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Que tal não chorar contra o México?

Não parece desprezível a hipótese de que uma dose cavalar do chamado doping emocional tenha deixado o pessoal meio grogue

Por Sérgio Rodrigues |
As lágrimas do capitão Thiago Silva na hora do hino podem explicar seu rendimento abaixo da média na estreia

As lágrimas do capitão Thiago Silva na hora do hino podem explicar seu rendimento abaixo da média na estreia

Certo, moçada. Agora que passou a estreia, ocasião propícia para nervos em frangalhos, que tal reduzir um pouco a dose de “emoção” contra o México? Ninguém nega que o apoio da torcida é precioso e que aquele hino nacional cantado a capela pelo estádio inteiro, herança da Copa das Confederações, arrepia estátuas. O problema é o exagero. Fica difícil – mesmo porque o ponto de inflexão depende da arquitetura emocional de cada jogador – precisar o momento em que a comoção deixa de ser um estímulo para se tornar um estorvo.

A partida contra a Croácia deixou motivos de preocupação nesse sentido. Para citar apenas o mais evidente: o capitão Thiago Silva, reverenciado com justiça como um dos melhores zagueiros do mundo, foi visto em lágrimas feito uma criança antes do apito inicial e inseguro como um novato depois dele. É possível que o choro não tenha relação alguma com sua atuação abaixo do padrão habitual, que tudo não passe de coincidência. Ocorre que Daniel Alves, Marcelo, Paulinho e Hulk também jogaram menos do que sabem. Não parece desprezível a hipótese de que uma dose cavalar do chamado doping emocional tenha deixado o pessoal meio grogue.

Bola da VEJA: como VEJA mostra a Copa do Mundo

Coube a outro zagueiro nascido no Brasil, Pepe, dar ontem uma demonstração do nível de estupidez a que pode chegar um atleta subjugado pela “emoção”. Ao puxar, bem ao seu estilo destemperado, uma briga de bar com Müller e ser merecidamente expulso, o jogador do Real Madrid enterrou qualquer exígua chance de reação que a seleção portuguesa pudesse ter àquela altura, com 2 a 0 no placar. Deu no que deu: uma goleada alemã que, nas circunstâncias, pareceu até parcimoniosa. Felipe Melo não teria feito melhor.

Que o exemplo de Pepe, em boa hora naturalizado português, sirva de alerta a quem acredita que, representantes de um povo que se orgulha do “sangue quente”, os jogadores brasileiros devem sempre atuar com a emoção à flor da pele. Ficarei mais tranquilo se hoje houver em campo um pouco mais de frieza, com as lágrimas comovidas se restringindo às arquibancadas do Castelão. Pode ser um problema geracional, mas não consigo ver um jogador da seleção chorando sem me lembrar de Toninho Cerezo, que, na Copa de 1982, caiu em um pranto convulsivo quando Falcão empatou o jogo com a Itália – pouco antes de Paolo Rossi fazer seu terceiro gol do dia e mandar para casa uma das seleções mais talentosas de todos os tempos.

Roberto Carlos pode acreditar que, sorrindo ou chorando, o importante mesmo é se emocionar. Em Copas do Mundo, considero dispensável essa parte do choro.

Cerezo, Falcão e Zico comemorando gol no jogo entre Brasil 2 x 3 Itália, na Copa do Mundo de 1982, no Estádio Sarriá VEJA

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