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Corintiano, cônsul cita Tevez e quer bandeiras do Peru para Guerrero

Eduardo Pérez Del Solar assumiu o cargo de cônsul geral adjunto do Peru em São Paulo em 1de junho de 2009. Exatamente um mês depois, estava no Pacaembu para assistir a um jogo do Corinthians. Era a final da Copa do Brasil, contra o Internacional, clube de coração das duas filhas gaúchas do diplomata (sua […]

Por Da Redação |
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Eduardo Pérez Del Solar assumiu o cargo de cônsul geral adjunto do Peru em São Paulo em 1de junho de 2009. Exatamente um mês depois, estava no Pacaembu para assistir a um jogo do Corinthians. Era a final da Copa do Brasil, contra o Internacional, clube de coração das duas filhas gaúchas do diplomata (sua ex-esposa é brasileira). Bastaram 45 minutos de caminhada ao redor do estádio municipal para o compatriota do centroavante José Paolo Guerrero, o substituto de Liedson na equipe de Tite, tornar-se corintiano.

‘Fui ao Pacaembu com a intenção de torcer pelo Inter naquela decisão, mas mudei de ideia rapidamente por causa da força da torcida do Corinthians. Nunca tinha visto um ambiente esportivo como aquele, com tanta gente e tanta emoção. As pessoas corriam, cantavam e pulavam. Era uma festa, algo espetacular, diferente do que acontece no Peru. Como não encontrava o portão de entrada certo, dei duas voltas no estádio e fui contagiado pelos torcedores. O Corinthians ainda ganhou por 2 a 1, com um gol do Ronaldo’, lembrou Pérez Del Solar, sorridente. ‘No segundo jogo da final, eu já era corintiano.’. Foi o goleador da última Copa América. E há uma característica que ele mesmo ressalta em suas entrevistas: a garra, a vontade de vencer a todo o custo. Isso é importante. Estive pensando… Os últimos atletas estrangeiros que obtiveram êxito no Brasil eram assim. Tevez e Loco Abreu também tinham essa personalidade forte’, comparou.

De fato, Guerrero ganhou fama internacional como um jogador brigador, assim como fez Tevez por Boca Juniors, Corinthians, West Ham, Manchester United e Manchester City. O próprio candidato a suceder Carlitos e ascender como novo ídolo corintiano se definiu como ‘temperamental’. Já atirou uma garrafa d’água no rosto de um torcedor alemão, em abril de 2010, após sair vaiado de uma derrota do Hamburgo. Aplicou um carrinho desleal em um goleiro do Stuttgart em outro arroubo de irritação. Dentro de aeronaves, costuma ficar ainda mais nervoso. O medo de avião já o impediu de disputar algumas partidas por seus ex-clubes

Sergio Barzaghi/Gazeta Press

Consulado faz convite a Guerrero

Os diplomatas do Peru acreditam que a presença do atacante José Paolo Guerrero no Corinthians fortalece ainda mais as relações entre o País andino e o Brasil. Por isso, Eduardo Pérez Del Solar, cônsul geral adjunto peruano em São Paulo, já encarregou a sua secretária de formalizar um convite ao jogador.

‘Ela vai ligar para a gerência do Corinthians e desejar boa sorte ao Guerrero. Além disso, queremos que ele venha prestigiar a segunda Copa Peru de futsal, destinada à comunidade peruana em São Paulo. São 10 times em disputa em uma quadra no centro da cidade, em uma zona onde os imigrantes peruanos costumam trabalhar. A final do torneio será no sábado de 28 de julho. Em 5 de agosto, faremos uma festa de premiação. Seria ideal contar com o Guerrero em uma dessas datas’, afirmou Pérez Del Solar.

O evento é uma oportunidade para o centroavante interagir com compatriotas que residem em São Paulo. ‘Mas ele não terá nenhum problema de adaptação. É um adulto, profissional, já com a experiência de ter morado em outras grandes cidades. São Paulo tem tudo. A comida é maravilhosa. Se sentir falta da peruana, há excelentes restaurantes típicos. O idioma português também é muito fácil de entender. Ele só vai precisar evitar o trânsito paulistano, que é complicado’, comentou o cônsul.

O meio-campista Cachito Ramírez, que também atua no Corinthians, já havia alertado Guerrero sobre o trânsito de São Paulo. O primeiro peruano que chegou ao elenco comandado por Tite está em baixa atualmente. ‘Mas Ramírez já fez bons jogos. Marcou um gol importantíssimo para a conquista do título brasileiro de 2011, contra o Ceará, entre outros golaços. Jogadores vivem fases boas e ruins. É assim com todos eles. Mesmo assim, Ramírez é um ‘muchacho’ bem correto, bom de bola’, elogiou Pérez Del Solar.

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‘Mas o Guerrero já está mais maduro’, acalmou Pérez Del Solar, elogiando a falta de diplomacia do atacante dentro de campo. ‘Além de ser técnico e veloz, ter classe e bom posicionamento, saber jogar com as duas pernas e cabecear bem, ele se empenha demais. Seu diferencial é justamente a personalidade. O torcedor do Corinthians admira isso. Ele vai ganhar a torcida com certeza. Afinal, está recebendo seus salários para brigar pelo time em campo. É preciso suar até o final!’, cobrou o recente torcedor corintiano.

Se Guerrero justificar os elogios, certamente seus fãs em São Paulo não se restringirão aos funcionários do Consulado do Peru. Tevez, quando se destacou no Corinthians, conseguiu fazer até com que corintianos dos mais patriotas levassem camisas e bandeiras argentinas para os estádios. ‘Ficaria encantado se acontecesse o mesmo agora, com bandeiras peruanas. Seria um gesto muito bonito, maravilhoso’, vislumbra Pérez Del Solar. Ao seu lado, Fernando Alvarez Gamboa, o conselheiro do cônsul geral adjunto, colocou Cachito Ramírez na discussão e fez uma ressalva: ‘Que coisa linda seria ver as bandeiras do Peru, não? Mas isso vai depender do desempenho dos nossos dois jogadores’.

Não faltará torcida para Guerrero vingar no Brasil. O Corinthians praticamente dobrou a sua quantidade de seguidores com a contratação do atacante do Peru – segundo Pérez Del Solar, o clube já pode contabilizar os quase 30 milhões de habitantes de seu País como corintianos. ‘A partir de agora, somos todos torcedores do Corinthians!’, vibrou. Os jornais peruanos, inclusive, têm dado amplo destaque ao novo time de Guerrero. Alvarez Gamboa acrescentou: ‘O Campeonato Brasileiro já era acompanhado no Peru antes de Ramírez e Guerrero irem para o Corinthians. As pessoas só não entendem o sistema de disputa, até porque muda demais e há Brasileirão, Copa do Brasil, Estadual… Mas elas sabem da rivalidade das grandes equipes, de Fla-Flu, Corinthians contra Palmeiras, Grêmio contra Inter e outros. No nosso caso, fica muito concentrado em Alianza Lima e Universitario’.

Os dois diplomatas peruanos em São Paulo são torcedores do Universitario. Movido pelo antigo sentimento pelo clube de Lima (e também pelo novo em relação ao Corinthians), Pérez Del Solar se deslocou ao Morumbi para apoiar La U contra o São Paulo nas oitavas de final da Copa Libertadores da América de 2010. ‘Infelizmente, perdemos nos pênaltis. Mas foi bom para rever La U! O Ramírez estava defendendo o Universitario naquela partida, antes de vir jogar no Corinthians’, observou. Alvarez Gamboa não gosta tanto do passado do segundo atleta corintiano do Peru: ‘O Guerrero era do Alianza Lima, nosso grande rival, mas uma equipe bastante popular no meu País’.

Antes mesmo de Guerrero deixar o Alianza Lima para trás, passar pelo futebol alemão e finalmente chegar ao Corinthians, Fernando Alvarez Gamboa era um dos peruanos que nutriam simpatia por outro time brasileiro. ‘Desde pequeno, gosto muito do Flamengo. Sabe por quê? Vi o Zico jogar, e ele era fantástico. Guardo até uma foto em que apareço, com 10 anos de idade, vestido com toda a indumentária do Fla’, contou, embora propenso a virar casaca. ‘Devo ser sincero: a torcida do Corinthians tem algo especial, um sentimento a mais. Não sou fanático pelo Flamengo. Como estou há pouco tempo no Brasil, ainda posso criar simpatia por uma equipe diferente. O Corinthians também foi campeão da Libertadores há pouco tempo , tem uma grande equipe…’, disse. ‘E agora um excelente centroavante: Guerrero!’, complementou Pérez Del Solar.

Alvarez Gamboa partilha da empolgação de seu colega. Para ele, os peruanos trarão lucro ao Brasil – e especialmente ao Corinthians. ‘Você pode ter certeza de que a camisa 9 corintiana, com o nome do Guerrero nas costas, será muito vendida no Peru. Como deu para perceber, o futebol brasileiro é admirado no nosso País. Sempre nos espelhamos na escola do Brasil, no seu estilo tradicional de jogar. Até tivemos técnicos brasileiros que se destacaram e levaram o Peru a Copas do Mundo’. Elba de Pádua Lima (em 1982), o Tim, e Paulo Autuori (entre 2003 e 2005), por exemplo, já comandaram a seleção peruana.Desta vez, ao contrário, é o Brasil que importa profissionais do Peru. ‘Acho importante associar a nossa imagem a uma grande equipe brasileira através de dois cavalheiros, bons jogadores. Mas a relação entre Peru e Brasil vai bem além dos esportes’, minimizou Pérez Del Solar, sem se deixar levar pelo aspecto comercial. O Corinthians já havia apostado em um atleta estrangeiro, o atacante Chen Zizao, apenas para explorar o ascendente mercado chinês. ‘Temos que ser realistas. Existe a possibilidade de o clube vender suas camisas no Peru, claro, mas não podemos nos comparar à China. Certamente, Guerrero venderá mais em São Paulo.’

De qualquer forma, as relações entre Brasil e Peru ficaram mais fortalecidas. A prova apareceu no final da visita da GE.Net ao Consulado do País andino em São Paulo. ‘Vou buscar camisas da seleção do Peru para posarmos para fotos. Elas haviam sido compradas às pressas para um evento com o ex-presidente Lula e terão utilidade agora. Mas seria melhor uma foto com o uniforme do Corinthians, não? Não tenho o meu aqui… Espere um minuto’, disse Eduardo Pérez Del Solar e saiu. Pouco depois, o cônsul geral adjunto retornou à sala de reuniões do local com um garoto trajado com a camisa corintiana. ‘É meu amigo’, explicou. Só faltou o número 9 e o nome de Guerrero impressos nas costas da vestimenta.

Diplomata peruano recorda polêmica da Copa do Mundo de 1978

Fernando Alvarez Gamboa, conselheiro do cônsul geral adjunto do Peru em São Paulo, estendeu seus palpites sobre futebol à Copa do Mundo de 1978. O torneio vencido pela Argentina (pela primeira vez) é controverso em virtude da goleada por 6 a 0 aplicada sobre os peruanos. O resultado eliminou o Brasil, que ficou com a terceira colocação apesar de sua campanha invicta.

‘É pouco o que posso dizer, pois tinha só 8 anos na época. Mas, pelo que conheço do caso, dizem que foi um ‘acordo’ entre os governos de Peru e Argentina de então (eram governos militares), que alguns jogadores peruanos atuaram mal ‘de propósito’ (suborno), que ‘estranhamente’ muitos titulares do Peru não disputaram essa partida, etc. Também escutei, da boca dos próprios jogadores da época, que vários deles não estavam muito inteirados sobre os temas políticos de então. O que parece ser verdade é que o Mundial serviu para o governo argentino ocultar a crise que vivia e as violações aos direitos humanos que cometeu. Também é verdade que o Peru tinha uma boa seleção naquela época, e não era possível haver seis gols de diferença entre os dois times. Mas não há prova concreta de suborno de jogadores. Tudo isso é a minha opinião como amante de futebol’, relatou Alvarez Gamboa.

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