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Marc Márquez, o rei da MotoGP: ‘A rivalidade me motiva’

Pentacampeão da categoria, piloto espanhol falou, em São Paulo, sobre suas metas e influência de ídolos brasileiros como Ayrton Senna 

Por Luiz Felipe Castro |

Coletiva de Imprensa com os pilotos Marc Márquez e Alexandre Barros realizada no Centro Cultural Rio Verde em São Paulo – 02/04/2019

O rosto imberbe e o jeitão relaxado denotam ainda mais jovialidade a Marc Márquez, o maior fenômeno do motociclismo na última década. Aos 26 anos, o piloto espanhol já acumula sete títulos nas principais categorias, sendo cinco na maior delas, a MotoGP – a Fórmula 1 das motos. De passagem por São Paulo, dias depois de vencer o GP da Argentina e assumir a liderança da temporada 2019, Márquez falou, na última terça-feira , sobre suas próximas metas: F1, futebol, rivalidade na pista e sobre sua admiração por esportistas brasileiros, como Ayrton Senna. 

O piloto da Honda, que venceu as edições de 2013, 2014, 2016, 2017 e 2018 da MotoGP, garantiu que sua fome por vitórias não diminuiu. Neste ano, o piloto mais jovem a conquistar o título (20 anos) pode igualar o hexacampeonato do maior ícone pop da modalidade, o italiano Valentino Rossi, de 40 anos, com quem manteve relação conturbada nos últimos anos. E, citando rivalidades célebres do esporte como Lionel Messi x Cristiano Ronaldo e Rafael Nadal x Roger Federer, disse que a competição o motiva. 

Márquez foi o mais jovem campeão da MotoGP Javier Soriano/AFP/VEJA

“Gosto da rivalidade. Muitas vezes é ela que nos faz chegar a um nível alto, mas fica tudo na pista.” Além de Rossi, o atual tricampeão tem como principal concorrente outro italiano, Andrea Doviziozo, da Ducati.

Nascido em Cervera, na Catalunha, Márquez é torcedor fanático do Barcelona e amante de vários esportes. Durante a entrevista, disse conhecer melhor um clube brasileiro e falou de sua admiração por Ronaldinho Gaúcho. E também por Ayrton Senna, uma inspiração para sua “garra” nas pistas. 

Márquez até já sentiu a emoção de pilotar um F1 e se saiu bem. No ano passado, fez testes na RBR no circuito da Áustria e teve seu desempenho elogiado pelos chefes da equipe e pela lenda Niki Lauda. O atleta espanhol, porém, disse ter desistido de tentar a sorte em quatro rodas. “Pensando bem, friamente, a MotoGP é minha paixão.” Confira, abaixo, a entrevista do jovem rei das motos:

Como se manter motivado depois de cinco títulos? Bom, a motivação vem no momento em que se ganha, sente a recompensa de todo o esforço, do treinamento, do sacrifício, e é o que realmente motiva, chegar a esse momento de euforia e adrenalina. E na hora pensa: ˜Quero sentir tudo isso novamente”. E é preciso seguir trabalhando para tentar chegar ao momento da vitória.

Mas nunca relaxa? Poucas vezes ao ano. Duas semanas no verão e um mês em dezembro, mas é um estilo de vida, uma paixão. Estou sempre pensando na moto.

Passa todo o ano viajando, quase nunca para em casa. Do que mais sente falta da vida na Espanha? Viajamos muito, mas conhecemos pouco os países, porque quando chegamos logo vamos do aeroporto para o circuito e do circuito para o aeroporto e começa outra vez. Não podemos ter uma rotina em casa, mas sigo vivendo no mesmo povoado onde nasci, com a família e os amigos perto, tento manter mais ou menos a vida que tinha quando criança, com meu avô, porque é do que gosto.

O que mais gosta de fazer fora das pistas? Gosto de esporte em geral. Sou um grande apaixonado pelo futebol, me encanta, fico louco. Quando posso jogar, jogo, e, caso não possa, assisto a todos os jogos. Também ciclismo, corrida, tudo que seja esporte e movimento.

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Conhece algum time de futebol do Brasil? Sim, conheço mais o Corinthians, porque tem parceria com a minha patrocinadora, Estrella Galícia, mas conheço muitas equipes, as mais populares. Mas não acompanho a liga, porque na Europa é difícil, temos de ver pela internet.

Tem algum ídolo brasileiro? Ayrton Senna. Quem não o teve como referência, né? Sobretudo pela paixão, a garra que tinha, era incrível, apesar de não tê-lo visto porque era muito pequeno, mas logicamente vi todos os documentários, porque é uma lenda. Na MotoGP, foi o Alexandre Barros, grande referência do Brasil. E no futebol, desde Ronaldinho, quando chegou ao Barcelona, até Neymar.

Nunca teve medo de uma queda ou do perigo inerente ao esporte de velocidade? Não. Sinto mais medo quando tenho de pegar avião do que quando subo numa moto. Há vezes em que, depois de uma queda muito forte, passamos a “respeitar” a moto, não passamos pela mesma curva tão rápido. Mas são momentos pontuais, não sinto medo. Caso contrário, não pilotaria moto.

Como é a sensação da queda? Aquele segundo antes de cair… Dói muito? Depende da queda. Há algumas que se vê antes. “Vou cair, vou cair, vou cair… e logo cai…” Nessas, vamos mais preparados. Mas há quedas totalmente inesperadas e são essas que machucam, porque o corpo não está preparado. Há um momento que tudo passa muito rápido, quando cai e vai tocar o solo, e depois outro em câmera lenta, quando vai arrastando pelo asfalto e chega até a grade. Aí se encolhe bem e vê onde acaba.

Há casos de grande rivalidade em todos os esportes… É importante ter rivais em alto nível? Creio que para qualquer esportista o rival é a motivação, é o que faz treinar, é quem faz manter a nossa motivação, tirar algo a mais de si mesmo. O adversário nos faz crescer. Se alguém não o empurra e não o vence, nunca se cresce. Pode se acomodar e pensar “Já está bom assim”. Em qualquer esporte é assim. Houve Senna x Prost, no futebol é Messi x Cristiano Ronaldo, no tênis Nadal x Federer… Sempre houve um rival que fez o outro crescer.

É uma rivalidade que não o faz perder o controle? Não, porque gosto da competição e da rivalidade. Muitas vezes é a rivalidade nos faz chegar a esse ponto, mas fica na pista. Fora da pista há o respeito de dividir a mesma profissão com a outra pessoa.

No teste na Fórmula 1 seu resultado foi bom… Sim, fui bastante bem. Tive o apoio de outra grande lenda, Niki Lauda, que estava assistindo, e do piloto Mark Webber, então estava bem assessorado. Fui muito bem, inclusive tive um momento em que pensei: “O que aconteceria se eu fosse para a F1?”. Mas pensando bem, friamente, a MotoGP é minha paixão, e minha vida é movida por paixão, por instinto, momentos. O que sinto agora é que a MotoGP é onde quero ficar.

E qual seu objetivo agora? Há uma marca, um recorde que seja uma meta? Sempre me coloquei metas e cada ano tem uma nova. Sempre quero melhorar a marca do ano anterior e tentar ser melhor e ganhar o título. Meu maior sonho era ser campeão do mundo em todas as categorias, e consegui. Agora, mudei de mentalidade, quero viver o presente, não o passado, nem o futuro, quero desfrutar o momento, que é o mais importante.

Muitos campeões têm vida de popstar, como Lewis Hamilton, por exemplo. Gosta disso? Não, não gosto. Mas tenho de saber lidar bem com todas as situações. Por exemplo, quando acaba um evento como este do Brasil, sou um sujeito normal. Sempre me considerei normal, por isso vivo no mesmo lugar, com os mesmos amigos, e não quero que isso saia da minha cabeça. As pessoas do meu entorno têm a permissão para, caso eu me comporte como um popstar, me darem beliscões para que volte à realidade. Isso é o mais importante para ser natural.

Gostaria que o Brasil voltasse a receber uma prova de MotoGP? Gostaria e creio que o Brasil precisa de uma corrida, um GP. Os organizadores do campeonato estão trabalhando nisso, fala-se sobre ter uma prova  em 2021 aqui. Tomara. Brasil e América do Sul necessitam mais que o resto, porque há muitos torcedores aqui. Vejo pelas redes sociais que tenho muitos fãs brasileiros e fico agradecido por isso.

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