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Uma Copa do Mundo com cara de Olimpíada

Curtas distâncias entre estádios, transporte público gratuito e diversas torcidas confraternizando pelas ruas contribuem para uma boa primeira impressão

Por Luiz Castro |
Torcedores de diversos países se no entorno do Estádio Al Bayt

Torcedores de diversos países se no entorno do Estádio Al Bayt

DOHA – Muito se falou, e não era para menos, sobre os problemas de a Copa do Mundo de 2022 ter sido levada pata o Catar. O primeiro país árabe a receber o maior evento de futebol do planeta teve sua candidatura cercada por suspeitas de compra de voto, graves violações aos direitos humanos na construção dos estádios, entre outros inconvenientes menores, como o fato de ser jogada no fim do ano, ainda sob forte calor, e de o governo ter vetado o consumo de cerveja em suas moderníssimas arenas pouco antes de a bola rolar. No entanto, as primeiras impressões da festa que acabou de começar, com vitória do Equador sobre o anfitrião Catar no estádio Al Bayt, neste domingo, 20, foram positivas e fizeram lembrar outro megaevento: as Olimpíadas.

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A razão é simples. Depois de sediar dois Mundiais em países com dimensões continentais — Brasil e Rússia, onde o transporte de uma sede para outra, como Natal a Porto Alegre, por exemplo, poderia se tornar uma verdadeira epopeia entre aeroportos e estradas — desta vez a Fifa decidiu colocar as 32 seleções participantes e seus respectivos fanáticos num espaço menor do que o estado de Sergipe. Tudo com transporte público gratuito. Parece maluquice, e talvez venha mesmo a ser, caso um número excessivo de riquíssimos fãs desembarque pelo suntuoso aeroporto internacional de Hamad, em Doha, nos próximos dias. Mas até o momento o que se viu foi uma bela e “olímpica” confraternização.

Enquanto em Copas geralmente cada sede recebe, simultaneamente, não mais que quatro seleções, desta vez todas estão na grande Doha – não há uma “vila olímpica”, mas é tudo pertinho, dos hotéis aos CTs. O Brasil treina literalmente ao lado da Sérvia, sua adversária da estreia, dia 24. A maior distância entre estádios é de menos de 70 km, do Al-Wakrah ao Al-Bayt. É menos do que a distância de São Paulo a Santos. Na primeira fase deste ano, a seleção brasileira “viajará” apenas 50 quilômetros, enquanto na Copa da Rússia o time percorreu mais de 1.500 quilômetros nos três primeiros jogos. 

Até mesmo a cerimônia de abertura foi mais tecnológica e caprichada que a das últimas de Copas (não comparável a uma de Olimpíada, claro).O Catar é uma nação jovem, independente desde 1971, cuja população de 2,7 milhões de habitantes é formada por mais de 80% de imigrantes. Para entrar no país durante o Mundial, os turistas precisam de um cartão Hayya, um documento devidamente analisado e aprovado pela Fifa e pelo governo local. Com ele, é possível utilizar as três luxuosas linhas de metrô gratuitamente (normalmente, o bilhete unitário custa 2 riais cataris, equivalente a 3 reais).

Cinco dos oito estádios da Copa possuem estações de metrô próximas. Uma das exceções era justamente o estádio Al Bayt, o da abertura, localizado no deserto de Al Khor, a 50 km da capital. Neste caso, porém, os torcedores podiam pegar o metrô até a estação de Lusail, palco da finalíssima, e de lá tomar mais um ônibus para o palco da festa.  Antes da partida, os equatorianos já demonstravam otimismo. “Sí, se puede”, cantavam pelas ruas do Souk Wakif, o histórica mercado de Doha, onde confraternizavam especialmente com argentinos, brasileiros e mexicanos.

Torcedores brasileiros no mercado de Souk Wakif

No aeroporto, foi possível ver neste domingo um considerável número de galeses, a maioria idosos, animados em assistir o País de Gales de volta ao Mundial após 64 anos. “A cidade ainda está vazia, vai encher nos próximos dias”, disse um taxista do Nepal, que vive há 16 anos em Doha e contou que torceria pela Argentina — a preferência pelos albicelestes, especialmente por causa da adoração por Lionel Messi, parece ser uma tendência.

O primeiro passeio por Doha e suas largas avenidas provoca sentimentos contraditórios. Enquanto locais como o Museu Nacional, projetado pelo arquiteto francês Jean Nouvel, com formas inspiradas na rosa do deserto, deixam qualquer visitante embasbacado, há uma série de outras enormes obras que soam artificial, sem sentido. Para ou para o mal, será uma Copa bastante diferente. Receber tanta gente em tão pouco espaço talvez seja um desafio maior do que convencer ingleses, alemães e companhia a abrir mão da cervejinha no estádio. Em tempo: na Fan Fest, único local onde a bebida alcoólica é vendida, o copo de 500 ml sai por 14 dólares (cerca de 75 reais).

Museu Nacional do Catar: a imponência da rosa do deserto

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