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Iniesta: o último ato de um artista da bola

Após adeus ao Barcelona, o craque reservou fôlego e talento para reger a Espanha na Copa

Por Fernando Beagá |
Andrés Iniesta: presença garantida na seleção espanhola

Andrés Iniesta: presença garantida na seleção espanhola

Cabeça erguida, drible curto e providencial, passe preciso e apurada leitura do jogo. Pode parecer um meio-campista clássico descrito por um saudosista, mas são as características de Andrés Iniesta. Com um ingrediente que o conecta ao futebol atual: ele faz tudo isso em velocidade. Uma versão moderna de Zinedine Zidane, o “último romântico” entre os gênios da bola. Pois logo Iniesta fará parte da memória. A Copa na Rússia será seu último grande palco.

Tabela completa de jogos da Copa do Mundo 2018

Em abril, o meia anunciou sua saída do Barcelona, único time de sua carreira. Isso pouco tempo depois de assinar um contrato vitalício com o clube catalão, em outubro do ano passado. “Estarei aqui até que meu corpo e minha mente tenham algo a dar”, disse na ocasião. Pois essa autocrítica veio logo. No evento do comunicado oficial — prestigiado por colegas de time e familiares —, enxugando as lágrimas, afirmou estar sendo honesto consigo e com o Barça. “Eu não me perdoaria por viver uma situação de desconforto no clube que me deu tudo.”

Essa previsão de que não vai render como antes é para depois da Copa do Mundo. Na Rússia, com 34 anos (nascido em Fuentealbilla, em 11 de maio de 1984), Iniesta servirá sua última safra especial. Suas recentes atuações nos amistosos contra Alemanha (1 a 1) e Argentina (6 a 1) foram muito elogiadas. O técnico da Espanha, Julen Lopetegui, classificou o jogador como indiscutível e muito motivado para a missão de buscar o bicampeonato.

Em 2010, seu arremate de perna direita, aos onze minutos do segundo tempo da prorrogação, garantiu o título da “fúria” na final contra a Holanda. Além do mundial, Iniesta foi relevante nos dois triunfos continentais da Espanha, em 2008 e 2012. Nas três ocasiões, também se destacaram o goleiro Casillas, o zagueiro Sergio Ramos, o meia Xavi e o atacante Fernando Torres, mas hoje há consenso sobre quem é o craque dessa geração. E que só não levou um prêmio de melhor jogador do mundo por ser contemporâneo de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.

“Entre as grandes ausências nos ganhadores da Bola de Ouro, a dele é dolorosa para nós”, assumiu, no editorial “Perdão, Andrés”, o diretor da revista France Football, Pascal Ferré. A publicação celebra o jogador do ano no futebol europeu desde 1956 — entre 2010 e 2015, unificada com o prêmio mundial da Fifa. O pedido de desculpas traz uma boa definição da obra de Iniesta. “Seu talento é inventar outros talentos. Um fanático altruísmo que certamente o privou de um reconhecimento mais majestoso.”

Esse altruísmo se comprova em números. São 167 assistências — passes decisivos para o companheiro fazer o gol — na carreira contra setenta gols. Por sua excelência na função de meio-campista, Iniesta é eleito ininterruptamente pela Fifa para a seleção do mundo desde 2009. A partir de 2019, deverá se ausentar da lista. Os holofotes estão na Europa, centro em que não jogará mais para garantir que não enfrente seu Barcelona. Sorte dos japoneses, que deverão vê-lo pelas três próximas temporadas defendendo o Vissel Kobe.

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