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Em nova acusação de assédio sexual, Neymar compra briga com a Nike

A mais nova bomba explodiu, direto da redação do ‘Wall Street Journal’, no último dia 28

Por Alexandre Senechal |
SORRISO AMARELO - Neymar cobriu o logo da Nike com emojis: na sequência, baixou o tom -

SORRISO AMARELO - Neymar cobriu o logo da Nike com emojis: na sequência, baixou o tom –


SORRISO AMARELO - Neymar cobriu o logo da Nike com emojis: na sequência, baixou o tom – Reprodução/Instagram

Poucos esportistas tiveram de lidar tão cedo com o protagonismo. Aos 13 anos, quando já dava entrevistas como herdeiro de Pelé no Santos, Neymar assinou seu primeiro contrato com a Nike, gigante americano que em 1997 entrara de vez para o mercado da bola ao firmar com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) uma das parcerias mais longevas e vitoriosas do esporte. Vestindo as multicoloridas chuteiras da marca, Neymar foi correspondendo às expectativas. Mal saiu da adolescência, já era a principal estrela da seleção brasileira, posto que jamais deixou. Aos 29 anos, no entanto, o calçado mudou, tal qual sua imagem perante a opinião pública. Saiu o menino ousado e alegre para a entrada de um adulto mimado e irresponsável.

Neymar mal havia se apresentado na Granja Comary, quartel-general da seleção em Teresópolis, no Rio de Janeiro, quando a mais nova bomba explodiu, direto da redação do Wall Street Journal, no último dia 28. A notícia apontava como motivo para o surpreendente rompimento do astro do PSG com a Nike, em 2020, uma denúncia de assédio sexual feita por uma funcionária da empresa. O crime teria ocorrido em 2 de junho de 2016, em um hotel de Nova York. Empregados da Nike no Brasil foram pegos totalmente desprevenidos, assim como o pai e empresário do atacante, Neymar da Silva Santos, que repousava em sua mansão, em Mangaratiba (RJ). No calor do momento, o patriarca prometeu retaliações. “Vai ser uma briga grande, pode ter certeza, e é dessas que a gente gosta”, desabafou a VEJA. Neymar pai alega que desavenças sobre a qualidade das chuteiras, que seriam a causa das lesões do filho, e atraso de remunerações foram as razões do litígio.

Neymar também partiu para o ataque. “Não me deram a oportunidade de me defender”, disse o jogador, que parece ter vocação para encrencas. Em 2019, às vésperas de outra Copa América, surgiu o caso Najila Trindade, modelo que o acusou de estupro, em processo que acabaria arquivado. “Por ironia do destino, continuarei a estampar no meu peito uma marca que me traiu”, completou Neymar, ciente do fato de que seguirá vestindo Nike no PSG e na seleção. Veio então o passo mais arriscado. No Instagram, cutucou o antigo patrocinador ao cobrir o logo em uma foto, na camisa e no calção, com emojis. Evidentemente, não pegou bem. A CBF, cuja receita de 365 milhões de reais anuais de patrocínio vem, em grande parte, da Nike, tratou de blindar o ambiente. As entrevistas coletivas foram canceladas e os protagonistas sumiram.

REBELDIA – Johan Cruyff, o gênio holandês, ousou arrancar uma das três faixas da Adidas do uniforme em 1974: eram outros tempos – ./Getty Images

Neymar não foi o primeiro a desafiar um gigante do ramo. Na Copa de 1974, Johan Cruyff bateu de frente com a Adidas, então fornecedora da Holanda. O craque, patrocinado pela Puma, se recusou a fazer “propaganda de graça” e usar as três faixas da marca rival. A solução encontrada pelo jogador foi remover uma das tiras — hoje em dia, isso certamente levaria a punições. Em 2006, também na Alemanha, acuado pelas críticas sobre sua forma física às vésperas do Mundial, Ronaldo deixou um amistoso reclamando das bolhas causadas pela chuteira desenvolvida pela Nike especialmente para ele e lançada com estardalhaço. O climão foi grande, mas acabaria contornado, ao contrário do mau futebol do Brasil. Sobre a última de Neymar, a Nike foi extremamente cautelosa. Em comunicado, a empresa relatou ter tomado conhecimento da denúncia em 2018 e aberto investigação um ano depois. “A investigação foi inconclusiva. Seria inapropriado fazer uma declaração acusatória sem oferecer fatos que a suportem”, informou. “A Nike encerrou a relação com o atleta porque ele se recusou a cooperar na investigação.”

Passada a revolta inicial, Neymar e sua trupe mudaram de estratégia. Seguem negando a falta de colaboração e se ancorando no caso Najila, do qual o craque foi absolvido, mas em tom mais ameno. “Não há provas, processo, nada. O assunto está encerrado”, diz o empresário Wagner Ribeiro, amigo da família. A Nike, que pretende renovar com a CBF, não fala mais sobre o assunto, assim como a Puma, que espera não ter de fazer uso da cláusula que lhe permite romper o acordo se um fato comprovado prejudicar a imagem ou a reputação de seu garoto-­propaganda. A operação abafa ganhou uma mãozinha e tanto: a bola fora da própria CBF, que, em tabelinha com o governo Bolsonaro e com a Conmebol, decidiu sediar a Copa América. Neymar estará em campo, com sua nova chuteira que traz a seguinte mensagem: “Tudo passa”. Ele deve ser referir às polêmicas, mas talvez o que esteja passando mesmo seja sua oportunidade de se consagrar como um grande ídolo.

Publicado em VEJA de 9 de junho de 2021, edição nº 2741

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