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Cremílson e a sorte no futebol

Intrigado com ida de Jeffinho para a Europa, cronista vai a 1972 ver estreia de Cremílson, outro promissor ponta do Botafogo, surgido bem antes das ‘SAFs’

Por Claudio Henrique Agá (@comentaristadofuturo) |
Time do Botafogo posado, em pé: Perivaldo, Zé Carlos, Luizinho, René, Osmar e Zerguinho; agachaodos: Cremilson, Mendonça, Dé, Nelson e Paulo César.

Time do Botafogo posado, em pé: Perivaldo, Zé Carlos, Luizinho, René, Osmar e Zerguinho; agachaodos: Cremilson, Mendonça, Dé, Nelson e Paulo César.

Estar no lugar certo na hora exata é virtude dos grandes jogadores de futebol, em especial dos artilheiros. Apenas uma das muitas provas de que a SORTE, sim, entra em campo. Informo a todos vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1974, que sou um Viajante do Tempo vindo de 2023, quando já terá sido sepultada aquela velha máxima de que o esporte mais amado do País tem 17 regras que nunca mudam, e daí o seu sucesso. Balela… Mudarão muito nos próximos 51 anos, em especial no próximo século. Uma das novidades – que, como tantas, trará jargões, nomes e palavras ao ‘futebolês’ – será o surgimento das ‘SAFs’, espécie de empresas, ou grupos financeiros, que vão comprar (ou, no eufemismo, “assumir a gestão”) de clubes de futebol. Sim, creiam: as dívidas imensas de grandes times nacionais os levarão a ter que ‘vender’ seus departamentos de futebol a investidores. Entregando junto, como ‘extra’, sua história, a mística, a paixão. Será um desses grupos que, após ‘adquirir’ o alvinegro carioca, levará subitamente, e para a surpresa de todos, uma promissora revelação do clube (que se chamará ‘Jeffinho’) para atuar na Europa, em um time cuja gestão também será outra de suas ‘propriedades’ (*Nota abaixo). Uma negociação que levantará as primeiras suspeitas sobre o que poderá significar de fato a gestão das tais ‘SAFs’ em mais de um clube no mercado. Daí a vontade de vir até aqui assistir à estreia com a camisa da Estrela Solitária de Cremílson, esse ‘pontinha’ arisco que vai marcar os anos 70 em General Severiano e não terá jamais uma ‘SAF’ para apresentá-lo ao Mundo da Bola. Sorte e Futebol; a velha e boa ‘tabelinha’ …

Voltar ao passado me permitiu refrescar a memória do espanto que foi, ou melhor, está sendo, para todos, ver o Botafogo nesta pindaíba de dar desgosto, tão pouco tempo – menos de uma década – depois de dividir os holofotes dos gramados brasileiros com o Santos de Pelé. Num piscar de olhos, o Fogão de Garrincha, Gérson, Rogério e Jairzinho, entre outros, se transformou neste punhado de ‘Purucas’ e … ‘Cremílsons’. Vou logo avisando que o estreante (que ainda vestirá a mítica camisa 7 do clube) não é e jamais será ‘craque’ – mas o tal ‘Jeffinho’ também não. Bons jogadores, e isso não é pouco nesta acirrada competição dos que correm atrás da bola profissionalmente. Ambos são (ou serão) naturais do interior fluminense: Cremílson, de Campos dos Goytacazes; ‘Jeffinho’, de Volta Redonda (onde nascerá daqui a 25 anos). Carregando nas costas o peso de substituir ídolos como Garrincha e Jairzinho na ponta-direita, Cremílson fará 14 gols em 154 partidas (até 1979) pelo Botafogo. ‘Jeffinho’ fará 2, em 26 partidas. Mas é o segundo, o futuro talento, que vai se dar bem ‘nas Europa’. Estará no lugar certo e na hora exata!

Cremilson, então promessa do Botafogo

Cremílson é cria da base de General Severiano (‘Jeffinho’ virá do Rezende-RJ). Jamais será campeão carioca, limitando-se a conquistar um torneio início, um pré-olímpico (1976) pela Seleção Brasileira de Amadores e outros torneios de menor importância. Jogará ainda em clubes como o Joinville (SC) e o São Bento (SP), cumprindo carreira bem abaixo do que seu futebol nos fará supor – mas retornando a General Severiano. Deu a má sorte de chegar ao clube poucos anos depois da geração de ouro, tendo que disputar cada vitória ao lado de elenco bem menos talentoso, mas ainda contando com o auxílio luxuoso de Marinho Chagas (autor do gol de ontem), Dirceu, Nílson Dias e Fischer. Este último, registre-se, batizará o principal atacante do meu maior rival de infância nas mesas de botão. Quando os meninos e melhores amigos começarem a trocar as palhetas pela… Por outros interesses, como meninas, aproveitarei para pedir emprestado seus ‘craques’ no futebol de mesa e comigo irão ficando. Em 2023, a propósito, ainda terei guardado – na minha caixa metálica de armazenar café, adaptada como ‘ônibus da delegação’ – o tal ‘Fischer’, artilheiro do antigo adversário, agora entre os meus galalites.

E fico a pensar se as crianças do futuro terão tempo hábil para batizar seus botões com o nome do ‘Jeffinho’, que partirá para a França com apenas 1 ano de Botafogo. Em matéria de infância, posso dizer que tive a sorte de estar no lugar certo e na hora exata: os anos 70 no futebol!

 *Nota da Redação da Placar em 2023: Jefferson Ruan Pereira dos Santos, o Jeffinho, vendido em janeiro de 2023 pelo Botafogo ao Lyon, da França, ambos os clubes geridos pela mesma SAF (Sociedade Anônima de Futebol).

PARA VER GOLS E JOGADAS DE CREMÍLSON PELO BOTAFOGO

PARA VER O PRIMEIRO GOL DE JEFFINHO NO LYON (FRA)

https://www.espn.com.br/video/clipe/_/id/11690461

FICHA TÉCNICA
BOTAFOGO 1 x 0 FLUMINENSE

Competição: Campeonato Carioca de 1974
Data: 19 de outubro de 1974
Estádio: Maracanã
Local: Rio de Janeiro
Público: 17.661 pagantes
Renda: Cr$ 169.021,50
Árbitro: Luís Carlos Félix

BOTAFOGO: Wendell; Marinho Chagas, Chi­quinho, Osmar, Valtencir, Ademir, Marco Aurélio, Puruca, Fischer (Cremílson), Nilson Dias e Dirceu. Técnico: Zagallo

FLUMINENSE: Félix; Toninho, Abel, Assis, Marco Antônio, Car­los Alberto, Cléber, Cafuringa, Gil, Manfrini e Marco Antônio Cardelli (Paulo). Técnico: Parreira

Gol: Segundo Tempo: Marinho Chagas, aos 42’

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