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Fifa só afastou Del Nero após ser acusada de protegê-lo pelos EUA

Presidente afastado da CBF foi um forte cabo eleitoral de Gianni Infantino na América do Sul. Mas mandatário da Fifa não quis ser acusado de cumplicidade

Por Estadão Conteúdo |

A Fifa só suspendeu Marco Polo del Nero, presidente afastado da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), depois que ganhou força a tese entre os investigadores de Nova York de que a entidade que regula o futebol estava protegendo o brasileiro, um dos principais cabos eleitorais do presidente Gianni Infantino na América do Sul. O temor da Fifa era ser acusada de cumplicidade. Por isso, afastou temporariamente o dirigente no final de 2017 como um sinal de que não estava sendo conivente com a gestão do futebol brasileiro.

Del Nero foi afastado em dezembro até 15 de março. Sua suspensão pode ser ampliada por mais 45 dias, se a Fifa precisar de mais tempo para completar sua investigação interna. Fontes próximas à investigação nos EUA que a condenação de José Maria Marin e outros cartolas não significa que o inquérito esteja concluído.

Na semana que vem, Jeff Webb, ex-vice-presidente da Fifa, deverá conhecer sua sentença. Mas um novo acordo foi estabelecido para que ele colabore por mais seis meses com o inquérito. De forma paralela, o FBI continua investigando a corrupção na entidade máxima do futebol.

A estimativa dos técnicos é de que os documentos confiscados e os indícios podem levar a Justiça americana a conduzir pelo menos mais cinco anos de investigações, em especial sobre tentativas de pessoas dentro da Fifa em abafar escândalos ou suspeitas.

Por dois anos e meio, a entidade com sede em Zurique não tomou qualquer medida contra Del Nero, mesmo depois de ele ser indiciado nos EUA. A situação do brasileiro acabou sendo exposta pelos relatos de testemunhas que apontaram em dezembro, na Corte do Brooklyn, como Del Nero teria recebido e pedido propinas. Ele nega.

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Diálogos no tribunal

Segundo advogados implicados no caso, o que mais preocupou a equipe de defesa da Fifa foi o fato de Del Nero continuar impune no Comitê de Ética da entidade, apesar de todo o conhecimento sobre as suspeitas de desvio de 6,5 milhões de dólares (cerca de 21,2 milhões de reais).

O risco ficou ainda mais claro depois da tentativa dos advogados de José Maria Marin de usar a falta de ação da Fifa para apontar um esquema de proteção a Del Nero. Ao tentar convencer a Corte do Brooklyn a permitir que a defesa de Marin pudesse questionar uma das testemunhas sobre o papel de Del Nero, os advogados indicaram para a juíza Pamela Chan que “queriam argumentar sobre a aparente determinação da Fifa de não banir Del Nero e que a Fifa não levava suas regras a sério”.

O diálogo ocorreu entre os advogados e a juíza sem que o júri pudesse escutar. A defesa de Marin e a promotoria foram chamadas para perto de Chan para que o tema fosse discutido. Ela sugeriu que, sem a presença do júri, os advogados de Marin pudessem interrogar Stephanie Maenni, vice-diretora legal da Fifa, sobre como a entidade lidou com o caso de Del Nero. Poucos dias depois, a Fifa agiu e afastou o presidente da CBF temporariamente.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino já sabia dos problemas que a presença de Del Nero na CBF poderia gerar. Numa reunião em 2017 em Zurique com um dos vice-presidentes da CBF, Fernando Sarney, ele deixou claro que a direção do futebol brasileiro não poderia continuar com Del Nero e que a questão precisaria ser “resolvida”.

No início de dezembro de 2017 em Moscou, antes de Marin ser condenado, Infantino deixou claro que o tribunal “reconheceu a Fifa como vítima” de alguns cartolas e que a entidade foi usada para “benefícios particulares”. Ele também insistiu que era necessário “fazer uma distinção entre o passado e o futuro”. “No passado, houve um ecossistema especial sobre a gestão”, admitiu. Segundo ele, as coisas que foram reveladas em Nova York “não podem mais ocorrer”.

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