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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

Bate-volta — dia 19: podia ser pior?

Atordoado com derrota do Brasil, cronista usa Máquina do Tempo para retroceder e evitar desastre, mas vai parar na eliminação mais precoce da Seleção

Já sei: estão com aquela sensação de ‘bola murcha’ no peito, querendo que o dia acabe logo, que passem rapidamente alguns outros, que a Copa acabe… Compreendo e conheço muito bem, queridos leitores e queridas leitoras de 1966, os desejos, incômodos e pensamentos que tomam a todos hoje e sempre que a Seleção Brasileira é desclassificada de uma Copa do Mundo, como ontem, aqui na Inglaterra, onde o Escrete Nacional, Bicampeão do Mundo, foi derrotado por Portugal (3 x 1) e por isso está voltando pra casa ainda na Primeira Fase. Não vai servir de consolo a ninguém, mas revelo que sou um Viajante do Futuro, vindo de 2022, e parti em minha Máquina do Tempo minutos após nova eliminação do Brasil em um Mundial, que se realizará no Catar, isso mesmo, no Catar, Oriente Médio – e não venham perguntar o porquê, pois estou de pavio curto. Menos mal que, até lá, já seremos Penta (cinco títulos!), mas nem por isso vai ser menos chato. Perder nunca é bom. Mais ainda em uma Copa. E ontem começamos a sentir o que será a pedra no sapato do Escrete Canarinho no Século 21: seleções europeias.

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Atenderá pelo nome de Croácia – país ainda a florescer no Velho Continente (fruto de uma futura dissolução da Iugoslávia) – o algoz de daqui a 56 anos, e se tornará assim o quinto selecionado europeu a interromper a jornada brasileira rumo ao título em competições seguidas. A sina, ou ‘karma’, se iniciará em 2006 (em derrota para a França) e vai prosseguir em 2010 (pra Holanda), 2014 (Alemanha) e 2018 (Bélgica). Nenhuma delas, sinto informar, de forma mais precoce que a decepção causada ontem pelos portugueses. Daí ter escolhido vir até aqui, tomado pela tristeza no futuro. Uma tentativa de responder à pergunta que me incomodava após a derrota em 2022: “Podia ser pior?”

Descobri que não. Só estando entre vocês, nessa ‘meiúca’ dos anos 60, consegui entender que o sentimento mais forte entre os brasileiros hoje é de INDIGNAÇÃO, tamanha foi a violência usada pelos nossos patrícios, a ponto de terem mandado o ‘Rei’ para o vestiário mais cedo, após tantas traulitadas que levou. A derrota de 2022, adianto, também terá seus pequenos detalhes, mas nada que desabone a conquista dos nossos futuros oponentes pelas quartas-de-final no Catar. Mesmo assim, confesso nesta resenha que, num último ato de desespero, joguei a ética pra escanteio e programei a Máquina do Tempo com as coordenadas de 30 minutos antes do apito final. Sim, seria meu ‘bate-volta’ mais curto e eficiente. Bastava esta meia hora pra chegar ao estádio da disputa e alertar a equipe brasileira, que então estará empatando ou já vencendo por 1 x 0 (a Máquina não é tão precisa assim), para que não perdesse o foco nos 15 minutos finais, e evitasse o empate croata, levando à disputa por pênaltis. O ‘Plano Perfeito’!

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Desembarquei no ‘Cidade da Educação’ – será o nome do estádio, e não venham perguntar o porquê, pois estou de pavio curto, já disse – em posição minuciosamente calculada e privilegiada, atrás da ‘casamata’ onde estavam reservas e comissão técnica do time. E para onde se
dirigiram os jogadores brasileiros em campo para aquela aguinha do intervalo, já na prorrogação, 1 x 0 pra nós. Era a minha hora! Gritei como um condenado: “Vamos segurar a bola no ataque!”; “Atenção com os contra-ataques dos ‘caras’!”; “Casemiro, Fred, não passem do meio-campo!”. Apesar da insistência e do esforço, fui obviamente ignorado, como sempre, restando-me o conforto de uma piscadela sorridente de um futuro atacante, Vinícius Jr., que me fitou como quem acha graça de mais algum doido torcedor brasileiro.

Vieram os pênaltis e, deu pra perceber, após o empate croata alguns poucos no elenco me buscaram em seus campos de visão,
visivelmente intrigados com o que parecera ser uma profecia do ‘torcedor maluco’. Não joguei a toalha: “Tite! Ôôô… Tite! Bota um jogador ‘cascudo’ pra bater a primeira penalidade!’; “Neymar! Ôôô… Neymar! Bate logo você, cara, bate você!”; e por fim: “Não, o Marquinhos não! Bota outro pra bater!” Mas não deu. Ou melhor, não vai dar. Perderemos após desperdiçar duas cobranças e ‘bye-bye’ Catar… Não podia ser pior.

Se ontem temos, nós brasileiros, todos os motivos para justificar a derrota com a brutalidade e o anti-jogo portugueses, no futuro desenvolveremos no país uma patologia de sempre buscar algum culpado ‘estranho’ para nossos fracassos em Copas. Até um ‘meião’ arriado será levado ao banco dos réus, junto com “conspirações internacionais” de entrega de resultados e por aí vai… Teremos uma dificuldade danada de simplesmente aceitar que perdemos. E que “perder é do jogo”, mesmo quando a gente não acha justo que seja. Aposto que voltarei ao futuro e encontrarei um ou vários ‘culpados’, entre eles, inclusive, pasmem, um tal de ‘bife folheado a ouro’ – e mais uma vez peço: não venham perguntar o porquê, pois estou de pavio curto. Sobre a derrota para Portugal, não farei comentários por, sendo honesto, sequer ter assistido direito – reflexo do estado de letargia pós derrota em 2022. Encerro informando a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1966, que retornarei ao Meu Tempo em dia de jogo da seleção portuguesa pelas quartas-de-final do futuro Mundial. E decidi que ao desembarcar já serei “Marrocos desde criancinha”. Afinal, estaremos vivendo a ‘Copa da Inclusão’ e a conquista de um país africano cairia como ‘uma meia’ para sacralizar o evento. E, além do mais, preciso de algum sonho para continuar a torcer. Vai, Marrocos!

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PARA VER ‘CANAL 100’ COM OS MELHORES MOMENTOS DO JOGO

FICHA TÉCNICA
PORTUGAL 3 x 1 BRASIL

Competição: Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra (Primeira Fase – Grupo 3)
Data: 19 de julho de 1966
Horário: 19h30 (local)
Local: Goodison Park, em Liverpool (ING)
Público: 58.479 espectadores
Árbitro: McCabe (Inglaterra)

PORTUGAL: José Pereira; Morais, Batista, Vicente e Hilário; Jaime Graça e Coluna; José Augusto, Eusébio, Torres e Simões
Técnico: Otto Glória

BRASIL: Manga; Fidélis, Brito, Orlando e Rildo; Denílson e Lima; Jairzinho, Silva, Pelé e Paraná
Técnico: Vicente Feola

Gols: Primeiro Tempo: Simões, aos 15’; Euzébio, aos 27’; Segundo
Tempo: Rildo, aos 25’; Euzébio, aos 40’

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