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As previsões (certeiras ou não) de PLACAR em anos de Copa do Mundo

Eleições populares, dicas a Parreira, Zagallo e companhia, e análise do momento de nossos craques marcaram edições pré-Mundial nas últimas décadas

Capas de PLACAR em 1998 e 2006
Capas de PLACAR em 1998 e 2006

Já é ano de Copa do Mundo. Ainda que o fato de o Mundial no Catar começar apenas em novembro arrefeça um pouco o clima de empolgação neste início de 2022, o torcedor já começa a se preparar para o maior evento do futebol e a debater o que o técnico Tite precisa fazer para guiar a seleção brasileira ao hexacampeonato. Ao longo de seus 51 anos de história, PLACAR cobriu 13 Copas e sempre viveu os meses que antecederam a festa com um misto de otimismo e ceticismo. Em alguns casos, foi impossível driblar a euforia diante da qualidade dos craques da seleção, mas muitas vezes a revista acertou ao apontar defeitos que poderiam custar caro.

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Relembre algumas edições marcantes das últimas Copas:

Romário: uma ausência presente em 2002

Os meses que antecederam o torneio na Coreia do Sul e no Japão, o último conquistado pelo Brasil, tiveram dois craques como destaque: Ronaldo e Romário. Ainda em abril de 2001, PLACAR realizou uma de suas tradicionais eleições populares, que apontaram que a dupla Rô-Rô deveria ser titular na Ásia. “Um tem 35 anos. O outro não joga há um ano. Mesmo assim, o povo quer os dois na seleção”, estampou a revista, cuja seleção ideal era formada por Rogério Ceni, Cafu, Lúcio, Roque Júnior e César; Emerson, Vampeta, Juninho, Rivaldo, Ronaldo e Romário. Na época, o Fenômeno se preparava para voltar a atuar pela Inter de Milão após uma temporada inteira se recuperando de uma grave lesão no joelho.

Time do Povo em 2001
Time do Povo em 2001

Já às vésperas da Copa do Mundo, porém, estava mais claro que Romário não fazia parte dos planos de Felipão. E até mesmo a torcida havia abandonado o Baixinho: “A torcida não quer mais Romário”, cravou a PLACAR de abril de 2002. Na época, o editor Arnaldo Ribeiro defendeu por que também abriria mão do camisa 11, que “virou mito muito mais pelas suas ausências do que pela sua presença”:

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Cara, você deveria ser eternamente grato ao Romário pelo título de 1994.” Quantas vezes, eu ouvi essa frase… Não dá para aguentar, mas também não há como discordar. Romário pode não ter vencido a Copa “sozinho”, como Maradona fez em 1986, pela Argentina, mas é inegável que ele desequilibrou, que ele decidiu, que ele trouxe o tetracampeonato. Mas eu prefiro construir a frase de abertura de uma outra maneira: “Cara, Romário deveria ser eternamente grato ao Mundial de 1994 pelo que aconteceu desde então na sua carreira.”
(…) 
Meu Deus! Quem disse que Romário faria o Brasil vencer duas Olimpíadas e uma Copa? “Olha, em 1994 ele decidiu.” Pois é. Mas faz oito anos, caramba!
Para a imagem do Romário, veio muito a “calhar” ” bem entre aspas, mesmo ” as contusões e as birras com treinadores que o afastaram das últimas competições importantes da Seleção. A reputação dele ficou intacta e a tese do “se ele estivesse lá…” se reforçou. Ele esteve lá na Olimpíada de 1988 e na Copa de 1990 e nem por isso o Brasil foi campeão.

Sem Romário, e com Ronaldo plenamente recuperado, o Brasil conquistou o penta ao bater a Alemanha por 2 a 0, em Yokohama. O Fenômeno foi o artilheiro daquele Mundial, com oito gols.

Em 2001, todos queriam Romário e Ronaldo; um ano depois, o Baixinho perdeu moral
Em 2001, todos queriam Romário e Ronaldo; um ano depois, o Baixinho perdeu moral

Desconfiança em 1994? Não em PLACAR

Em 1994, a seleção que conquistaria o tetra nos Estados Unidos, encerrando um jejum que já durava 24 anos, patinou nas Eliminatórias, o que gerou duras críticas ao time dirigido por Carlos Alberto Parreira, mas conforme eternizado nas páginas de PLACAR, a seleção chegou ao Mundial sob forte otimismo da torcida. A edição de abril daquele ano destacou uma pesquisa em parceria com o Ibope, no qual 1.500 entrevistados das regiões metropolitanas de Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Salvador, Recife apontaram o Brasil como favorito ao título e montaram uma “seleção do povo” bem próxima à que ergueria o troféu no estádio Rose Bowl, em Pasadena, diante da Itália.

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Em 1994, PLACAR elegeu a seleção do torcedor em eleição popular
Em 1994, PLACAR elegeu a seleção do torcedor em eleição popular

O time ideal da torcida tinha apenas três mudanças em relação ao que Parreira vinha escalando: entraram Zetti, Cafu e Palhinha, três atletas do São Paulo, então bicampeão mundial, nas vagas de Taffarel, Jorginho e Dunga. Curiosamente, entre os atacantes, Ronaldo, então uma revelação de 17 anos do Cruzeiro, aparecia apenas em 10º, atrás de nomes como Renato Gaúcho, Edmundo e Evair, mas acabaria sendo chamado.

Pesquisa apontava Brasil como grande favorito
Pesquisa apontava Brasil como grande favorito

O otimismo dos entrevistados era grande: 67% apostavam no tetra que se concretizaria. A Alemanha, atual campeã, vinha em seguida com 16% e a Itália de Roberto Baggio tinha os mesmos 4% da Argentina.

As profecias de 2006

Antes da Copa da Alemanha, PLACAR estampou duas de suas previsões mais certeiras, ainda que desagradáveis. Nadando contra a maré, que apontava a seleção brasileira repleta de craques como favorita absoluta ao hexa em 2006, a revista apontou problemas graves daquela equipe. A edição de maio destacou o chamado “Quadrado Mágico”, formado por Kaká, Ronaldinho, Adriano e Ronaldo. “Eles não podem jogar juntos”, foi a chamada que contrariou o senso comum e os planos de Parreira.

“Os mais românticos vão ficar desapontados. Os amantes do futebol esbravejarão. Mas não deve durar muito a coqueluche do quadrado mágico na Seleção Brasileira. Não na Copa do Mundo” avisaram Arnaldo Ribeiro e Maurício Barros, que assinam a matéria que ouviu atletas e jornalistas brasileiros e estrangeiros. Os gringos foram quase unânimes ao dizer que preferiam enfrentar um Brasil mais talentoso, porém menos protegido na defesa. “Acho que a possibilidade de vencer o Brasil aumenta. O time fica mais exposto e facilita o contra-ataque”, opinou o zagueiro uruguaio Diego Lugano, então no São Paulo.

Parreira dizia que topava correr o risco: “É a velha história do cobertor curto, não tem jeito. Que fica um jogo mais aberto é uma obviedade”. A reportagem destacava, dentre vários aspectos, de que o melhor momento daquela seleção não foi com o quadrado original, mas com a presença de Robinho na vaga de Ronaldo, no título da Copa das Confederações de 2005. “Kaká e Robinho marcavam, dando liberdade para Ronaldinho Gaúcho”, dizia a análise tática.

Em fevereiro daquele ano, outra capa apontou fragilidades daquele timaço. “A má fase desse trio ameaça o hexa”, dizia a manchete destacando os momentos dos veteranos Roberto Carlos, Dida e Cafu. “A soma de todos os medos é a combinação da irregularidade de Dida, adicionada ao declínio físico de Cafu, e à letargia de Roberto carlos na lateral esquerda do Real Madrid. Três pontos-chave na engrenagem da máquina de Carlos Alberto Parreira e que, como um motor cansado, precisam de uma boa recauchutada para voltar a funcionar com eficiência”, dizia a reportagem de Lédio Carmona.

Capas
Capas “proféticas” em 2006

Mas havia também espaço para reverência aos craques daquela equipe. Ronaldinho, eleito pela Fifa o melhor jogador do mundo em 2004 e 2005, vivia o auge de sua carreira no Barcelona. Ronaldo, o herói da Copa anterior e em busca do recorde que acabaria batendo de 15 gols em Copas do Mundo, superando o alemão Gerd Müller, estamparam respectivamente as capas de junho e abril. A dupla, porém, não brilhou na Alemanha, o quadrado foi realmente desfeito e os veteranos da defesa falharam na eliminação diante da França de Zinedine Zidane, nas quartas de final.

Capas de 2006 também exaltaram os Ronaldos
Capas de 2006 também exaltaram os Ronaldos

Otimismo pelo penta na França

Ronaldo e Djorkaeff na edição de junho de 1998
Ronaldo e Djorkaeff na edição de junho de 1998

Em 1998, PLACAR sonhou alto com o título. A edição de janeiro trazia Denílson na capa com a chamada “O ano do penta”. Em abril, a revista trouxe entrevistas com Roberto Carlos, que sonhava em fazer o gol do título, e com o técnico Zagallo. O “Velho Lobo” ainda testava quem poderia ser o substituto de Juninho, lesionado gravemente pouco antes do Mundial, quando atuava pelo Atlético de Madri. “Lamento muito o que ocorreu, pois o Juninho é um meia diferente dos outros. É mignon e elétrico.”

Em uma época pré-redes sociais, uma das dores de cabeça do técnico era o carteado. Zagallo respaldou a decisão do auxiliar Zico de controlar o baralho dos atletas na concentração e disse que apostas estavam terminantemente vetadas. “É inconcebível, dentro de uma Copa do Mundo, um querer tirar dinheiro do outro.”

Em mais uma capa bastante recordada, a última antes do torneio, de junho de 1998, estampou Ronaldo (então chamando de Ronaldinho) na capa ao lado de Youri Djorkaeff, seu companheiro na Inter de Milão e uma das estrelas da seleção francesa. “A Copa de Ronaldinho” era a chamada da edição. O camisa 9 acabou, de fato, sendo eleito pela Fifa como o craque do torneio, mas ficou marcado pela convulsão que o afetou horas antes da decisão na derrota para a França de Djorkaeff (e de Zidane) por 3 a 0, em Paris.

Capas do primeiro semestre de 1998: otimismo pelo penta
Capas do primeiro semestre de 1998: otimismo pelo penta

O time de Dunga vencia sem convencer

Já em 2010, o clima era de ceticismo em relação à seleção dirigida por Dunga apesar dos resultados acachapantes até então (o Brasil venceu a Copa América de 2007, a Copa das Confederações de 2009 e nadou de braçada nas Eliminatórias). Em fevereiro daquele ano, PLACAR ressaltava que, contra a vontade de Dunga e da CBF, Ronaldinho Gaúcho, em boa fase no Milan, pedia passagem na equipe e poderia levar Ronaldo e Roberto Carlos, então no Corinthians “na carona”. Nenhum dos três acabou convencendo o técnico.

Já a edição de maio acertou em cheio ao tratar do “Risco kaká”, citando os problemas físicos que atormentavam o camisa 10 do time. Na África do Sul, o desgaste foi notado e o craque do Milan não brilhou. O Brasil acabou eliminado pela Holanda, nas quartas de final.

Clima em 2010 também era de ceticismo
Clima em 2010 também era de ceticismo

 

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