O futebol é americano, mas a excursão é global. Pela primeira vez na América do Sul em mais de cem anos de história, a NFL incluiu o Brasil na rota do seu projeto de internacionalização. Mas por que a arena do Corinthians foi a escolhida para receber a partida desta sexta-feira, 6, entre Philadelphia Eagles e Green Bay Packers? A resposta vai de cifras milionárias da política à capacidade para receber 36 toneladas de equipamentos das equipes.
Além do Brasil, a NFL, principal liga de futebol americano do mundo, estará presente também na Inglaterra (três jogos em outubro) e na Alemanha (um jogo em novembro) na temporada 2024/2025. O namoro além das fronteiras começou ainda lá nos primórdios com partidas não-oficiais no Canadá e posteriormente no também vizinho México. Japão e Austrália, além de Espanha, Suécia e Irlanda já receberam eventos e, por isso, fazem do Brasil o décimo na lista de visitados por o que antes eram só ‘brutamonte de capacete e armadura’.
Mesmo com visitas contínuas fora de terras Yankees, a liga considera 2005 como o seu grande momento de virada no processo de internacionalização. Foi no icônico estádio Azteca, na Cidade do México, palco de duas finais de Copas, que Arizona Cardinals e San Francisco 49ers (29 a 45) jogaram para 63.967 pessoas. Outro grande templo do futebol da bola oval, o Wembley, em Londres, que recebeu a decisão do Mundial de 1966, teve um New York Giants e Miami Dolphins (13 a 10) para incríveis 81.176 pessoas. Na Alemanha, Seattle Seahawks e Tampa Bay Buccaneers (16 a 21) se enfrentaram para 69.811 pagantes. O Brasil, então, é apenas o quarto país a receber um jogo de temporada regular.
Só pelos números nas arquibancadas, o balanço já seria lucrativo. A NFL tem em temporadas regular média de 67.591 torcedores nos estádios. Para São Paulo vencer a concorrência de outros lugares, contou com um aporte de 5 milhões de dólares (quase 28 milhões de reais) da Prefeitura, algo que o Rio de Janeiro, por exemplo, não garantiu apesar do encantamento americano pela Cidade Maravilhosa. Em uma conta inflacionada, a cidade espera gerar 60 milhões de dólares (mais de um bilhão de reais) em receitas. No GP São Paulo de F1, no ano passado, segundo dados da FGV, 267 mil espectadores no autódromo de Interlagos geraram 1,64 bilhão de reais.
Pesou contra o Maracanã também, a dificuldade para receber 35 a 45 jogadores, mais a comissão técnica, fisiologistas, médicos e todo o staff de cada uma das duas equipes. Nas últimas semanas, o aeroporto de Viracopos, em Caminas, recebeu 36 toneladas de equipamentos dos times.
Pela mesma dificuldade dos vestiários, o MorumBis, do São Paulo, foi descartado. No Allianz, do Palmeiras, havia ainda a questão do gramado sintético, que voltou a ser duramente questionado após a lesão do quarterback Aaron Rodgers, em sua partida de estreia pelo New York Jets, na temporada 2023/2024. Naquela ocasião, o sindicato dos jogadores pediu o fim desse tipo de gramado.
Mas nem tudo são flores na Neo Química Arena. Além da malvista dificuldade em aceitar a cor verde dos times, em alusão à rivalidade com o Palmeiras, que foi entendida inicialmente como uma “questão de gangues” pelo running back Josh Jacobs, a capacidade do estádio foi questionada. O estádio precisou de cerca de duas mil cadeiras extras para alcançar os 48.234 lugares.
Por fim, a Neo Química Arena venceu também o Santiago Bernabéu para receber a partida. A NFL confirmou que não teria pressa para chegar à Espanha e esperou a reforma do estádio do Real Madrid, com a possibilidade de substituição do gramado de futebol para o de futebol americano. O mesmo mecanismo acontece no estádio do Tottenham Hotspur.