro. E o goleador Ronaldo César Coelho, o mesmo que marcou ontem, terá acabado de adquirir 8% das ações de uma gigante do setor, a BR Distribuidora. Me vem à cabeça outro bordão do “guru” Waldir Amaral: isso sim é uma “jogada petróleo”!

No futuro, vão acontecer algumas tentativas esporádicas e isoladas de retomada do esporte, principalmente fora do Brasil. Mas nada com o charme do que assistimos ontem no Horto. Bola de couro de búfalo, com diâmetro aproximado de 1 metro e 10 centímetros e peso de 11 a 12 quilos; gol com 7,32 m de comprimento de e 2,44 de e altura; de 3 a 6 carros por equipe, geralmente com um reserva; marcha-ré? Proibido! … E o Botafogo campeão estadual, honra que não, sinto informar, não terá durante toda a década de 70 no esporte convencional! Ah, o Autobol vai mesmo deixar saudades… Muito romantismo e paixão! Em 2021, depois de testemunhar décadas de erros do futebol clássico, sem carros, vou querer citar outro narrador esportivo, Januário de Oliveira, e desabafar assim, numa livre adaptação: “Taí o que a gente queria!”

PRA ASSISTIR UM POUCO DE AUTOBOL

https://videos.bol.uol.com.br/video/reportagem-sobre-o-autobol-04024E183170E0995326

FICHA TÉCNICA 

BOTAFOGO 3 X 1 FLUMINENSE

Data11 DE NOVEMBRO DE 1974

EstádioCampo do Horto Florestal (Rio de Janeiro)

Público: muita gente

Renda: Necas

 

Botafogo: Zé Luís, Paulo Alvarenga, Marcelo e Ronaldo César Coelho. 

Fluminense: Iva Sant’anna, Alfredo, Paulo Jorge e Fernando Davi.

Gols: pelo Botafogo: Zé Luís (2) e Ronaldo César Coelho; pelo Fluminense: não consegui ver

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