Vem aí a Copa monocromática – e com tradições rompidas
Argentina e Alemanha todas de branco, Espanha só de vermelho… Por causa de uma regra altamente questionável da Fifa, empresas alteram trajes históricos
Na “superquarta” de amistosos internacionais, na semana passada, o torcedor menos atento pode ter encontrado dificuldades para achar a partida entre Argentina e Romênia enquanto zapeava entre os canais que exibiam os jogos entre seleções classificadas à Copa do Mundo. O time de Lionel Messi estava quase irreconhecível em Bucareste – e não só pelo futebol pobre exibido no empate sem gols. Os argentinos estrearam seu uniforme para o Mundial, com camisa, calção e meias brancas, e listras em azul celeste em degradê perto da cintura. À distância, as faixas azuis quase não apareciam. E a Argentina, que construiu toda a sua reputação em Copas com calções pretos e listras muito mais destacadas, não lembrava mais a seleção de Kempes, Passarella, Maradona e Batistuta. Na Copa do Mundo de 2014, várias outras seleções terão essa mesma crise de identidade. Por causa das normas da Fifa sobre as cores usadas pelas equipes, vários países serão representados por uniformes jamais vistos antes. Será o Mundial das seleções monocromáticas, aposentando algumas combinações clássicas que fizeram a história do torneio.
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A vigésima Copa do Mundo reunirá todas as ex-campeãs, além das principais forças europeias e sul-americanas. Tanta tradição, porém, não se refletirá no visual dos jogadores. Curiosamente, não houve alteração alguma nas regras dos uniformes para a Copa no Brasil. Desde o Mundial da Alemanha-2006, a receita da Fifa é a mesma: as seleções não podem entrar em campo com nenhuma parte de uniforme cuja cor coincida com a do adversário, mesmo que seja uma peça diferente. Se o Brasil enfrenta a França, por exemplo, o calção azul da seleção pentacampeã (de tom claro) não pode ser usado se os franceses estiverem de camisa azul (de tom bem mais escuro). Como as improvisações tornaram-se cada vez mais frequentes – ver o Brasil jogando de calção branco tornou-se algo corriqueiro -, a Adidas, líder do mercado de material esportivo e parceira comercial da Fifa há décadas, decidiu mudar os uniformes de suas seleções, antecipando-se à necessidade de mexer nas combinações. Foi assim que a Argentina ficou toda de branco.
O mesmo acontecerá com outro uniforme icônico, o da tricampeã Alemanha, que também deve jogar toda de branco. Já a Espanha, que costumava usar calção azul, ganhou um uniforme inteiro vermelho. A Nike, arquirrival da empresa alemã, preservou as combinações tradicionais na maioria das seleções que patrocina, como Brasil, Holanda, França e Inglaterra. Portugal, porém, não virá ao Brasil com seu velho calção verde – a equipe de Cristiano Ronaldo também jogará toda de vermelho. O torcedor deve se preparar, porém, para ver também os holandeses usando só laranja, os franceses só de azul e os ingleses só de branco, ainda que a insistência da Fifa na necessidade de diferenciar ao máximo as equipes seja cada vez menos justificável. Afinal, ninguém mais acompanha a Copa em telões com imagem desbotada e minúsculas TVs preto e branco. Na era das transmissões digitais em alta definição (e até em 3D), o torcedor merecia ver a imagem cristalina de craques como Messi, Cristiano, Özil e Xavi em suas vestimentas mais tradicionais, nas cores usadas por seus antecessores nos Mundiais do passado. Mas terá de se contentar com novidades que não empolgam ninguém.