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A jogada mais ousada de Ronaldo, o dono da bola no país

Como o ex-craque se tornou a figura mais influente do futebol brasileiro – e como ele encara o risco de arranhar sua imagem na Copa do Mundo de 2014

Por Giancarlo Lepiani |
Veja.com

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Mais do que apenas emprestar ao COL seu nome e sua experiência como atleta de quatro Copas do Mundo, Ronaldo tem ocupado a linha de frente na promoção do evento e na defesa de obras bilionárias bancadas com dinheiro público para 2014. Está pisando num campo minado

O apelido que acompanhou o maior artilheiro da história das Copas do Mundo em sua trajetória como jogador é perfeito para descrever Ronaldo Luís Nazário de Lima, de 36 anos, em sua nova carreira. Afinal, o que o ex-craque conseguiu realizar em apenas dois anos, desde que pendurou as chuteiras, é simplesmente fenomenal. São poucos os ex-atletas de primeiro escalão que conseguem repetir em sua nova profissão o sucesso conquistado nos campos, pistas ou quadras. Mais raros ainda são os que superam rapidamente o trauma da aposentadoria precoce e encontram um novo rumo sem muita hesitação. Ronaldo foi além: hoje, é a figura mais influente do futebol brasileiro, o homem-forte do Mundial de 2014 e um provável candidato à presidência da CBF ou do Comitê Organizador Local (COL) da Copa. Graças ao seu carisma, popularidade e uma surpreendente habilidade para farejar bons negócios, Ronaldo arrebanhou clientes de peso, ampliou sua rede de contatos e acumulou poder. É sócio de uma das principais agências de marketing esportivo do país, a 9ine. Com bom trânsito entre políticos das mais variadas vertentes, é um dos garotos-propaganda das ações do governo federal para o Mundial. No comitê da Copa, é o rosto mais conhecido e o interlocutor preferido de Joseph Blatter e Jérôme Valcke. Por fim, desde a semana passada, encabeça o time de comentaristas da TV Globo, parceira da Fifa na promoção do evento – foi escalado para estrelar as transmissões da Copa das Confederações deste ano e, claro, do Mundial do ano que vem. Desde que acertou seu contrato com a emissora, Ronaldo vem sendo criticado por outros comentaristas – agora seus colegas de profissão – em função da tentativa de conciliar atividades aparentemente conflitantes (e da resistência em abrir mão de qualquer uma delas). Ele usará o microfone mais poderoso do país para criticar seus próprios parceiros comerciais, como Neymar? Caso o Mundial seja um fiasco, ele será capaz de afirmar, ao vivo na tela da Globo, que o comitê organizador que ele próprio integra fracassou?

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Um dos últimos superastros do esporte no Brasil, Ronaldo tem pouquíssimo a ganhar e muito a perder com seu envolvimento com a Copa do Mundo de 2014. O dinheiro, por exemplo, há muito deixou de ser uma prioridade. O patrimônio acumulado durante a carreira de jogador, estimado em um bilhão de reais, é a garantia de uma vida de conforto e luxo aos seus quatro filhos (Ronald, Maria Sofia, Maria Alice e Alex) e gerações de futuros descendentes. Conservador em seus investimentos – nesta semana, revelou que poupa 80% de tudo o que ganhou e investe apenas 20% na 9ine e em outros negócios -, Ronaldo lembra que está “com a vida ganha” e que, portanto, não precisa usar sua influência em benefício financeiro próprio. De fato, é difícil imaginar que o ex-craque recorreria a expedientes nebulosos para conseguir um novo cliente ou fechar um novo contrato – simplesmente porque ele não precisa de dinheiro e nunca foi um sujeito ganancioso. Como qualquer superatleta, porém, Ronaldo tem um temperamento muito competitivo e sente prazer em vencer desafios. É justamente assim que ele encara a condução dos negócios da 9ine. O trabalho na agência foi tão satisfatório para Ronaldo que a traumática aposentadoria como jogador, anunciada em 2011, foi superada num prazo relativamente curto. A empresa, portanto, precisa seguir crescendo para manter o principal sócio sorrindo. E as oportunidades de negócio apresentadas pela Copa são intermináveis e tentadoras. Uma das primeiras suspeitas em torno da atuação de Ronaldo nos bastidores da organização do evento foi a vitória da Marfinite na disputa para fornecer as cadeiras da Arena Fonte Nova, estádio erguido com dinheiro público, em Salvador. A empresa foi escolhida mesmo não tendo a certificação obrigatória do Inmetro, responsável pelas normas técnicas que devem ser seguidas no país. Meses antes, a empresa havia fechado um contrato com a 9ine – com participação direta do ex-craque nas negociações. Ronaldo negou ter influenciado na escolha da Marfinite pelos baianos. Os clientes de Ronaldo deverão fabricar os assentos de mais um estádio do Mundial: o Itaquerão, futura casa do Corinthians, último clube da carreira do jogador. Andrés Sanchez, ex-presidente corintiano que virou amigo e grande aliado do ex-craque, é o principal responsável pela condução da obra.

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Ronaldo também garante que apresentará opiniões francas e independentes em relação aos problemas de organização do Mundial – que, segundo ele, serão devidamente diagnosticados e criticados em seus comentários na Globo. Nesse caso, contudo, fica mais difícil confiar no que promete o ídolo. Até agora, a atuação de Ronaldo como integrante do COL decepcionou, já que ele se limitou a vestir a camisa do evento: evitou reconhecer qualquer falha e, pior, atacou quem desconfia do sucesso do torneio. No início deste ano, no lançamento do cartaz oficial do evento, chegou a pedir publicamente que os jornalistas deixassem de lado a cobertura crítica dos preparativos para a Copa. Estava irritado com as repetidas perguntas sobre o descumprimento dos prazos e as dúvidas sobre a qualidade dos novos estádios. “Este é o momento de todos se unirem, inclusive a imprensa. O povo brasileiro não está preocupado com atraso nas obras. O povo brasileiro precisa de alegria”, discursou, adotando tom similar ao dos textos das peças publicitárias do governo federal em que aparece ao lado de Pelé, prometendo “a melhor Copa de todos os tempos”. Angariar a simpatia e a confiança do torcedor e dissipar as incógnitas que cercam a organização do Mundial foram as missões atribuídas a Ronaldo quando Ricardo Teixeira, atolado até o pescoço em denúncias, alistou o ex-craque para entrar no comitê e melhorar a imagem do Mundial. Teixeira já caiu, a Copa está chegando e muitos dos temores dos brasileiros sobre 2014 (como a gastança de dinheiro público e os atrasos nas obras) já se confirmaram. Tratar desses problemas de forma clara e aberta e contribuir para melhorar nosso futebol – seja como representante do COL, seja como comentarista – pode ser o gol mais marcante da trajetória de Ronaldo.

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Na publicidade

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No governo

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No comitê da Copa

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Na tela da Globo

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