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O chefe do CR7: dirigente do Al-Nassr exalta liga saudita e craque português

Em entrevista à PLACAR, pernambucano Marcelo Salazar conta sua experiência no futebol do Oriente Médio e exalta profissionalismo de Cristiano Ronaldo

Por Luiz Felipe Castro |
Marcelo Salazar, ao lado de Cristiano Ronaldo, durante treino do Al-Nassr - Arquivo pessoal

Marcelo Salazar, ao lado de Cristiano Ronaldo, durante treino do Al-Nassr - Arquivo pessoal

Ele nasceu no Recife, jogou futsal em diversos países da Europa, inclusive pela seleção portuguesa, e vive há mais de uma década no Oriente Médio. Marcelo Salazar, de 45 anos, é ex-diretor de futebol e atual analista de mercado do Al-Nassr, tradicional clube de Riade que ganhou fama mundial com a chegada de Cristiano Ronaldo.

Em entrevista à PLACAR, Salazar exaltou a vida que leva com a família na Arábia Saudita, o nível da liga local e o profissionalismo de sua grande estrela. “[Trabalhar com Cristiano é] muito fácil, porque você não precisa chamar a atenção dele. Às vezes ele que chama a sua, ele puxa o sarrafo para cima. Na semana seguinte à sua chegada, a academia estava mais cheia, todos queriam ver qual que era o segredo do sucesso e a ética de trabalho dele”, conta Salazar.

“Além do profissional, é um cara fora da curva, uma pessoa excepcional. Um pai de família, 100% dedicado. Tudo que prega, ele pratica. E adora os brasileiros, né, é educado e brincalhão, está sempre dando risada e chamando a gente de ‘mané’”. complementa. Marcelo Salazar falou sobre a possibilidade de ter não apenas Cristiano Ronaldo, mas também seu filho Cristiano Júnior, no elenco profissional do Al-Nassr.

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“O Cristianinho foi campeão sub-15, e é bom de bola. Nunca perguntei se eles sonham em atuar juntos, mas creio que sim. Dá tempo. Eu não coloco limite em nada sobre o Cristiano Ronaldo. Enquanto estiver performando, ele vai estar em campo e imagino que uma de suas ambições seja jogar junto do filho, além de fazer o milésimo gol. São objetivos grandiosos.”

Salazar relembrou diversas passagens de sua carreira, como o período em que trabalhou como auxiliar e treinador, comentou sobre denúncias de sportwashing na Arábia Saudita e contou detalhes da contratação do goleiro Bento, da seleção brasileira, ex-Athletico-PR. Confira os principais trechos da entrevista:

Como começou sua aventura pelo mundo árabe?
Fui jogador profissional de futsal, atuei pela seleção portuguesa, e no fim de carreira fui para o Kuwait, no golfo árabe. Parei em 2012 e fui estudar para ser treinador, tirei todas as licenças da CBF, e conheci o Péricles Chamusca, que me convidou para ser seu assistente no Al-Faisaly, da Arábia Saudita. Vencemos a Copa do Rei e recebi um convite do Al-Nassr, à época treinado pelo Mano Menezes. Fui auxiliar, treinador interino e então passei à gestão executiva. Agora, com a chegada do [ex-jogador espanhol] Fernando Hierro para o cargo de diretor de futebol, passei a comandar o departamento de análise de mercado do Al Nassr.

Marcelo Salazar defendendo a seleção de futsal de Portugal – Arquivo Pessoal

Foi você quem tirou o Luís Castro do Botafogo ano passado? Sim (risos). Fui muito xingado nas redes pelos botafoguenses, mas é normal, torcedor é movido pela emoção. O Luís estava fazendo um bom trabalho, mas o mais decisivo foi sua capacidade de se adaptar a diferentes ambientes, pois já havia trabalhado bem em Portugal, na Ucrânia, no Catar e no Brasil.

A chegada de Cristiano Ronaldo foi mesmo um divisor de águas? Hoje a liga saudita é transmitida por mais de 150 canais e as redes do Al-Nassr saltaram de menos de 1 milhão para 20 milhões de seguidores. Depois dele, vários atletas passaram a considerar a mudança, como foi o caso do Bento. Já não é mais vista como uma liga para se aposentar ou passar ‘férias’, é competitiva. Além dos atletas, temos treinadores com passagem por Premier League e grandes clubes. O próximo passo é melhorar a infraestrutura, a experiência do torcedor no estádio, desenvolver esse aspecto até a Copa do Mundo em 2034.

Como conseguiram convencer Bento, um goleiro de seleção brasileira, a ir para o Al-Nassr, mesmo tendo propostas de grandes da Europa? Quem assistiu à Eurocopa viu o nível do [zagueiro espanhol] Laporte em campo, e acho que isso por si só já é um grande argumento. O Bento vai ser bem treinado, exigido durante os jogos, vai ter pressão para vencer. E, lógico, não podemos negar o fator financeiro, a carreira é curta e às vezes as oportunidades batem à porta uma única vez.

Ano passado, o Laporte chegou a reclamar da Arábia Saudita, o Henderson deixou o país após seis meses. Realmente isso foi uma celeuma na época, mas é normal, acontece em todas as ligas, quando uma pessoa muda de país leva um tempo até se adaptar. Eu me lembro do [brasileiro] Viola quando foi para Valência, que é uma cidade maravilhosa, e disse que tinha que levar bolacha do Brasil para comer lá. Não existe lugar perfeito.

O governo saudita tem ligação direta com o desenvolvimento do futebol, certo? Sim, o fundo de investimento soberano comprou 75% de cada um dos quatro grandes clubes, mas existem grandes empresas investindo em outras equipes. Existe um plano, chamado Visão 2030, para desenvolver o país em várias áreas e atrair os olhares do mundo.

Fala-se muito sobre sportwashing, estratégia utilizada por governos autoritários de usar o futebol para limpar as denúncias de violações aos direitos humanos. A abertura na Arábia Saudita é real ou apenas propaganda? Eu vivo tranquilamente com a minha esposa e nossos dois filhos, que estudam lá. Moramos em Riade, falo árabe e gosto de conversar com os locais sobre cultura e questões como, por exemplo, das mulheres poderem dirigir. Não é questão de propaganda, há uma mudança positiva, sempre faço um convite para que as pessoas conheçam a Arábia Saudita, é um país bonito, com muita história e superseguro. Claro que, assim como no Brasil, se você for para uma cidade pequena do interior, há mais conservadorismo, mas nas grandes cidades notam-se mudanças rápidas e para melhor.

Marcelo Salazar na Arábia Saudita – Arquivo Pessoal

Compara-se muito o mercado saudita com o da China, que não se sustentou. A paixão da torcida pode ser um diferencial? Com certeza. O árabe tem mais cultura de futebol. Tanto que Rivellino, Carlos Alberto Parreira, Zagallo e vários outros nomes passaram por lá há bastante tempo. Existem mesas redondas na TV parecidas com as do Brasil, campos de várzea, pelada de rua, como chamamos em Recife. Não tem nada a ver com a China.

A média de público da liga, porém, não passou de 17.000… Há alguns fatores, como os estádios pequenos. A maioria dos estádios, como o nosso, comporta 25 000 pessoas. Os maiores estádios estavam fechados para reforma, e os clubes menores ainda não atraem tanto interesse.

Imagino que esta seja a pergunta que mais recebe: como é trabalhar com Cristiano Ronaldo? Muito fácil, porque você não precisa chamar a atenção dele. Às vezes ele que chama a sua, ele puxa o sarrafo para cima. Na semana seguinte à sua chegada, a academia estava mais cheia, todos queriam ver qual que era o segredo do sucesso e a ética de trabalho dele. Além do profissional, é um cara fora da curva, uma pessoa excepcional. Um pai de família, 100% dedicado. Tudo que prega, ele pratica. E adora os brasileiros, né, é educado e brincalhão, está sempre dando risada e chamando a gente de ‘mané’.

Antes de chorar na Euro, ele também se emocionou em uma derrota do Al Nassr… Enquanto ele estiver jogando, ele estará comprometido. Às vezes até durante o treino, o auxiliar marca um impedimento, ele vai na câmera para ver se estava mesmo, quer sempre ganhar. Mesmo aos 39 anos, ele ainda fica bravo, deixa a emoção tomar conta e age explosivamente.

O primogênito dele, Cristiano Júnior, está na base do Al Nassr. Será que dá tempo de eles atuarem juntos? Sim, o Cristianinho foi campeão sub-15, e é bom de bola. Nunca perguntei se eles sonham em atuar juntos, mas creio que sim. Dá tempo. Eu não coloco limite em nada sobre o Cristiano Ronaldo. Enquanto estiver performando, ele vai estar em campo e imagino que uma de suas ambições seja jogar junto do filho, além de fazer o milésimo gol. São objetivos grandiosos.

Tem planos de um dia voltar ao país e trabalhar por um clube brasileiro? No futebol não dá para fazer tantos planos, né? O que eu planejei para minha carreira desde que parei de jogar futsal era trabalhar no mais alto nível do futebol mundial. Estou preparado para o que vier, se qualquer clube do mundo me chamar, para dentro ou para fora do campo, tenho certeza que dou conta do recado. Não fecho portas de jeito nenhum.

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