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Chapecoense: a tragédia virou drama

Um ano após o acidente com o voo do time na Colômbia, a extraordinária comoção que envolveu o mundo deu lugar à briga das famílias pela indenização

Por Alexandre Senechal |

“Aquela diretoria cuidadosa que eu conhecia desapareceu” – Há um ano, Ilaídes Padilha, a mãe do goleiro Danilo, incorporou uma missão, a do ombro materno afeito a confortar os que sofrem com a perda de um filho, motivada pela tragédia do voo LMI2933. De certo modo, ela ocupou um espaço subtraído pela frieza oficial dos cartolas da Chapecoense. “Aquela diretoria cuidadosa que eu conhecia desapareceu.” Ilaídes ganhou notoriedade depois do abraço oferecido a um repórter do canal SporTV, cuja imagem correu o mundo. No interior paranaense, a cena despertou a curiosidade de outras famílias. “Elas queriam conhecer aquela mãe forte, queriam saber por que não chorava nas reportagens”, diz. Ilaídes percebeu que sua postura altiva impactava pessoas que nem conhecia. Por isso, montou um grupo de apoio para mães em situação semelhante à sua. “As pessoas se fecham dentro de casa, entram em depressão. Ofereço ajuda para que encontrem uma nova forma de viver.” Ilaídes deixou o emprego burocrático numa rádio de Cianorte para se dedicar ao grupo e a outros projetos, como a produção do filme Goleiro, que vai contar a história de Danilo e dela própria, e deve ser lançado em 2018.

No rastilho da tragédia de 29 de novembro do ano passado, a comoção espalhou-se em ondas por todo o mundo. A hashtag #ForçaChape e suas variantes passaram a ser reproduzidas nas redes sociais, em manchetes de jornais, em faixas, em camisas, em luminosos projetados em monumentos históricos. A queda do avião da companhia boliviana LaMia na região montanhosa perto do Aeroporto Internacional de Medellín, na Colômbia, matou 71 pessoas, entre jogadores e comissão técnica da Chapecoense, jornalistas e tripulação. Houve apenas seis sobreviventes. Em poucas horas, um clube pequeno da cidade catarinense de Chapecó, que voava para a sua primeira final internacional, a da Copa Sul-Americana, ganhou notoriedade que jamais conquistara, e do modo mais estúpido possível. Os cinco dias entre o acidente e o funeral coletivo pareciam reproduzir uma frase do colombiano Gabriel García Márquez: “O amor se torna maior e mais nobre na calamidade”. Na cerimônia realizada no mesmíssimo local e horário em que deveria acontecer a partida contra o Atlético Nacional, o então ministro brasileiro das Relações Exteriores, José Serra, resumiu de modo genuíno e bonito o sentimento predominante: “Neste momento de tristeza para as famílias e para todos nós, as expressões de solidariedade que encontramos nos oferecem um grau de consolo imenso, uma luz na escuridão, quando estamos todos tentando compreender o incompreensível”.

Exato um ano depois, quando todos ainda tentam compreender o incom­preen­sível, a tragédia virou drama, e aquele amor que parecia não caber em si virou outra coisa. O choro se traduz em reclamação. A solidariedade agora é desconforto. O consolo deu lugar a uma nítida sensação de injustiça. #ForçaChape é apenas uma fotografia na parede, um post no Facebook esmaecido pelo tempo. Até a terça-feira 21, a Chapecoense já havia sido acionada judicialmente em quinze processos trabalhistas movidos por parentes de jogadores e funcionários do clube. Outras sete ações cíveis foram abertas pelas famílias de jornalistas que estavam a bordo da aeronave. As indenizações podem superar a casa de 1 bilhão de reais, considerando o valor do salário das pessoas embarcadas, a expectativa de vida de cada um e os danos morais provocados pelo desastre. Esse montante em ressarcimentos equivaleria à inviabilização da Chapecoense, que inapelavelmente teria de fechar as portas. “Faremos todo o possível para agilizar o andamento das ações”, garante o atual presidente da Chapecoense, Plínio David De Nes Filho. “Esperamos dar o que merecem por justiça.”

Reportagem de VEJA mostra como está o caso um ano depois do acidente e ouve depoimentos de quatro familiares: a mãe do goleiro Danilo, o pai do zagueiro Filipe Machado e as viúvas do meia Cleber Santana e do atacante Kempes.

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